Os destaques no resultado da Ambev que fizeram as ações terem a maior disparada desde 2008

O número que mais chamou a atenção dos analistas foi o aumento do volume de cerveja no Brasil, mas outros dados foram positivos; analistas se atentam agora para as margens 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A sessão desta quinta-feira (25) foi marcante para as ações da Ambev (ABEV3). Os ativos chegaram a subir 9,80%, na maior alta desde 13 de novembro de 2008 (quando a ação saltou 10,6%) e atingiram o maior patamar desde julho de 2018 na máxima intradiária, quanto chegou aos R$ 19,72. As ações fecharam com alta de 8,52%, a R$ 19,49. 

O motivo para tamanho ânimo foi o resultado do segundo trimestre, divulgado na madrugada desta quinta-feira. 

A gigante brasileira de bebidas registrou lucro líquido ajustado de R$ 2,712 bilhões no segundo trimestre de 2019, 16,1% maior que os R$ 2,335 bilhões em igual período no ano passado. 

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A receita líquida foi de R$ 12,145 bilhões – alta de 5,5% em relação a 2018 (R$ 11,509 bilhões).

O grande destaque apontado pelos analistas ficou para o aumento do volume de cerveja vendido no Brasil, de 2,9%. Com isso, a taxa de crescimento em dois anos foi para 4,6% (ante 3,2% no último trimestre). 

A alta foi impulsionada, sobretudo, pelo crescimento de dois dígitos de seu portfólio premium global – Budweiser, Stella Artois e Corona. A receita líquida de cervejas aumentou 6,7%, com alta de 3,7% na receita por hectolitro. 

“Os resultados apresentados neste trimestre são consequência direta do investimento da companhia em suas plataformas estratégicas, especialmente no fortalecimento de seu portfólio premium e das famílias de marcas como Brahma e Skol”, informou a companhia.

O Credit Suisse ressaltou ainda em relatório os números encorajadores especificamente de venda da Skol Puro Malte, além de apontar que o crescimento da receita por hectolicro permaneceu relativamente saudável no Brasil, mesmo em um ambiente de maior agressividade dos preços por conta da concorrência (notoriamente a Heineken). 

Os resultados foram recebidos de maneira tão positiva pelo Itaú BBA que levaram Antonio Barreto e Gustavo Troyano, analistas do banco, a fazerem uma “dupla” elevação de recomendação para as ações ABEV3.

Os papéis saíram de recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) para outperform (acima da média do mercado), com elevação do preço-alvo de R$ 18 para R$ 22 para 2019, o que configura um potencial de valorização de 13,5% frente os patamares de R$ 19 negociados nesta quinta. 

Há três razões para estar mais otimista em relação à Ambev, afirma o Itaú BBA: i) a ação tem um desempenho abaixo do Ibovespa em 35% nos últimos doze meses até a sessão da última quarta, o que aumenta a atratividade; ii) a equipe do banco projeta Selic a 5% no final do ano, o que leva a uma redução do custo de capital e iii) os resultados ficaram bem acima do esperado para América Latina e Caribe e bebidas não alcoólicas. 

A receita líquida cresceu no Brasil (+7,8%), na América Central e Caribe (CAC) (+11,6%) e na América Latina Sul (LAS) (+10,6%). Na região CAC, especificamente, a margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) foi a maior da história.

Porém, algumas questões seguem no radar. O Bradesco BBI apontou em relatório que as medidas da empresa para acelerar o volume estão funcionando e não tiveram impacto na cadeira de distribuição.

Mas, por outro lado, a margem em cerveja para o Brasil comprimiu em 6,2 pontos percentuais na comparação anual, enquanto a receita por hectolitro subiu 3,7% (os analistas avaliam que o efeito premium tenha contribuído para uma alta de 4 pontos percentuais).

A margem foi afetada pelo aumento no custo, impactado pelo câmbio e pela alta dos preços das commodities, especialmente alumínio e cevada.

“Por isso, achamos que investidor deve mudar o foco de preocupação com volume para compressão de margem, pois não está claro se essas medidas pra acelerar volume possam resultar em menores margens no futuro”, afirmam os analistas do Bradesco BBI, que apontam que o consenso espera melhora na margem de 1 ponto percentual por ano daqui para frente. Assim, a recomendação segue neutra para o papel. 

A XP Research também possui recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 18 para os ativos, frente a uma recuperação do consumo ainda lenta e margens que continuam pressionadas. 

Enquanto isso, olhando para a frente, a empresa segue confiante de que o Brasil apresenta um grande potencial para o futuro. A Ambev reiterou ainda sua expectativa de que o custo total por hectolitro no Brasil deve continuar mais pressionado ainda no terceiro trimestre, mas melhorando no final do ano.  

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.