Microsoft: julgamento nos EUA coloca em risco um negócio de US$ 68 bi

A contestação da compra foi feita pela Comissão Federal de Comércio (FTC), responsável por regular a concorrência no mercado americano

Wesley Santana

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Se arrasta, nos Estados Unidos, até a próxima quarta-feira (28), o julgamento de uma ação que contesta a proposta da Microsoft (MSFT24) de adquirir a Activision Blizzard (ATVI34), uma holding norte-americana de jogos. Fechado em janeiro do ano passado, o acordo foi de US$ 68,7 bilhões (cerca de R$ 324 bi) e, caso não seja resolvido até o próximo dia 18 de julho, a empresa de Bill Gates pode ter de desembolsar US$ 3 bilhões só em multas.

A contestação da compra foi feita pela Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês), responsável por regular a concorrência no mercado americano. O órgão entrou com uma ação judicial argumentando que o negócio -já considerado o maior da história Microsoft- daria vantagem à marca e prejudicaria os trabalhadores.

A Activision é uma gigante do setor de games, que tem uma média de 154 milhões de usuários ativos todos os meses em seus produtos. O estúdio produz jogos para os principais consoles, incluindo o Xbox, que é desenvolvido e vendido pela Microsoft.

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Logotipos da Microsoft e da Activision (Foto: REUTERS/Dado Ruvic)

O último lançamento da franquia Call of Duty, por exemplo, carro-chefe da marca, alcançou 25 milhões de jogadores em menos de uma semana do lançamento.

Tendo a Activision nas mãos, conforme indica a FTC, a Microsoft poderia deixar de fornecer seus produtos para outros consoles, como o PlayStation, da concorrente Sony. O órgão também diz que a compra daria “uma vantagem injusta” no setor de jogos por assinatura e em nuvem.

“A Microsoft já mostrou que pode e vai reter conteúdo de seus rivais de jogos”, disse Holly Vedova, diretora do departamento de competitividade da FTC, em um comunicado à imprensa. “Hoje procuramos impedir que a Microsoft ganhe controle sobre um estúdio de jogos independente líder e o use para prejudicar a concorrência em vários mercados de jogos dinâmicos e de rápido crescimento”.

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O presidente da big tech, por sua vez, sinalizou que seguiria até o fim na negociação e que a empresa lutaria contra a agência do governo. Na época, a Microsoft também emitiu um comunicado afirmando que tinha confiança no negócio e que iria aos tribunais se fosse necessário, atitude que se confirmou posteriormente.

Iniciado na última quinta-feira (22), o julgamento do caso tem prazo estimado de cinco dias. No primeiro dia, a FTC apresentou uma troca de e-mails entre os diretores da Microsoft e Sony que indicaria uma manobra para obter exclusividade sobre jogos. Já a big tech afirmou que os e-mails indicam que a manobra é mais para manter uma posição dominante no mercado do que para bloquear os concorrentes.

Outras big techs na mira do FTC

A Microsoft não é a única companhia de tecnologia que tem sofrido com a busca do governo americano por regular o setor. O órgão já tentou barrar a compra da VR Within, startup de realidade aumentada, pela Meta, além de ter aplicado uma multa de US$ 1 trilhão no Google por usar ilegalmente seu mercado publicitário digital para atrapalhar concorrentes.

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O movimento mais recente da agência federal, porém, envolve a Amazon, que supostamente teria enganado consumidores para se inscreverem no seu programa de assinaturas, o Prime. A Comissão diz que a empresa cadastrou os consumidores sem consentimento e dificultou o cancelamento, em uma investigação que se desenrola desde março de 2021, segundo a agência Reuters.

A Amazon usou “projetos de interface de usuário manipulativos, coercitivos ou enganosos conhecidos como ‘padrões escuros’ para enganar os consumidores a se inscreverem na renovação automática de assinaturas Prime”, disse a FTC em comunicado.

A empresa diz que os clientes gostam do produto e que o design da aplicação é simples tanto para inscrição quanto para cancelamento. “É preocupante que a FTC tenha anunciado este processo sem aviso prévio, no meio de nossas discussões com os membros da equipe da FTC para garantir que eles entendam os fatos, o contexto e as questões legais, e antes que possamos ter um diálogo com os próprios comissários”, informou a Amazon em nota.