As lições de Luiza Trajano, Abílio Diniz e Guilherme Benchimol para quem quer ser empreendedor de sucesso

Alguns dos principais empresários do país estiveram presentes no treinamento "Do mil ao milhão", do Thiago Nigro

Anderson Figo

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SÃO PAULO  — Empreender não é fácil. E há quem diga que empreender no Brasil é mais difícil ainda. Por isso as lições de quem chegou lá e conseguiu se tornar um empreendedor de sucesso são tão valiosas para quem está só começando. 

Alguns dos principais empresários do país estiveram presentes no treinamento “Do mil ao milhão”, do Primo Rico (Thiago Nigro), que acontece neste fim de semana em São Paulo. Sob os olhares de 10 mil pessoas, eles compartilharam suas histórias.

Luiza Trajano, presidente da rede varejista Magazine Luiza, destacou que é preciso ter otimismo e pensar grande, mas sem tirar os pés do chão. “Eu sempre gostei de dar presentes. Minha mãe dizia que não tinha problema eu gostar de dar presentes, mas que eu tinha que ganhar [dinheiro] primeiro.”

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“É preciso pensar grande. Pensar grande não paga. Não tem problema. Não pode proibir o pensamento. Mas adapte o pensamento para a realidade. Lá no passado a gente pensava em campanhas de milhões, e aí eu fazia o exercício de ver o que dessas campanhas de milhões poderia ser adaptado para o nosso orçamento de R$ 100 mil”, disse.

A empresária citou que o atendimento e a inovação são as coisas mais importantes em seu negócio. “Eu fiquei mais de 20 anos no balcão, atendendo diretamente os clientes. É a coisa mais importante essa troca de papéis. Entrar no mundo do outro. Havia um jornalzinho da loja que eu fazia questão de colocar minha foto e telefone com os dizeres: não está satisfeito? Fale com a gerente.”

Ela contou que hoje mantém uma linha direta com os clientes em suas redes sociais. “O pessoal me conta tudo. Eu não só respondo como eu resolvo. As pessoas só me procuram quando já procuraram outras áreas da empresa e ninguém resolveu o problema delas. Eu já começo o atendimento pedindo perdão.”

Trajano lembrou do episódio icônico quando ela caiu ao carregar a tocha olímpica em sua cidade natal, Franca, no interior de São Paulo, em 2016. “Eu caí com a tocha. Caí rapidinho e nem percebi, mas segundos depois o mundo inteiro já sabia e até minha filha em Portugal me mandou mensagem. Tive que fazer um post dizendo que a emoção foi tanta que cai, mas que, assim como em todos os outros tombos da minha vida, me reergui e segui em frente. Fizemos até uma promoção de ‘queda de preços’, fazendo alusão ao acontecido.”

Com bom humor, ela frisou que o importante é ter determinação e não ter vergonha. “As pessoas têm vergonha de falar que são vendedoras. O meu sonho era ser vendedora. Toda empresa que ganha dinheiro vende alguma coisa, seja produto ou serviço. Somos todos vendedores.” 

E finalizou com uma dica para quem quer empreender. “Eu não gosto de dar conselho, mas diria para que vocês dêem o melhor de vocês sempre. Em tudo o que vocês fazem. E apostem nas pessoas. Saibam tirar o melhor delas. Eu até hoje chego nos lugares e penso: o que eu posso aprender aqui? Hoje mesmo aqui neste evento eu pensei nisso. Você é do tamanho daquilo que você compartilha.”

Disciplina e determinação

O empresário Abilio Diniz, cofundador do Grupo Pão de Açúcar, do qual não faz mais parte, e presidente da Península Participações, contou como o esporte foi essencial para criar o senso de disciplina e determinação que o fez chegar ao posto de um dos homens mais ricos e bem-sucedidos do Brasil. 

“Se eu cheguei onde estou, qualquer um pode chegar. Nasci em uma família muito humilde e sempre pratiquei esportes. Adorava competição”, disse. Ele frisou que a preocupação com o futuro sempre foi uma realidade. “Você tem que pensar em coisas simples. Por exemplo, como eu vou subir uma escada daqui a 50 anos. Estou vivendo o melhor momento da minha vida. Acumulei experiência e estou fisicamente bem, com saúde boa.”

Entre as “regras” que ele afirmou sempre ter seguido estão ética e honestidade, depois humildade. “Humildade é respeito pelas pessoas, saber que você nunca sabe tudo. As pessoas podem saber mais do que você. Também é preciso ter determinação e garra. A gente precisa saber onde a gente quer chegar. E ter disciplina, que é fundamental. E, por fim, ter equilíbrio emocional.” 

Assim como Trajano, Diniz afirmou que continua aprendendo sempre. “Analise, pense, se informe e aí, se arrisque. A gente tem que se arriscar. Mas é preciso aprender antes. O cara que para de aprender envelhece mais rápido. Aprender é fundamental para crescer. Tem que se informar e saber se reinventar. Muitas vezes a vida nos leva num ponto difícil e tem que ter espírito de sobrevivência.”

