Olhe para a melhora operacional e não para o prejuízo, pede CEO da Marfrig

Mesmo com o prejuízo crescendo 60% no 1º trimestre, executivo destaca melhoria operacional e no perfil da dívida e afirma que está no caminho certo para trazer geração de valor ao acionista

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – O aumento de 60% no prejuízo líquido da Marfrig (MRFG3) nada afetou o entusiasmo do CEO (Chief Executive Officer) da companhia de alimentos. Durante coletiva com jornalistas realizada nesta segunda-feira (12), Sergio Rial, deu ênfase a mais um crescimento trimestral nas operações – fato que contribuiu para a tão buscada geração de fluxo de caixa livre positivo – e também à melhora no perfil da dívida do grupo, que tem sido severamente questionada pelos analistas nos últimos anos. Tudo isso tem sido fundamental para manter a confiança de Rial para que seja alcançado objetivo primordial de qualquer empresa de capital aberto: gerar valor ao acionista sob forma de dividendos.

“Lógico que as pessoas sempre olham para o resultado final de uma empresa. Mas o que queremos destacar é que a Marfrig está a cada trimestre no caminho certo para o principal objetivo, que é gerar valor para o acionista via retorno em dividendos”, disse Rial. Um dos pontos ressaltados por ele foi o fluxo de caixa livre do grupo, que mostrou melhoria pelo 3º trimestre consecutivo – do 2º quarto de 2013 pra cá, o resultado passou de R$ 932 milhões negativos para R$ 16 milhões positivos. A meta estabelecida pela empresa em 2014 é de um FCL entre neutro e R$ 100 milhões.

A reação do mercado aos números trimestrais da empresa foi positiva nesta sessão, com ações da Marfrig tendo fechado em alta de 2,35%, a R$ 4,80 – na máxima do dia (R$ 4,87), elas chegaram a subir 3,5% – e estendendo os ganhos no ano para 20%. Contudo, vale mencionar que o desempenho anualizado até hoje ainda mostra queda de quase 30% dos papéis MRFG3, sem contar que em 2010 esses ativos já chegaram a valer mais de R$ 20,00 na Bolsa.

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O balanço do 1º trimestre da Marfrig mostrou um prejuízo líquido de R$ 96,4 milhões, alta de 61,7% ante as perdas do mesmo período de 2013 – a média das projeções dos analistas girava em R$ 46,2 milhões. “Tivemos um prejuízo financeiro na faixa de R$ 260 milhões com despesas financeiras não-caixa”, explicou Ricardo Florence, CFO (Chief Financial Officer) e diretor de RI da Marfrig, durante o encontro realizado com jornalistas na sede da empresa em São Paulo. As despesas financeiras, subiram 7,7% na mesma base comparativa, para R$ 402,1 milhões, enquanto a receita financeira recuou 32,9%, a R$ 45,3 milhões.

Se o prejuízo aumentou, pelo menos a parte operacional também mostrou evolução. A receita líquida trimestral cresceu 9,4% em relação a 12 meses atrás, para R$ 4,788 bilhões. As marcas estrangeiras Keystone (empresa de produção de alimentos industrializados para redes de fast food, focada nos EUA e na Ásia) e Moy Park (empresa de produção de produtos industrializados de aves, focada na Europa) viram suas receitas crescerem 14,7% e 27,3%, respectivamente, ofuscando a queda de 2,2% nas receitas da Marfrig Beef, que sentiu os impactos da alta nos preços do boi e da queda do volume comercializado de carne bovina. O Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) somou R$ 392,7 milhões, alta de 7,2% na comparação anual.

Os bons resultados das linhas mais focadas no mercado internacional colaboraram ainda para a “dolarização” dos números da Marfrig. Ao final do 1º trimestre de 2014, a dupla Moy Park + Keystone respondeu por 41% da do lucro bruto e 52% do Ebitda. No mesmo período de 2013, elas representavam 33% do lucro bruto e 39% do Ebitda. Vale lembrar que a Marfrig está em “em fase exploratória” para uma possível abertura de capital de uma das duas subsidiárias e também deve dar início em 2015 a produção de frango na Indonésia em sociedade com um dos 3 maiores processadores de alimentos do país – Rial não quis revelar o nome do sócio.

