O que a Americanas (AMER3) pode vender na recuperação judicial para sair da crise

Com portfólio diversificado de negócios, que inclui marcas como Submarino, a venda de ativos é uma das opções para a empresa sair da crise, mas há desafios

Estadão Conteúdo

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Para pagar parte de sua dívida, uma das estratégias que poderão ser adotadas pela Americanas (AMER3) é a venda de ativos. É o que fez, por exemplo, a operadora de telecomunicações Oi, que saiu recentemente de uma recuperação judicial – e está prestes a entrar em uma nova. Segundo especialistas, com uma gama variada de negócios, que inclui marcas importantes como Submarino, ShopTime e Ame, a venda de ativos é uma das opções à mesa, mas há desafios a serem superados, mesmo- nesse caso.

A varejista deu início ao processo de recuperação judicial em 19 de janeiro, declarando uma dívida de mais de R$ 40 bilhões para credores, como bancos, fabricantes de eletrônicos e fornecedores de chocolate. Com o processo de recuperação aceito pela Justiça, a empresa passará pelos ritos tradicionais, com a apresentação de um plano de pagamento das dívidas após 60 dias, a ser votado em assembleia de credores. Essa plano pode incluir a injeção de capital por parte dos sócios ou a venda de bens.

Em 2021, a Americanas uniu negócios com a B2W, que operava o comércio eletrônico da varejista, assim como as marcas Submarino, ShopTime e AME. Além disso, a rede de varejo popular também comprou o Hortifruti Natural da Terra no mesmo ano, em um acordo de valor estimado em R$ 2,1 bilhões.

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As marcas do grupo Americanas:

Para Eduardo Yamashita, diretor de operações na Gouvêa Consulting, a Americanas vai enfrentar um cenário de mercado desfavorável durante a sua recuperação, especialmente, devido aos problemas financeiros que devem dificultar a aquisição de mercadorias. “Os fornecedores serão muito mais duros nas negociações, o que vai reduzir a oferta de produtos e a demanda do consumidor vai cair. As outras varejistas veem isso como oportunidade”, afirma.

Yamashita vê possibilidades de vendas de ativos como dados anônimos de perfil de consumo de clientes, imóveis e marcas, como a carteira digital AME. “Existem ativos que podem ser monetizados, mas estão fazendo avaliação interna.”

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Renato Leopoldo e Silva, líder de contencioso empresarial cível, recuperação de empresas e arbitragem do escritório Donelli Abreu Sodré e Nicolai Advogados, diz que casos de recuperação judicial como o da Americanas tendem a permitir a criatividade para a quitação de débitos. “A lei é aberta. Dentro da legalidade, a Americanas tem diversas opções para apresentar formas de pagamento, como venda de ativos e aumento de capital. É comum a empresa negociar com seus credores algo que seja factível para lidar com as dívidas contraídas após o pedido de recuperação judicial”, afirma.

Filipe Denki, sócio do escritório Lara Martins Advogados e diretor da Comissão de Recuperação de Empresas e Falência do Conselho Federal da OAB, vê o caso da Americanas como “delicado”, uma vez que tem ações negociadas na bolsa de valores e a injeção de capital se mostra necessária diante do caixa estimado em R$ 800 milhões.

“As demissões em massa serão inevitáveis, por causa da redução de lojas. Fora isso, deve ocorrer o fatiamento da Americanas para evitar que todas as unidades de negócios sejam afetadas. No plano de recuperação judicial, a empresa pode prever unidades produtivas isoladas, que podem ser vendidas. É um processo de cisão. No caso da Oi, a telefonia celular foi vendida para operadoras e o negócio de fibra óptica foi para o BTG”, diz.

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Denki lembra que o caso recente mais comparável ao da Americanas é o da Ricardo Eletro. A varejista precisou fechar todas as lojas físicas e demitir milhares de funcionários, ficando apenas com o seu site de comércio eletrônico. Como adiantou o Estadão, a empresa agora já planeja a abertura das primeiras cinco lojas.