Ele mencionou que no mundo globalizado a velocidade das informações pode atrapalhar um pouco os iniciantes, mas enfatizou que “pressa e afobação são diferentes de velocidade”. “Não cometa erros velhos. Se for cometer erros, que sejam erros novos. E se errar, se pergunte: onde foi que eu errei? Aprenda com seus erros. Olhe no espelho e se pergunte: o que foi que eu fiz. Se pergunte: o que eu posso fazer melhor daqui para frente?”

Ele terminou a apresentação com otimismo. “Eu sou apaixonado pelo meu país, pelo Brasil. Aqui eu nasci e aqui quero passar os últimos dias da minha vida. Sou empresário e quero gerar empregos, ajudar o país. Nós somos um entre 7 bilhões de pessoas. Somos únicos. Só existe um de cada um de nós. Se você não existir, quem é que vai substituir você? Ninguém. É preciso que a gente tenha consciência disso. Se nós somos únicos, temos que ter um propósito.”

“Dá para ser feliz sempre, sim. A felicidade está dentro de nós. Meu propósito é ser feliz, é aprender a compartilhar. É por isso que dou entrevistas e palestras. Quero contribuir para que as pessoas sejam mais felizes. Se eu puder compartilhar meu conhecimento e experiência e fazer as pessoas mais felizes, eu estou cumprindo o meu propósito. (…) Eu não acredito em sorte ou azar, eu acredito em capacidade. Acredite.”

Superação

O empresário Guilherme Benchimol, fundador do Grupo XP, deu seu próprio exemplo de superação e coragem. Após perder o emprego aos 24 anos, ele contou que se sentiu “o pior dos homens”, mas logo em seguida recebeu um convite para trabalhar em uma corretora de investimentos em Porto Alegre e aceitou o desafio. 

“Eu tinha esse sentimento de que gente boa não era demitida e me senti mal. Aceitei o desafio de ir trabalhar em Porto Alegre, mas não estava mais me identificando como a corretora, então resolvi me juntar a um amigo meu e criar nosso próprio escritório de agentes autônomos. Assim nasceu a XP.”

Ele contou que os dois sócios “fizeram um business plan clássico de fim de semana”. “Quando comecei a empresa, tinha R$ 10 mil. A nossa preocupação era como iamos sobreviver. Quando o dinheiro acabou, vendi meu carro para colocar o dinheiro no negócio. E batia de porta em porta tentando vender os produtos de investimento. Eu tinha que explicar para as pessoas que eu era o Guilherme Benchimol e que eu trabalhava em um escritório de agentes autônomos ligado a uma corretora e que estava ali para fazer ela investir de uma forma diferente.”

A grande lição aprendida por Benchimol, segundo ele, foi que o negócio não nasce pronto, mas vai se desenvolvendo conforme você aprende como o mercado funciona. “Ao bater na porta das pessoas, eu descobri que elas podiam não comprar os produtos de investimento que eu oferecia, mas tinham interesse em entender sobre aquilo. Assim, criamos um curso de como investir em bolsa de valores e até colocamos um anúncio na Zero Hora. Para a nossa surpresa, 30 pessoas apareceram e ganhamos R$ 9 mil. Mais tarde, elas abriram conta com a gente. Aprendi, então, a fórmula do negócio.”

O desafio era reter as pessoas na empresa nova, já que o dinheiro ganho era usado no próprio negócio e não tinha como pagar melhor as pessoas. Ao perder um estagiário para um banco americano, onde ele seria trainee e ganharia R$ 1.500 por mês, na época, Benchimol decidiu bolar o modelo de partnership que mantêm até hoje na XP: os funcionários podem ser sócios e ter uma pequena parte da companhia. 

“O negócio não nasce pronto. Se você começa um negócio muito fechado, você perde oportunidade de aprender com o mercado. Quando você é empreendedor, não tem ninguém que faça por você. Você tem que ter postura, disciplina. Ou você faz isso ou vai quebrar. Se você se colocar como o culpado de tudo, colocar seus sócios como culpados de tudo, isso te faz agir, te faz virar protagonista e fazer as coisas acontecerem.”

Ele comentou que o empreendedor tem que ter os pés no chão e precisa de credibilidade, por isso aceitou a proposta do Itaú para ser acionista minoritário da XP em 2016. “A gente estava com tudo pronto para abrir capital quando o Itaú quis conversar comigo e disse que topava ser sócio minoritário. Soou estranho, mas faz sentido. Se ele for minoritário, ele está abaixo de mim, não interfere no negócio, no dia a dia, mas dá credibilidade. A pessoa que olha de fora pensa: poxa, se o Itaú é sócio, é porque eles são sérios. A XP é minha e dos meus sócios. A empresa não está à venda. É um projeto de vida.”

Benchimol enfatizou que a humildade é uma característica importante para o empreendedor. “Como empresário, se você tiver muito ego e for muito vaidoso, começa a perder a noção da realidade, não sabe o que está acontecendo. (…) Empreender é difícil. Se você não entrar com mindset que é um projeto de vida, fica muito mais difícil. Eu acredito em empresário que pensa no longo prazo. Você compra uma ideia e vai correndo atrás, vai aprendendo, desenvolvendo. Eu gosto de ficar um pouquinho melhor a cada dia porque isso no longo prazo faz a nossa empresa virar o que virou.”

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.