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Dívida maior, só que mais barata
Além da melhora operacional, Rial também celebrou os números ligados ao endividamento da empresa: se por um lado o estoque da dívida mostrou crescimento no 1º trimestre do ano, por outro lado os indicadores de endividamento – tais como dívida líquida/Ebitda ajustado – mantiveram-se estáveis, ao passo que o custo médio por ano da dívida teve sensível queda de 8,0% para 7,9%. “Comemoramos qualquer resultado, desde que ele seja no sentido traçado por nós”, disse Rial. “Uma queda percentual no custo, por menor que seja, tem um impacto financeiro muito alto na saúde financeira da empresa”, complementa.

O CEO mencionou ainda que a empresa aproveitou parte do caixa para comprar alguns bonds (títulos de dívida) emitidos no exterior – foram US$ 132 milhões recomprados no mercado, sendo US$ 57,7 milhões em 2017 e US$ 74,7 milhões em 2021. “Vamos seguir recomprando títulos a medida que os custos nos mostrarem favoráveis”, disse Rial. Como as aquisições foram concluídas em abril, o impacto disso na dívida só será visto no próximo balanço trimestral.

Bovinos: preço alto vai curar preço alto
Sobre o mercado de bovinos, que não seguiu a mesma tendência positiva das linhas internacionais do grupo, o CEO explicou que a queda reflete principalmente o maior preço do gado, algo que seguirá pressionando a empresa ao longo de 2014. A maior demanda por carne devido à Copa do Mundo, a consolidação da Rússia como destino das exportações brasileiras – sobretudo após os embargos que o país sofreu – e o impacto limitado do caso de “vaca louca” no Mato Grosso são alguns dos pontos levantados por Rial para justificar a expectativa de preços altos ao longo do ano.

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“É muito bonito falarmos em reversão, mas nesse caso temos noção de que a queda nos preços simplesmente virá quando tiver queda no consumo”, diz o executivo. “A gente costuma dizer que não há nada como o preço alto para derrubar o preço alto”, complementa.

Vaca louca, impacto controlado
Por falar no caso atípico da doença registrada em um frigrorífico no Mato Grosso, Rial ficou muito satisfeito com o trabalho do Brasil na linha de vigilância sanitária, o que colaborou para que o veto às carnes brasileiras ficassem restritas apenas naquele estado – o qual a empresa possui duas fábricas. Ele ainda amenizou os “danos” que o embargo de Egito, Irã, Argélia e Peru podem trazer aos resultados do grupo – Egito, Irã e Argélia foram, respectivamente, o 4º, 6º e 9º maiores importadores de carne bovina in natura do Brasil em 2013, segundo dados da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).

“No Irã, fizemos um manejamento para compensar a entrega; na Argélia não tínhamos mercado, no Egito o preço não compensa já que eles importam carne de búfalo da Índia a um preço bem mais baixo, e no Peru a gente não lamenta pois as vendas para o Chile têm sido bem melhores”, disse o executivo.

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Reabertura de fábrica na Argentina
Ainda na América Latina, o executivo deu destaque mais uma vez às vendas no Uruguai, que ajudaram a amenizar o impacto na alta dos preços do bovino. Já sobre a Argentina, ele disse que espera reabrir uma planta por lá à medida que as medidas macroeconômicas a serem adotadas para restaurar a economia do país estão por questão de tempo de serem implementadas. 

“Mesmo que o governo argentino não queira, uma hora essas medidas terão que ser estabelecidas”, disse Rial. Dessa forma, com a Marfrig pode se aproveitar da necessidade do país de atrair dólares para produzir bovino por lá – a Argentina ainda é um dos principais mercados de bovino no mundo.

Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers