O que esperar da Petrobras após desastre com ‘fórmula secreta’? Will Landers responde

Para o gestor da BlackRock, a maior do mundo em ativos sob gestão, anúncio da nova metodologia da empresa "foi pior do que não ter dito nada"

Paula Barra

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SÃO PAULO – Depois do desastre com o anúncio da “fórmula secreta“, a Petrobras (PETR3; PETR4) precisa agora “provar que pode entregar”. Até lá, boa parte dos investidores, principalmente estrangeiros, vão preferir ficar de fora do papel. Quem diz isso é Will Landers, gestor de fundos de ativos da BlackRock que somam R$ 4,5 bilhões na América Latina. Landers conversou com exclusividade para o InfoMoney em sua última visita ao Brasil no começo de dezembro.

“Anunciar a fórmula secreta foi pior do que não ter dito nada. Esse negócio não existe. Foi um desgaste enorme para a Petrobras e para o mercado brasileiro. A percepção dos estrangeiros piorou. Eles não confiam na previsibilidade das regras por aqui e viram esse anúncio como mais um evento de risco”, disse. Após a divulgação dos resultados e a nova metodologia dos preços, a BlackRock, a maior gestora de recursos do mundo em ativos sob gestão, reduziu ainda mais sua participação em Petrobras, mantendo sua classificação em underweight (desempenho abaixo da média). “Agora você tem que aquela questão: apostei que o governo iria mudar e errei. Vou apostar de novo?”, indaga.

Graça Foster x governo
Apesar do cenário desafiador da empresa, Landers destacou que a presidente da estatal, Graça Foster, vem cumprimento “muito bem” seu papel ao longo desses dois anos. “Ela reconstruiu a diretoria, colocou as pessoas certas nos lugares certos, estabeleceu metas e um cronograma. Pode ser o começo da volta da Petrobras para o crescimento da produção – e ele precisa aparecer”, aponta.

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Para ele, o aumento de produção seria a “salvação” da empresa nesse momento, em meio a expectativa de que a Petrobras continuará a ter ampla queima de caixa nos próximos anos, a medida que conduz seu programa de investimentos. O governo não quer abrir mão do poder de tomar decisão na hora que for aumentar o preço dos combustíveis, mas a diretoria da Petrobras foi firme ao apresentar sua proposta. Claramente, eles viram que precisam melhorar. Não dá para investir US$ 235 milhões em cinco anos se não tem geração de caixa suficiente. A empresa não pode fazer mais dívidas, já está perto do limite”, disse.

Ele, no entanto, descarta um possível corte de rating: “se a Petrobras quebrar, o Brasil vai quebrar. E não acho que isso vá acontecer. Mas tudo tem um limite. O que acontece é que da próxima vez que a empresa for ao mercado para levantar dinheiro com emissão de debêntures ou bonds, o custo será muito maior. Não só nas ações, mas na renda fixa o risco Brasil também aumentou”, disse.

Recentemente, um estudo feito pelo Macroaxis apontou que a estatal teria 32,4% de chances de falir nos próximos dois anos, em função da sua dívida líquida. Um relatório do Bank of America Merrill Lynch colocou a petroleira na liderança do ranking das empresas mais endividadas do mundo. Segundo os analistas do banco de investimentos, a produção da estatal deveria crescer para 3,8 milhões de barris por dia para que a alavancagem da empresa comece a diminuir. 

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Além disso, outro ponto importante também é saber se a fórmula do reajuste será usada como deveria. Segundo Landers, se no ano que vem a empresa anunciar dois ou três reajustes graduais nos combustíveis, a perspectiva pode começar a mudar um pouco para a estatal e o mercado passará a confiar um pouco mais em seu conselho de administração, atualmente presidido pelo Ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Mas ano que vem é crítico, além de a empresa precisar aumentar sua produção, tem eleição presidencial. É esperar para ver o que vai acontecer”, avaliou Landers.