Não saímos do nada, mas não esperávamos tanto sucesso, diz CFO do BB Seguridade

Em 12 meses de Bovespa, ação subiu 65% e passou de um IPO promissor para uma das empresas mais valiosas do País; veja o que o diretor da empresa tem a dizer

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Para muitas empresas da Bovespa, 2013 foi um ano para ser esquecido. A desvalorização generalizada de diversas ações do mercado brasileiro evidenciou um momento de grandes dificuldades para os investidores, acompanhando indícios da deterioração de um modelo econômico que chegava à exaustão. Neste árido cenário, é difícil pensar em empresas que ousaram ingressar na Bolsa e foram bem sucedidas em tal empreitada.

Driblando a tendência de baixa para os principais índices do mercado nacional, a BB Seguridade (BBSE3), braço de seguros, previdência e capitalização do Banco do Brasil (BBAS3), foi uma das poucas a encarar o pessimismo do mercado e se sair bem. Com IPO (oferta pública inicial, da sigla em inglês) realizado em abril do ano passado, a companhia conseguiu fisgar um amplo público interessado e ver seus papéis serem conhecidos no mercado praticamente como sinônimo de investimento seguro em um mercado de tantas incertezas. De lá para cá, passado pouco mais de um ano, os ganhos da empresa já se aproximam dos 70% (leia mais clicando aqui).

Para entender o rápido sucesso do BB Seguridade, suas percepções sobre o mercado, expectativas e projeções para o futuro, o InfoMoney conversou com o CFO (Chief Financial Officer) da companhia, Werner Suffert. Confira a entrevista na íntegra:

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InfoMoney – Ao que se deve esse sucesso tão rápido na Bolsa? Se existe uma fórmula, qual seria?
Werner Suffert – Primeiramente, a gente tem que falar que a empresa, como parte do Banco do Brasil, já existia. Como negócio separado, ela tem um ano, mas o negócio de seguros, previdência e capitalização dentro do BB já vem sendo desenvolvido há algum tempo. Não é nada novo, não. Comparar-nos a uma start up não dá. A gente está falando de um negócio que já nasceu grande depois do “spin-off” (separação de uma parte da empresa) do ano passado. Estamos entre as 10 maiores empresas brasileiras em termos de valor de mercado, a 3ª no novo mercado, inclusive, por conta desse histórico que já existia. Não saímos do zero.

Com o IPO, conseguimos ter um empenho maior a partir da dedicação exclusiva de uma equipe de executivos na holding para tratar o assunto com exclusividade, sem dividir tanto a atenção com os outros negócios do banco. Isso agregado à participação que os acionistas minoritários acabam trazendo, como uma preocupação maior com a transparência (ainda maior que o banco já tinha, uma vez que temos 1/3 de ações em free float), o que acaba nos dando uma facilidade maior de lidar com problemas normais para qualquer empresa em crescimento. 

IM – Em um momento em que a economia brasileira começa a assustar o mercado, o que inspirou a companhia a se arriscar na Bolsa com o IPO do ano passado?
WS – O momento do IPO não foi algo desenvolvido do dia para a noite. Existe um estudo prévio feito dentro da instituição. No caso da BB Seguridade, isso começou há algum tempo. Já existia uma intenção estratégica desde o momento em que foi desenhado o primeiro plano de negócios da diretoria da área de seguros, previdência e capitalização do BB, feito entre 2007 e 2012. No final desse período, já tínhamos como objetivo fazer o IPO dessa área.

O que aconteceu é que, com o fim desse primeiro ciclo do planejamento estratégico e entrando no segundo, viu-se também a oportunidade, em termos de momento de mercado, uma janela de oportunidade muito interessante que eu diria que se fechou praticamente depois do nosso IPO. Tivemos o maior IPO do ano passado no mundo. Eu diria que, depois do nosso, o mercado de uma forma global desacelerou em números de IPO. O momento acabou sendo bastante propício. A gente teve três equipes que rodaram o mundo inteiro durante três semanas. Olhando para trás o que foi feito nesse um ano, foi bastante coisa para pouco tempo.

Não há uma relação direta quando você compara nós com o ciclo econômico do País. É preciso ver quais são os principais drivers do resultado de crescimento da empresa e, no nosso caso, os drivers não são tão atrelados à macroeconomia, como em outras empresas, inclusive instituições puramente financeira. A gente tem um desafio muito grande de crescer em penetração na nossa base de clientes – que é bastante grande, e que a gente tem acesso por conta da base do Banco do Brasil -, e esse crescimento tem um pouco de função da renda disponível, mas também tem muito a ver com um ciclo que a gente percebe em direção à proteção dos negócios e patrimônio. Muitas pessoas passaram a ter agora sua casa própria, seus carros e começam a se preocupar com o longo prazo, em proteger seus bens e suas famílias, e isso tem facilitado as empresas de seguros e capitalização a crescer muito acima do mercado há algum tempo. Essa é uma perspectiva que deve continuar para os próximos anos. 

IM – Trata-se de um momento de ouro para o segmento de seguros e previdência?
WS – Em função do bônus demográfico, o Brasil ainda é um país com uma quantidade bastante grande de pessoas trabalhando em relação às pessoas que já passaram da idade economicamente ativa. Então, temos uma massa salarial bastante grande, momento oportuno para se estimular a previdência, a proteção do futuro – efeitos compartilhados pela capitalização e pelos seguros de vida. São esses produtos que se encaixam com esses ciclos mais longos de crescimento brasileiro em décadas. São décadas de melhorias que vêm acontecendo desde os anos 1950, uma reversão da economia que tem trazido, para alguns segmentos, um potencial de crescimento bastante interessante.

