Plano SP: empresários criticam falta de previsibilidade; fechamento poderia ser mais organizado?

O governo de São Paulo anunciou uma reclassificação mais restrita de atividades, que começará a partir da próxima segunda-feira (25)

Giovanna Sutto Mariana Fonseca

Bar com bebidas em estoque (Sander Dalhuisen/Pexels)

SÃO PAULO – Estabelecimentos não essenciais, como bares e restaurantes, veem falta de previsibilidade e relatam dificuldades para manter empregos e estoques devido às mudanças constantes no Plano São Paulo.

O programa que flexibiliza ou restringe atividades foi imposto pelo governo do estado desde o início da pandemia, para coordenar o combate ao avanço do contágio pela Covid-19. Nesta sexta-feira (22), o governo de São Paulo anunciou uma reclassificação que começará a partir da próxima segunda-feira (25).

Os dias da semana funcionarão conforme a classificação de cada região (como a Fase Laranja na Grande São Paulo), mas das 20h às 6h todas as cidades estarão obrigatoriamente na Fase Vermelha. Todos os municípios do estado também entram na Fase Vermelha nos próximos dois fins de semana (30 e 31 de janeiro, 06 e 07 de fevereiro).

A reclassificação atual vem após diversas atualizações nas regras de funcionamento de estabelecimentos não essenciais. São Paulo também teve negócios não essenciais fechados com pouco aviso prévio durante as festas de final de ano. No dia 22 de dezembro, o governo de São Paulo anunciou medidas mais restritivas para o estado no período do Natal (25, 26 e 27 de dezembro) e do Ano Novo (1, 2 e 3 de janeiro). Bares restaurantes e outros comércios não essenciais ficaram de portas fechadas.

Empreendedores: empregos e estoques perdidos

Donos de bares e restaurantes se pronunciaram quanto à nova restrição de atividades na capital paulista. Houve um protesto pela manhã contra o fechamento dos estabelecimentos na noite dos dias úteis e nos finais de semana. De acordo com o portal G1, o ato começou por volta das 9h no Morumbi, onde também fica o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual. O setor alega “dificuldade de manter os empregos durante a pandemia e o prejuízo com o descarte de alimentos perdidos”, diz o portal.

A chef Janaína Rueda (Bar da Dona Onça) escreveu em uma postagem no Instagram, para convocação ao protesto: “Precisamos de ajuda, cadê o Pronampe? Cadê as suspensão [sic] de contratos? Cadê ajuda de Isenção de taxas? Impostos? Fechar aos sábados e domingos? Seguimos protocolos de segurança, com certeza as festas clandestinas, as praias, vão bombar nos finais de semana né? Afinal, ninguém estará nos seus postos de trabalho. Acorda! Não faz sentido isso!”.

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O chef Edrey Momo (Padaria da Esquina, Taberna da Esquina, Tasca, Taka Daru) também se manifestou na rede social. Em post sobre o ato, escreveu: “[…] Sabemos que a curva de contágios de coronavírus cresceu novamente em todo Brasil e que os sistemas de saúde públicos e privados podem entrar em colapso. Porém sabemos também que uma forma eficaz de contenção da curva é o distanciamento social, o uso de máscara e a higienização reforçada. Depois de quase um ano de restrições os Brasileiros não aguentam mais ficar isolados e estão se encontrando, sem seguir os protocolos estabelecidos e se colocando em situações de risco! Somos disseminadores dos protocolos de segurança com nossos Fornecedores, Colaboradores, Clientes, Vizinhos. Mantemos 6 milhões de empregos. Pagamos bilhões de impostos e fechados só vamos aumentar a inadimplência.”

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Gabriel Fullen, dono das três unidades do restaurante japonês Oguru Sushi&Bar, afirma que as recorrentes atualizações do Plano SP atrapalham o planejamento do estoque e das finanças dos seus restaurantes.

“O planejamento de compras e estoque é feito mediante o histórico de faturamento e de público e mediante algumas projeções. Então, quando essas notícias são comunicadas muito perto da data que de fato vai acontecer a restrição, elas trazem prejuízo porque furam nosso planejamento prévio. Recebemos os produtos semanalmente, para trabalhar com os produtos frescos, e essas imprevisibilidades atrapalham muito os processos”, diz.

“Como foi no fim do ano: o aviso de que não poderíamos abrir depois do Natal e do Ano Novo veio só no dia 22 e deu um impacto muito grande no nosso fluxo de caixa. Eram dois finais de semana – quando temos mais movimento. Tudo já estava fechado com os fornecedores”, completou Fullen.

