Parente é visto como “solução perfeita” para a BRF – mas desafios gigantescos travam maior otimismo

Assembleia deve definir hoje o nome de Pedro Parente na BRF, enquanto analistas seguem cautelosos com companhia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Ao mesmo tempo em que a bola começou a rolar na primeira partida da Copa do Mundo da Rússia, ao meio-dia desta quinta-feira (14), um outro evento passou a ser observado muito de perto pelos que estão interessados nos desdobramentos da crise na BRF (BRFS3).

No mesmo horário do jogo Rússia X Arábia Saudita (a partir do meio-dia) acontece a  AGE (Assembleia Geral Extraordinária) da BRF, que passa por uma séria crise ao registrar seguidos prejuízos, sofrer as consequências do baque com as investigações da Operação Carne Fraca e ainda sofrer os efeitos das disputas de acionistas.

Com isso, no acumulado do ano, as ações da companhia registram baixa superior a 41%, o segundo pior desempenho entre os papéis do Ibovespa. Mas a queda poderia ser ainda maior se não fossem as notícias cada vez mais concretas sobre o resultado da assembleia de hoje: jornais e agências de notícias, como Valor Econômico, O Estado de S. Paulo e Bloomberg, dão como certa a entrada de Pedro Parente na presidência da companhia.

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Vale destacar que Parente deixou a presidência da Petrobras (PETR4) em 1 de junho, após desgaste durante a greve dos caminhoneiros. Logo após a notícia, a sua entrada no comando da empresa de alimentos foi cogitada. Esse seria visto como um desenrolar bastante positivo para a BRF, que já havia se animado e muito com a entrada do ex-executivo da Petrobras no Conselho de Administração da empresa, em abril. Com isso, nesta sessão, os papéis BRFS3 são o destaque de ganhos do Ibovespa, chegando a subir 8% na máxima do dia. 

Otimismo cauteloso

Contudo, se o mercado mostra ânimo com a notícia, muitos analistas ainda mostram cautela sobre o case de investimentos da BRF. Para o BTG Pactual, a confirmação do nome deve reduzir a pressão sobre a companhia, mas os analistas do banco avaliam que a empresa ainda enfrenta desafios importantes e que uma recuperação ainda levará algum tempo, levando à manutenção de uma visão de maior cautela.

Já na última terça-feira, o Credit Suisse destacou em um extenso relatório que a indicação de um novo CEO como Parente poderia representar uma perspectiva de melhora para a empresa. Contudo, os analistas do banco suíço reiteraram a recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) e reduziram o preço-alvo de R$ 28 para R$ 18, 
cita uma avaliação desfavorável depois de ajustada para resultados mais recentes, preços mais altos de grãos, depreciação do real e novo custo de capital. Os analistas cortaram a previsão para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) em 35% para 2018 e 21% para 2019 por conta dos preços de grãos mais altos. 

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O entusiasmo do mercado pelo novo CEO em potencial pode continuar por trás de notícias positivas sobre mudanças na estratégia. Contudo, o Credit Suisse apontou não ver uma relação de risco/retorno convincente que possa oferecer uma margem considerável de segurança para o investimento na empresa. 

“Acreditamos que os fundamentos devem prevalecer e, olhando pra frente, o cenário ainda não está claro”, avaliam os analistas Victor Saragiotto e Ian Miller.

Eles ainda apontam quais são os desafios que o novo CEO deve receber: (i) rolagem da dívida, (ii) aceleração dos desinvestimentos e venda de controle em subsidiárias não fundamentais ao negócio e (iii) ajuste na estrutura de capital sem diluir os acionistas atuais.

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“Alguns outros pontos podem ser listados como bastante específicos da BRF: (iv) redução do impacto dos grãos no resultado; (v) queda da rotatividade; (vi) encontrar o balanço entre rentabilidade e participação de mercado; (vii) aumento do numero de inovações e (vii) redução nos custos indiretos”, avaliam. 

O mercado mostra confiança e ânimo com a entrada praticamente certa de Parente na presidência da BRF após a virada liderada por ele na Petrobras. Contudo, se o executivo sofreu no comando da estatal, os analistas ainda mostram cautela de olho nos desafios também gigantescos que Parente enfrentará na BRF. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.