Pão de Açúcar anuncia reorganização e ação salta 10%: por que as mudanças animaram tanto os investidores?

Perspectiva de melhora da governança corporativa e fim de uma grande fonte de incerteza foram fatores que fizeram as ações subirem forte - mas ainda há questões no radar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Se em maio a notícia de estudos sobre a reorganização do Grupo Pão de Açúcar (PCAR4) havia abalado os papéis da companhia, a sessão desta quinta-feira (27) é de forte ânimo para os ativos com um novo comunicado sobre o assunto – e que diminui fortemente os temores sobre o que poderia vir para a varejista. 

As ações PCAR4 saltam até 11,5%, a R$ 94,31, nesta sessão, após a empresa ter anunciado na noite da véspera uma reorganização societária envolvendo o seu acionista controlador francês Casino e a empresa colombiana Éxito na América Latina. 

O processo tem três etapas: i) oferta pública de ações do PCAR4 com o objetivo de adquirir a Éxito, que tem capital aberto na bolsa de valores na Colômbia; ii) o controlador, Casino, irá comprar a totalidade das ações de controle de emissão do GPA atualmente detidas indiretamente pelo Éxito e; iii) migração das ações do GPA para o Novo Mercado, nível mais alto de Governança Corporativa da B3, com a conversão da totalidade das ações preferenciais de emissão do GPA em ações ordinárias à razão de 1 para 1.

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A notícia da ida para o Novo Mercado foi vista como bastante positiva para a liquidez das ações e a base acionária do GPA. “O nível de governança corporativa e a complexidade da estrutura societária sempre foram problemas do grupo”, destaca a equipe de análise da Levante.

Especificamente sobre a aquisição da Éxito, o Bradesco BBI aponta não ver muito valor estratégico para o GPA, mas ressalta alguns pontos positivos na transação como um todo. Em primeiro lugar, ressalta que os papéis da companhia voltarão ao ser negociados com base nos seus fundamentos após semanas de forte especulação, com queda de 17% dos ativos desde 5 de maio. A melhora da governança corporativa também é destacada, além da avaliação de que a transação levará a um acréscimo nas estimativas de lucro por ação em 11% para 2020. 

“Antes do anúncio, havia muitos cenários possíveis de como uma reorganização poderia ocorrer; ao olhar agora, vemos as transações anunciadas como melhores do que alguns investidores temiam”, destaca Richard Cathcart, do Bradesco BBI. 

Porém, há questões que devem ser monitoradas de perto pelos investidores. Conforme aponta o Brasil Plural, a aquisição das ações da Éxito deve reduzir drasticamente a posição de caixa da empresa, mitigando os ganhos com a venda da fatia na Via Varejo (VVAR3) por R$ 2,3 bilhões e, por isso, são necessárias mais informações sobre o valores da transação. 

Hoje, o Casino tem 18,66% do capital do GPA, mesma participação da Éxito. O Casino tem 55% da fatia na empresa colombiana. Foi criado um comitê especial para avaliar o preço justo das ações da Éxito que foi estipulado na faixa entre 16.000 e 18.000 pesos colombianos, que correspondem entre R$ 19,31 a R$ 21,72 por ação, com a sendo avaliada então entre R$ 8,6 bilhões e R$ 9,7 bilhões.

Depois desta etapa, a reorganização vai envolver uma oferta pública que deve ser lançada pelo GPA para comprar, em dinheiro, até a totalidade das ações do Éxito, enquanto o Casino vai adquirir as ações que o grupo colombiano tem no Pão de Açúcar, em uma operação sem efeitos de caixa para o controlador francês. 

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O Bradesco BBI também destacou o cenário para o GPA após a aquisição da Éxito, que tornará a brasileira um player no setor em diversos países – além do Brasil e Colômbia, o grupo terá operações no Uruguai e Argentina. “Isso vai colocar a GPA em novos ambientes competitivos, dos quais a Colômbia é provavelmente o mais agressivo com concorrentes como D1, Ara, Cencosud e Pricesmart. Estes novos países responderão por 20% das vendas e 25% do Ebita [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] do grupo combinado. Mas, por enquanto, não esperamos muita mudança de gestão, uma vez que cada operação é altamente independente  e as duas empresas já se conhecem e cooperam bem”, avalia Cathcart.

O Bradesco BBI manteve recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) e elevou o preço-alvo do ativo de R$ 110 para R$ 112, com potencial de valorização de 32% em relação ao fechamento de quarta-feira, apontando que o papel PCAR4, negociado a 16 vezes a expectativa do preço sobre o lucro para 2020, deve voltar a ser negociado rapidamente ao múltiplo de 18 vezes em meio ao fim das especulações sobre como seria a reestruturação. Além disso, os investidores devem ficar de olho no balanço do segundo trimestre da companhia, que deve mostrar continuidade das tendências de melhora operacional.

Assim, de uma forma geral, o anúncio foi bem recebido pelo mercado, com os analistas apontando principalmente o fim de uma grande fonte de incerteza. Porém, há outras questões no radar. Agora, os investidores ficaram atentos a que termos se dará a compra da Éxito e se pode haver sinergias entre as empresas. No momento, quem está posicionado nos papéis comemora a forte alta na bolsa nesta sessão. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.