Entidades de empresários se posicionam

O setor de alimentação fora do lar está fazendo de tudo para enxugar os custos desde que a pandemia começou, afirma Percival Maricato, presidente do conselho estadual da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel/SP).

“Os empresários já cortaram funcionários; reduziram despesas de água, luz e gás; e também enxugaram o estoque ao máximo. Mesmo assim, muitos estabelecimentos fecharam e outros fizeram empréstimos. Empresários estão com dívidas, alguns inclusive deixaram de pagar. Se as restrições durarem mais três ou quatro meses, vai sobrar pouco estabelecimento aberto.”

O presidente do conselho estadual da Abrasel diz que há uma falta de organização por parte do governo de São Paulo para anunciar fechamentos e medidas mais restritivas para o comércio. “Com restrições anunciadas em tão pouco tempo, a operação é complexa”, afirma Maricato.

“Não recebemos aviso prévio de nenhuma decisão. Ficamos sabendo de tudo na mesma hora que toda a população”, afirma Maricato. “O único foco é o contágio da Covid-19. Não está errado focar na vida, é realmente o mais importante. Mas não é a única coisa. Os restaurantes estão fechando. Não tem como administrar as idas e vindas de restrição tão em cima da hora.”

O presidente do conselho estadual da Abrasel lembra que muitos empresários tiveram prejuízos no final do ano. “Foram duas sextas, sábados e domingos que já estavam com estoque planejado. São dias de movimento significativo para o setor. O governo informou no dia 22. Muita comida foi jogada fora, não teve o que fazer”, diz.

Governo de SP: “Escolha em prol da vida”

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A piora da pandemia no estado preocupa o governo de São Paulo. As novas atualização do Plano São Paulo acontecem em um momento de alta de casos, internações e mortes – indicadores que condicionam a piora ou melhora da situação imposta pelo Plano SP.

João Gabbardo, coordenador executivo do centro de Contingência do Covid-19, afirmou que o estado de São Paulo tem um óbito a cada seis minutos hoje. “O tempo que demorarmos para tomar as medidas necessárias significa mais mortes nessa velocidade. Os setores vão ter interrupções mais uma vez, mas é uma escolha que tivemos que fazer em prol da vida”, disse Gabbardo na coletiva desta sexta-feira (22).

Jean Gorinchteyn, secretário estadual de Saúde, acrescentou que a elevação nos índices de contágio exige a adoção de medidas mais restritivas. “Para se ter uma ideia, atingimos em um período de 45 dias as mesmas cifras que atingimos em cinco meses, de março a agosto. Isso mostra uma dinâmica da pandemia mais intensa”, afirmou.

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O que comércios não essenciais podem fazer?

Diante do avanço da pandemia do novo coronavírus no estado de São Paulo, fica difícil esperar que as restrições às atividades não essenciais desapareçam logo. Então, como os comércios não essenciais podem se preparar diante de contextos incertos?

O Sebrae organizou uma série de conteúdos sobre como os negócios podem reagir ao novo coronavírus, de acordo com seu segmento de atuação.

Bares e restaurantes devem aderir ao sistema de delivery, mas com estruturação da logística e dos esforços de comunicação, marketing digital e vendas. Outras preocupações devem ser negociar custos fixos (como aluguéis e funcionários) e encontrar fornecedores que trabalhem com entregas bem planejadas, garantindo qualidade e segurança dos alimentos.

Maricato, da Abrasel, afirma justamente que parte dos empresários está se adaptando para administrar melhor o volume o estoque. “A imprevisibilidade atrapalha até o empresário mais bem preparado. A alternativa é trabalhar com estoque mais baixo, para tentar evitar esse tipo de problema de desperdício. O estoque é dinheiro, com ou sem pandemia.”

Fullen, dono do Oguru Sushi&Bar, lembra que o bom relacionamento com os fornecedores foi o que impediu a perda de alimentos já adquiridos. “Eles seguraram as entregas, mas tivemos que pagar pelos pedidos mesmo assim. Então, o prejuízo aconteceu do mesmo jeito, porque compramos antes de precisar de fato”, justifica o empresário.

Para beleza e moda, outros setores afetados pelas restrições aos comércios não essenciais, o Sebrae também vê a necessidade de negociar custos fixos e investir na digitalização. Salões de beleza podem trabalhar canais online para divulgar a venda antecipada de serviços, a serem feitos com vantagens aos consumidores quando as restrições forem aliviadas.

Já quem comercializa produtos como acessórios, cosméticos ou roupas pode vender por um e-commerce próprio. Quem prefere começar pequeno no comércio eletrônico pode investir em redes sociais, como o Instagram, ou participar de marketplaces (plataformas que reúnem diversas marcas e centralizam o atendimento ao cliente).

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.