Minoritários acusam small cap em recuperação judicial de esconder informações do mercado

Grupo de acionistas diz que a empresa não divulgou diversas informações de que estaria melhorando, o que poderia fazer suas ações subirem

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Um grupo de acionistas donas de cerca de 20% da small cap Teka (TEKA4) acusa a companhia de não divulgar informações relevantes sobre seu processo de recuperação, principalmente em relação à negociação de dívidas e vendas de imóveis. Segundo eles, a empresa não está apresentando novas informações que podem mudar seu rumo e que ela seria obrigada a divulgar.

Em 2014, a Teka ganhou em última instância o direito à compensação dos créditos fiscais de IRPJ (imposto de renda de pessoa jurídica) e CSLL (contribuição social sobre o lucro líquido) do período entre 2003 e 2011, no valor total de R$ 307,1 milhões, o que segundo estes minoritários daria um valor de cerca de R$ 700 milhões com atualização monetária.

Na mesma época, completou dois anos que a companhia ganhou o Direito Creditório e desde então a Teka não tem mais obrigação de pagar impostos federais. Segundo este grupo de minoritários, a empresa economiza R$ 1 milhão por mês com isso e o fato não foi divulgado ao mercado. Um destes acionistas, pedindo anonimato, informou que o grupo entrará com uma queixa na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por conta destas omissões da companhia, e que eles ainda estudam entrar com um processo para pedir ressarcimento dos prejuízos causados.

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Em nota explicativa em seu balanço, a companhia disse que o recebimento desses créditos “depende de avaliação da Receita Federal do Brasil (RFB) e de desfecho de processo judicial movido pela companhia para restituição destes créditos através de pagamento e não compensação com outros tributos federais”. Ou seja, a Teka entrou com uma ação na Justiça pedindo a conversão desses créditos em precatórios.

O grupo de minoritários afirma que a empresa não apresenta os relatórios mensais que deveriam ser divulgados por conta da recuperação judicial. “A empresa não publica os acordos renegociados, os valores de descontos que estão conseguindo, não demonstra e explica os prazos que pretende finalizar o processo”, disse um destes acionistas que pediu para não ser identificado.

Em comunicado, a Teka afirma que “por se encontrar em recuperação judicial, qualquer renegociação de dívidas ou alienação e venda de ativos da Companhia devem atender as previsões e obrigações contidas no plano de recuperação, aprovado por assembleia de credores e homologado pelo Juízo, que está sendo cumprido”.

Além disso, a empresa disse que “obedecendo à legislação, todas as informações que lhe são concernentes estão registradas no site da CVM e no site da Companhia […] não encontrando respaldo a afirmativa de que a Companhia venha sonegando informações relevantes”. O InfoMoney tentou contato com a empresa, mas não obteve sucesso.

O grupo acusa ainda a empresa de ter ofertas de venda por duas fábricas que estão inativas e que isso nunca foi comunicado ao mercado, em um negócio que poderia superar os R$ 60 milhões. Além disso, a fábrica em Blumenau, onde está a sede da Teka, teria tido uma proposta de venda por R$ 69 milhões, onde a própria companhia alugaria o local, porém nada foi divulgado.

Todos os valores destes negócios poderiam mudar o rumo da companhia e trazer uma sobrevida para a empresa, que está em recuperação judicial desde 2012. No primeiro trimestre a Teka encerrou com receita de R$ 35,9 milhões, valor 12% abaixo do mesmo período de 2016, além de um prejuízo de R$ 46,3 milhões, alta de 21,2% em um ano.

O grupo diz que está “totalmente no escuro” e que a divulgação destas informações poderia gerar valor para as ações da companhia, hoje negociadas em R$ 13,50, com alta de 80% no acumulado de 2017. A companhia já chegou a valer R$ 232 em sua máxima histórica, atingida em 1994. Em 2012 a companhia perdeu os R$ 100 e nunca mais voltou a recuperar este valor, atingindo sua mínima do ano passado, em R$ 3,80.

A Teka é a terceira maior fabricante de artigos de cama, mesa e banho do país em receita, com receita anual de R$ 158,6 milhões, ficando atrás da Springs Global – que tem R$ 2,31 bilhões de receita -, donas de marcas como MMartan, Artex e Santista, e a Karsten, com R$ 311,3 milhões.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.