A nossa elasticidade ao momento econômico é um pouco menor do que de outras companhias, mas é claro que um ciclo de crescimento forte de renda favorece a atividade do BB Seguridade. Da mesma forma, acabamos sendo menos impactados em momentos de contração. 

IM – Depois do sucesso do IPO, qual é o foco da companhia em 2014 para continuar crescendo e entregando resultados para os acionistas?
WS – O foco da empresa continuará sendo as linhas de produtos que ela ainda tem. Não mudamos isso esse ano. Temos um portfólio bastante grande de empresas na holding da BB Seguridade, que consideramos ideal para trabalhar a rentabilização do negócio ainda mais e o crescimento dos prêmios por subconta. A gente deve manter nosso foco em extrair mais valor, melhorar a eficiência da empresa e, ao mesmo tempo, tentando aumentar a penetração das linhas de produtos que a gente já possui.

Inicialmente, tivemos foco de até ampliar algumas questões. Fizemos uma série de promessas durante o IPO de linhas de negócios que já foram entregues em 2013, e agora a gente passa por um processo de aumentar a penetração e trabalhar mais profundamente em cada uma dessas linhas de negócios. 

IM – O que o investidor pode esperar da empresa para esse ano? Ainda existe espaço para ela crescer mais tanto na bolsa, como em termos de desempenho de resultados?
WS – Resultado de bolsa depende menos da empresa do que do cenário. O que o investidor pode esperar de nós é um foco grande na valorização da empresa. Não necessariamente o valor de mercado, visto que este depende de outros fatores, mas de crescimento e trazer a perpetuidade desse crescimento, a lucratividade, bons dividendos etc. Estes são os compromissos da administração do BB Seguridade também para os próximos anos. Já pagamos um dividendo bastante elevado (80% do lucro líquido), com um crescimento grande também, e um retorno sobre o patrimônio líquido também expressivo. Das grandes empresas hoje em dia, eu diria que, apesar de sermos uma empresa nova, estamos muito bem posicionados para continuar entregando aos nossos acionistas bons retornos em termos de dividendos e valorização de ação. 

IM – Qual é a importância da holding Banco do Brasil em todo esse desempenho?
WS – O peso é sempre muito elevado. A rede do Banco do Brasil é o nosso principal canal de distribuição. A gente utiliza outros canais, mas boa parte dos nossos prêmios vem das agências do BB. Eu diria que o sucesso da BB Seguridade é muito explicado pela dedicação do funcionário do Banco do Brasil em vender a ação do BB Seguridade. O IPO foi um sucesso em termos de oferta para varejo. Foi realmente outro patamar se comparado com qualquer outro IPO anterior – também vale destacar o amplo número de funcionários da empresa comprando a ação. Depois disso, você teve um esforço deles em continuar vendendo nosso produtos para o portfólio de clientes que eles têm na carteira. Isso só vem, de fato, aumentando, o que aumenta ainda mais a importância do BB para nosso resultado.

Também é importante colocar como ponto mais recente a colocação da nossa ADR (American Depositary Receipt). A gente entrou agora com ADR nível 1 nos EUA e isso também aumenta a liquidez para o acionista, e acaba trazendo uma possível valorização – e a gente tem percebido – do papel da empresa na medida em que se aumenta o potencial de acionistas do exterior acessarem a ação do BB Seguridade. 

IM – Quais são os riscos para a empresa no futuro próximo e as oportunidades vistas no cenário atual?
WS – Temos que continuar focando em nossas linhas atuais. A gente tem vários produtos com um potencial bastante grande. Devemos explorar da melhor forma possível esse potencial de penetração em cada uma dessas linhas de produto, usando essa proteção que os clientes – principalmente no canal Banco do Brasil – têm para consumir seus produtos. Quanto aos riscos, eu diria que os principais seriam aqueles relacionados à execução da estratégia. São riscos que a gente, obviamente, trabalha no cotidiano para tentar limitar, com o acompanhamento das nossas ações, uma gestão de todos os nossos projetos.

IM – O sucesso do IPO surpreendeu vocês de alguma forma?
WS – É claro que, olhando um ano para trás, é difícil falar que a gente esperava um crescimento tão grande para o valor das ações, que a gente esperava esse tipo de receptividade que tivemos do mercado. Eu diria que inicialmente isso não era esperado, mas a gente rapidamente acabou tendo que se adaptar a esse novo cenário para poder aproveitar da melhor forma possível.

A gente participa de diversos eventos com investidores, aproveita esse apetite que existe por conhecer mais a empresa, e participa de eventos no Brasil e no exterior, com os executivos da empresa e os outros diretores, para poder esclarecer o mercado sobre o nosso funcionamento, a nossa estratégia de longo prazo – quais são nossos principais guidances de crescimento – e, como estamos falando de mercado externo, também temos alguns desafios relacionados a alguns produtos que não são iguais no mundo inteiro.

Então você tem um bom desafio, que se abriu por conta dessa boa receptividade do mercado, de estar presente o máximo possível também esclarecendo investidores no mundo inteiro sobre o potencial de mercado da empresa.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.