Os próximos passos da startup de educação online Descomplica após comprar universidade no Paraná

Edtech adquiriu instituição física de ensino e, agora, não tem limite regulatório para número de cursos e vagas

Mariana Fonseca

Marco Fisbhen, fundador do Descomplica (Divulgação)
Marco Fisbhen, fundador do Descomplica (Divulgação)

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SÃO PAULO – A investida de R$ 450 milhões liderada pelo gigante japonês SoftBank na startup brasileira Descomplica já rendeu frutos. Para continuar crescendo, o negócio de educação online alocou parte dos novos recursos no mundo físico.

O Descomplica anunciou nesta terça-feira (22) a aquisição da UniAmérica, centro universitário paranaense tem cerca de 2 mil alunos. O valor da transação não foi revelado.

A aquisição vai reforçar as frentes de graduação e pós-graduação do Descomplica. A startup tem 2 mil alunos em seus cursos de graduação, frente criada há menos de um ano. Já a pós-graduação tem mais histórico e concentra 55 mil alunos.

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O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com Marco Fishben, fundador do Descomplica, e Daniel Pedrino, presidente da Faculdade Descomplica. Os executivos falaram sobre os planos após a compra da UniAmérica e sobre o cenário da educação online, diante de uma pandemia prolongada de Covid-19.

De aulas de físicas à compra de universidade

Antes de criar a própria edtech (startup de educação), Fisbhen era professor de física. A ideia para o Descomplica surgiu quando ele pensou em como dar aulas para além das classes de cursinhos pré-vestibular.

Fisbhen começou a gravar aulas em seu apartamento. Essas palestras foram os primeiros vídeos do Descomplica, fundado no final de 2011. Ao longo dos anos, a edtech foi ampliando seu catálogo de vídeos e conquistando investidores. O Descomplica oferece hoje vídeos em reforço escolar, preparação para vestibulares, concursos públicos, graduação e pós-graduação.

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A pandemia de Covid-19 impulsionou o setor de educação online – principalmente plataformas que não apenas reproduzem as aulas presenciais, segundo Fisbhen.

“O último ano e meio é sem dúvida um período de aprendizagem para o que vem pela frente. A digitalização parecia distante, mas chegou rápido e mostrou que é preciso estar mais próximo do que a atual geração de alunos busca: flexibilidade e oferta variada de tecnologias durante a trajetória de estudo. São pontos fundamentais para mantê-los engajados.”

Para o fundador do Descomplica, isso não significa que a maneira de aprender esteja consolidada. “A educação está em constante mudança, procurando maneiras mais atraentes aos olhos dos alunos e mais eficientes”, diz. “Mas o que podemos dizer é que a tecnologia tende a estar cada vez mais presente na educação. Este é um caminho sem volta.”

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A startup alcança 5 milhões de alunos – os principais canais são as assinaturas no próprio site; aulas em redes sociais como Instagram, TikTok e YouTube; e parcerias para mensalidades subsidiadas por instituições como Claro, Natura e o governo do estado de São Paulo.

A frente de vestibulares existe desde a fundação do Descomplica. Já a pós-graduação foi criada em 2019. Finalmente, em agosto de 2020, o Descomplica investiu R$ 55 milhões e lançou cursos de graduação credenciados com nota máxima pelo Ministério da Educação (MEC).

No primeiro semestre, a Faculdade Descomplica acumulou mil alunos em cursos de Administração, Ciências Contábeis, Pedagogia e Recursos Humanos. A mensalidade dos cursos de graduação varia entre R$ 199,90 e R$ 219.

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“Pensamos: por que o mundo precisa de mais uma faculdade? Então, percebemos que nossa marca fala muito com o jovem. Queríamos ser a empresa que acompanha toda a jornada do aluno e propõe uma educação diferente. A transformação digital do ensino ficou mais evidente com a pandemia”, diz Pedrino. Quase 60% dos estudantes da Faculdade Descomplica têm até 23 anos de idade. A maioria já foi aluno da startup.

Daniel Pedrino, presidente da Faculdade Descomplica (Divulgação)
Daniel Pedrino, presidente da Faculdade Descomplica (Divulgação)

A UniAmérica era cliente do Descomplica, usando a tecnologia em sua frente de educação à distância. O centro universitário atraiu a startup por conta de sua aprendizagem baseada em projetos – que levam a um índice de 97% de empregabilidade entre os alunos. As aulas presenciais serão mantidas na sede da UniAmérica, em Foz do Iguaçu.

“A aquisição não foi motivada por aquisição de alunos e receitas, como se faz tradicionalmente no setor. Ficamos interessados na filosofia de ensino, e em todas as nossas aquisições olharemos para iniciativas que aumentem a renda para nossos alunos – e não apenas forneçam um diploma”, diz Pedrino.

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A compra também permitiu que o Descomplica se tornasse um centro universitário. Dessa forma, ela não tem mais um limite regulatório para número de cursos e de vagas. Assim, o Descomplica passa de quatro para 22 cursos de graduação. As áreas priorizadas foram engenharia, saúde e tecnologia.

A startup tem agora ensino superior online em Administração, Contabilidade, Pedagogia, Recursos Humanos, Gestão Comercial, Gestão de Dados, Gestão Financeira, Gestão Pública, Logística, Marketing, Processos Gerenciais, Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Banco de Dados, Computação em Nuvem, Jogos Digitais, Sistemas para Internet, Engenharia de Produção, Engenharia de Computação, Sistema de Informação, Letras-Português, História e Matemática.

R$ 1 bilhão em três anos

Vagas ilimitadas serão fundamentais para zerar uma fila de espera de 70 mil alunos por graduações do Descomplica. Apenas nos próximos doze meses, a startup espera ir de 2 mil para 10 mil alunos na Faculdade Descomplica.

“Conforme lançamos novos cursos, vamos conseguindo alimentar essa fila de espera. Também tem o ponto da qualidade: conseguimos manter excelência em larga escala indo para 10 mil alunos, mas somos muito cuidadosos com a manutenção deste NPS [Net Promoter Score]. Na graduação, está acima de 75″, diz Fisbhen.

Escritório do Descomplica
Escritório do Descomplica

Na pós-graduação, a startup pretende ir de 350 para 500 cursos ainda em 2021. O número de alunos deve expandir de 55 mil para entre 70 mil a 100 mil alunos.

Essa compra da UniAmérica é apenas uma parte de um plano ambicioso: investir R$ 1 bilhão nos próximos três anos. Os recursos virão tanto daquela captação externa com o SoftBank quanto da própria geração de caixa do Descomplica.

Os investimentos terão três linhas principais: conteúdo, tecnologia e operação. O Descomplica vai investir na contratação de professor e na produção dos seus vídeos; em software e experiência do usuário na plataforma de ensino online; e em funcionários para suportar a expansão da startup. O Descomplica pretende ir de 700 para 1.100 pessoas até o final deste ano.

A plataforma de ensino online tem 5 milhões de alunos por mês em todas as suas frentes educacionais, pagantes ou não. Ao final do período de investimento, Pedrino estima que o Descomplica chegará a 6 milhões a 7 milhões de usuários.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.