Pix e pandemia: como esses eventos devem mudar a indústria de meios de pagamento

Pix e pandemia colocaram em xeque o uso de outros meios tradicionais como boleto, TED, DOC e cartões de crédito

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – O ano de 2020 foi marcado por dois eventos que sacudiram a indústria de meios de pagamento. Primeiro, a pandemia acelerou a utilização de algumas tecnologias já disponíveis. Depois, a chegada do Pix — o sistema de pagamentos do Banco Central que realiza transações instantâneas — colocou em xeque o uso de outros meios tradicionais como boleto, TED, DOC e cartões de crédito.

O futuro dos meios de pagamento é tema de vídeo da série Do Zero ao Futuro — criada pelo podcast Do Zero ao Topo — para falar sobre tendências e o futuro dos negócios. Assista o vídeo acima ou clique aqui.

O avanço do QR Code

As compras não presenciais aumentaram 30% até setembro deste ano e os pagamentos por aproximação tiveram um crescimento de quase 480%, segundo dados da Abecs, associação que representa o setor de meios de pagamento.

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Nesse aumento das compras à distância, um método um tanto quanto antigo que se popularizou nessa pandemia foi o QR Code. A aposta de especialistas é que ele deve crescer ainda mais com o desenvolvimento do Pix. Isso porque o Pix permite que um estabelecimento emita um QR Code ao invés de um boleto, por exemplo, para que o cliente pague a compra.

O Pix simplifica a complexa estrutura de pagamentos brasileira — reduzindo o número de intermediários e as taxas cobradas em comparação com uma transações bancárias tradicionais.

Substituição do dinheiro

Mas isso significa que o Pix vai acabar com toda essa cadeia de pagamentos do dia pra noite? A resposta, não é tão simples. O Banco Central tem defendido que a principal função do Pix neste primeiro momento vai ser substituir o papel moeda.

Isso é o que especialistas acreditam que pode acontecer mais rapidamente. O grande empecilho para essa mudança é a falta de acesso de muitos brasileiros a uma conta bancária — já que todo mundo que quiser utilizar o Pix vai precisar ter conta . O país ainda tem hoje cerca de treze milhões de habitantes maiores de 14 anos sem qualquer tipo de vínculo com um banco, segundo os últimos números do Banco Central.

Substituição de TEDs e DOCs

O passo seguinte na evolução do Pix poderia ser a substituição de TEDs e DOCs. A agência de classificação de risco Moodys estima que os bancos podem perder até 8% de sua receita de taxas com o avanço do sistema de pagamentos instantâneos.

Para se ter uma ideia do impacto que isso deve ter, o banco americano Morgan Stanley estima que as instituições brasileiras faturaram R$ 2,2 bilhões com TEDs e Docs e mais R$ 5 bilhões com a emissão de boletos em 2019.

“Apesar do impacto nas receitas, os bancos também vão ter a chance de ajustar as suas despesas. As receitas de serviços sempre tiveram relação com os custos e isso pode ser ajustado com o fechamento de agências, por exemplo”, afirma Edson Santos, especialista no setor de pagamentos e co-autor do livro Payments 4.0.

Substituição dos cartões e das maquininhas

Uma terceira fase do Pix poderia ser a substituição do cartão de débito e de todo o sistema das maquininhas de pagamento. A consultoria Roland Berger prevê que o Pix pode diminuir em até 63% a receita que os adquirentes, os donos das maquininhas de cartões, tem hoje com suas operações.

Em uma visão mais conservadora, a consultoria Oliver Wyman estima que tanto o Pix quanto o cartão de débito representem 22% das transações eletrônicas no Brasil em 2030.

“O Pix, se tudo der muito certo, ele vai ser um meio de pagamento como qualquer outro. Não achamos que vamos deixar de ter operações com cartão de crédito e outros meios de pagamento”, afirmou Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, durante o evento Melhores Empresas da Bolsa 2020, do InfoMoney.

Para que o Pix avance além disso e realmente substitua o cartão, vai ser necessário que as empresas invistam para trazer uma boa experiência na utilização do Pix ao usuário final, sem muitos atritos, e que traga vantagens em relação ao uso dos cartões.

Isso porque hoje o cartão de crédito e débito já é um hábito na vida das pessoas, seja a utilização física ou por meio de uma carteira digital. É diferente, por exemplo, do que aconteceu na China, onde o cartão nunca pegou e o dinheiro em papel foi substituído diretamente por pagamentos pelo celular.

Vale ressaltar aqui também que o Pix por enquanto ainda não permite a utilização de pagamentos via crédito, esse lançamento deve acontecer só mais para frente. “Eu não acredito que o cartão de crédito nos próximos anos está ameaçado […]. O consumidor vai continuar usando o cartão e o lojista vai ter que aceitar porque é a forma como o cliente vai querer pagar”, afirma Santos.

A corrida dos pagamentos

Diversas instituições brasileiras estão numa busca para desenvolver o ecossistema ao redor do Pix, melhorar a experiência do usuário e fidelizar o cliente. Mas, como isso ainda deve levar tempo para acontecer, vai dar a chance aí para que adquirentes, processadores e bandeiras de cartão se reinventem ao longo dos próximos anos. Com isso, dentre de alguns anos a maquininha física pode até desaparecer, mas as empresas desse setor, não devem sumir do mapa.

Quem também está avançando na oferta de serviços financeiros e deve avançar ainda mais com o Pix são companhias de varejo. Essas empresas correm para construir cada uma o seu ecossistema de pagamentos e serviços bancários para fidelizar consumidores.