Perdeu a alta de 90% da Petrobras? Veja a ação cujo “rali eleitoral” apenas começou

Enquanto estatais e bancos ganharam entre 50% e 90% de valor de mercado desde março, os papéis da Cosan começam a disparar nas últimas semanas em meio ao "efeito Marina"

Rodrigo Tolotti

Publicidade

SÃO PAULO – Desde a metade de março, a bolsa brasileira vem vivenciando um movimento apelidado de “rali eleitoral”, com as ações mostrando alta à medida que as pesquisas eleitorais começaram a apresentar uma possível mudança de cenário na corrida presidencial. Neste período, as ações mais “sensíveis” foram as estatais – Petrobras (PETR3; PETR4) Eletrobras (ELET3; ELET6) e Banco do Brasil (BBAS3) – e os bancos privados Itaú Unibanco (ITUB4) e Bradesco (BBDC4), que acumularam ganhos entre 50% e 90%. Cinco meses após o início da disparada, uma nova candidata a se valorizar na Bolsa com a corrida eleitoral começa a aparecer e alguns investidores acreditam que seu rali pode estar apenas começando.

Trata-se da Cosan (CSAN3), empresa do setor sucroalcooleiro e cujas ações subiram cerca de 15% nos 8 pregões entre os dias 14 de agosto (dia que a ação teve seu menor fechamento desde abril) e a última terça-feira (26), quando fechou cotada a R$ 42,12, chegando a atingir R$ 42,94 na máxima do dia -seu maior patamar desde 26 de novembro de 2013. E a explicação para isso está justamente na entrada de Marina Silva na corrida presidencial – a candidata se tornou a nova candidata do PSB, substituindo Eduardo Campos, que faleceu em um trágico acidente aéreo no dia 13 de agosto.

O tal rali eleitoral iniciado em março reflete o “pedido” do mercado por mudanças na forma de atuação do governo, que tem se mostrado muito intervencionista em importantes setores da economia. Logo, uma piora na avaliação ou nas intenções de voto da presidente Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas tende a puxar o Ibovespa para cima – e vice-versa. Com as últimas pesquisas mostrando uma disparada de Marina – o Ibope divulgado na última terça-feira mostrou que a candidata do PSB ganharia da petista por 9 pontos percentuais em um eventual segundo turno -, a Cosan começou a ganhar forças na Bovespa. O motivo? O discurso da sustentabilidade.

Continua depois da publicidade

A gestora de recursos da Coinvalores Corretora, Tatiane Cruz, esclarece que a alta dos papéis se deu por uma reação tardia do mercado ao “rali eleitoral”, já que os candidatos à presidência estão se aproximando cada vez mais do agronegócio. De acordo com a gestora, Marina Silva, que no último Ibope conseguiu fazer com que suas intenções de voto fossem acima das de Dilma para o segundo turno, possui uma agenda muito forte no ramo de sustentabilidade e, como o etanol é um tipo de combustível mais sustentável que a gasolina, isto pode indicar que o mercado está atento a um aumento de incentivo do etanol. Logo, estariam se antecipando a esse estímulo se posicionando em papéis da Cosan.

“O mercado estava um pouco esquecido da Cosan, e neste cenário de rali eleitoral, a companhia pode começar a se beneficiar das razões que impulsionaram a Petrobras por exemplo”, complementa o gestor da Ujay Capital, Antonio Bueno. Para ele, este pode ser o início de um rali mais forte de uma companhia que “ficou para trás”, já que desde março a Petrobras viu suas ações preferenciais subirem praticamente 90%, enquanto que no mesmo período os papéis da Cosan subiram 32%.

Outro sinalizador importante que beneficiou o setor de etanol e biocombustíveis foi um possível aumento no preço da gasolina nas refinarias, que pode subir entre 5,5% e 6% após as eleições de outubro, já que isto poderia incentivar o consumo de outro tipo de energia, como o etanol. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, inclusive falou no início deste mês que, como todos os anos, o preço da gasolina deverá subir, mas negou a possibilidade de um “tarifaço” no preço do combustível em outubro.

Como tudo começou
Uma das queridinhas de grandes gestores de recursos, a Cosan começou sua trajetória com a exportação de açúcar, tendo todo seu mercado voltado para este mercado, mas já em 2008 adquiriu os ativos da ExxonMobil no Brasil, criando a Cosan Lubrificantes. Ao iniciar novos ramos, a companhia conseguiu tirar o foco das commodities, o que a beneficiou, já que a companhia conseguiu abrir seus “horizontes” e começou a investir em outro tipo de setor – não tão dependente de fatores externos.

Ainda em 2008, a companhia iniciou as operações da Rumo, empresa do setor logístico. Dois anos depois, a companhia se associou com a Shell, criando em 2011 a Raízen (a Shell e a Cosan são sócias igualitárias na joint venture Raízen, que lida com negócios de açúcar e etanol, além da distribuição de combustíveis), além do acordo com a Comgás, distribuidora de gás natural. E já em 2014 o Conselho de Administração da companhia aprovou a dissociação da Cosan com a Rumo para uma futura alienação com a ALL (ALLL3).

Tatiane Cruz ainda disse que a junção das duas companhias de logística, se aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), poderá beneficiar a Cosan, já que ao se desvincular com sua parte de logística, a empresa deverá focar seus esforços em crescer no setor de infraestrutura, que, de acordo com ela, ainda tem muito potencial de crescimento no país.

Além disso, a dissociação pode ser positiva já que a Cosan deixa de ter ligação com um setor que tem tido dificuldades na Bolsa nos últimos anos. Para Bueno, sem a parte de logística a companhia pode manter seu foco e não correr o risco de ser prejudicada pelos problemas que o setor tem enfrentado recentemente.

Nesta quarta-feira (27), as ações da companhia subiam 2,78%, cotadas a R$ 43,29, estendendo os ganhos desde a metade de agosto pra cá para quase 19%. De 2009 pra cá, os papéis da empresa já acumulam ganhos de 320%, bem acima do Ibovespa (+60%) e da “concorrente eleitoral” Petrobras (+23%).

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.