Novo unicórnio brasileiro: fintech leva maquininhas inteligentes, blockchain e criptomoedas ao varejo

A CloudWalk captou um investimento que a avaliou em US$ 2,15 bilhões. Próximo passo é levar soluções de pagamento para Estados Unidos e Europa

Mariana Fonseca

Maquininha da InfinitePay (Divulgação)
Maquininha da InfinitePay (Divulgação)

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SÃO PAULO – O Brasil tem mais um unicórnio na área de serviços financeiros. A fintech com valor bilionário da vez é a CloudWalk, que compete com empresas como Cielo, GetNet, PagSeguro, Rede e Stone no mercado de pagamentos. Para a startup, o futuro desse setor virá de tecnologias como transações digitais, blockchain, computação em nuvem e stablecoins (criptomoedas pareadas em algum ativo para controlar sua volatilidade).

A CloudWalk alcançou uma avaliação de mercado de US$ 2,15 bilhões com uma nova rodada de investimentos, anunciada nesta quarta-feira (17). Para ser um unicórnio, uma startup deve ter uma avaliação igual ou superior a US$ 1 bilhão. A CloudWalk fez uma rodada série C de US$ 150 milhões (cerca de R$ 825 milhões) liderada pelo fundo de private equity Coatue, que já investiu em negócios como Impossible Foods, Snap e Uber. Outros fundos que participaram da rodada foram A-Star, DST Global, Plug and Play Ventures, The Hive Brazil e Valor Capital Group.

O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com Luis Silva. O cofundador da CloudWalk falou sobre a criação da fintech de pagamentos, seu modelo de negócio e os próximos passos após obter a avaliação de mercado bilionária.

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Das maquininhas às criptomoedas

A CloudWalk foi cofundada por Luis Silva em 2013. Mas esse não foi o primeiro negócio do empreendedor serial. Depois de trabalhar como desenvolvedor, Silva criou negócios em setores como o de bitcoin, o de pagamentos móveis e se de oftware para cuidados com a saúde e experimentos científicos.

O objetivo com a CloudWalk era aproveitar a competição que estava sendo criada no mercado de maquininhas, após o fim do duopólio entre as marcas Cielo e Rede.

“A ideia era criar uma solução completa para processar pagamentos e fazer pequenas e médias empresas atraírem mais clientes e receberem seu dinheiro de forma mais barata e rápida. Começamos por maquininhas, mas desde o começo pensávamos em entrar nos pagamentos online”, diz Silva.

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Luis Silva, cofundador da CloudWalk (Divulgação)
Luis Silva, cofundador da CloudWalk (Divulgação)

O desenvolvimento da tecnologia e a obtenção de licenças de operação fizeram com que a CloudWalk só começasse realmente a operar em 2019. A experiência do empreendedor em outros negócios, incluindo uma temporada no Vale do Silício (Estados Unidos), fez com que algumas tecnologias fossem incorporadas à maquininha da fintech, chamada InfinitePay.

O equipamento em si virou commodity: as funcionalidades dentro dele é que ganharam protagonismo. Todos os servidores de autorização de pagamentos operam por computação em nuvem. A CloudWalk também criou uma inteligência artificial própria para reconhecer padrões de transação e assim evitar fraudes. Ainda, o vai e vem de dinheiro é registrado no blockchain, espécie de livro digital para registrar transações de forma descentralizada e segura.

A fintech afirma que consegue ter taxas atrativas por conta dessas tecnologias. A automatização de processos por inteligência artificial e blockchain e o armazenamento das transações em sistemas na nuvem permitiriam reduzir custos com mão-de-obra para processos como análise de risco, compliance ou contabilidade. Segundo a CloudWalk, seu índice de fraude nas transações seria de 0,08%, um décimo da média do mercado.

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A CloudWalk busca se monetizar mais por taxas por transação do que por taxas de antecipação de recebíveis. A taxa para pagamentos com cartão de débito vai de 1,44% a 2,44%. Com cartão de crédito à vista, fica entre 2,89% e 4,08%. Essas taxas estão em um patamar similar ao das concorrentes.

A situação muda na antecipação de recebíveis. Em uma simulação feita no próprio site da InfinitePay para uma venda de R$ 1.000 por maquininha, a cobrança é de 7,43% para recebimento do dinheiro em um dia útil. Segundo essa mesma simulação, a taxa seria de 19,37% na GetNet Receba Já; de 21,1% na SumUp; de 22,59% no PagSeguro; de 23,19% no MercadoPago; e de 41,47% na Cielo.

Para reduzir ainda mais as taxas, a CloudWalk lançou a Brazilian Digital Real (BRLC), uma stablecoin baseada no real brasileiro. O lojista que optar receber pela criptomoeda tem sua transação feita em segundos e sem nenhuma taxa. Seus consumidores também podem pagar com a criptomoeda, recebendo um cashback por isso. Essas transações são feitas por links digitais de pagamento.

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Todo mês, a CloudWalk vai distribuir R$ 1 milhão por mês em stablecoins BRLC para consumidores que pagarem pelo aplicativo da InfinitePay. Hoje, são 300 mil carteiras digitais abertas no app.

A ideia é que o consumidor consiga depois trocar as BRLCs por outras criptomoedas, como Bitcoin, e outras stablecoins, como USDC (lastreada no dólar americano). Ele já pode comprar outros produtos dentro da InfinitePay e transferir a stablecoins para outros usuários.

Apesar dessas inovações, as maquininhas representam mais de 90% do processamento de transações da fintech. “Mas pagamentos digitais e stablecoins estão crescendo a altas taxas”, diz Silva, sem especificar porcentagens.

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A CloudWalk atende 150 mil lojas em 4,3 mil cidades brasileiras atualmente. A fintech processa US$ 2,4 bilhões em transações de forma anualizada (doze vezes as transações realizadas em outubro de 2021) e cresce 40% a cada trimestre.

Os próximos passos como unicórnio

A CloudWalk já havia recebido US$ 6 milhões em sua série A e US$ 190 milhões em sua série B. Os novos US$ 150 milhões serão usados para contratações e para expansão geográfica. Em 2022, a CloudWalk focará no mercado brasileiro. Em 2023, chegará aos Estados Unidos. Em 2024, irá também para a Europa.

A avaliação de mercado de US$ 2,15 bilhões faz com que a CloudWalk seja considerada mais valiosa do que Cielo (R$ 6,241 bilhões, ou US$ 1,135 bilhão) e GetNet (US$ 758 milhões). A empresa ainda está atrás do market cap de PagSeguro (US$ 11,68 bilhões) e Stone (US$ 9,76 bilhões), porém.

Silva tem planos ambiciosos. Nos próximos dois anos, a meta é chegar até 22% em participação no mercado de crédito e débito. Seria o equivalente a cerca de R$ 400 bilhões em transações: apenas em 2020, os cartões pré-pagos, de débito e de crédito movimentaram R$ 2 trilhões no país, de acordo com a ABECS (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços).

Nos próximos cinco a dez anos, fazer a CloudWalk chegar a uma avaliação de mercado de US$ 100 bilhões. A aposta para essa escalada de valuation está nos pagamentos digitais, incluindo as criptomoedas – mas são as maquininhas com um banho de tecnologia que continuam garantindo o faturamento por enquanto.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.