Mesmo longe das prateleiras, BlackBerry faturou US$ 718 mi em 2022; entenda

Maior parte do faturamento vem de produtos de ciberseguranca, área que passou a investir depois de parar de fabricar celulares

Wesley Santana

Em 2016, BlackBerry parou de fabricar e vender aparelhos celulares e, desde então, se dedica à área de cibersegurança. Foto: Divulgação

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A BlackBerry foi uma daquelas empresas que conseguiram se destacar na década de 2000 em meio a corrida pelos celulares. O seu diferencial foi a implantação do alfabeto completo nos aparelhos, conhecido como QWERTY, que facilitava a digitação de mensagens, em um momento em que os usuários tinham de apertar duas ou três vezes um número para gerar uma letra.

A companhia passou alguns anos em evidência, chegando a registrar vários picos de vendas no Brasil e no exterior. Mas o tempo bom passou, sobretudo com a chegada dos smartphones que traziam tela touchscreen e faziam muito mais do que só ligações ou envio de mensagens de texto. A empresa até tentou galgar esse mercado, mas não foi muito feliz.

Em 2016, a BlackBerry decidiu parar de fabricar celulares e mudar totalmente o seu modelo de negócios. Dois anos depois, em 2018, comprou a startup Cylance por US$ 1,4 bilhão, aquisição que lhe deu fôlego para entrar de vez no segmento de cibersegurança, de onde tira seu maior faturamento atualmente.

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Listada na bolsa dos Estados Unidos NYSE, segundo dados divulgados nesta semana, a BlackBerry Cylance apurou um faturamento global de US$ 718 milhões no último ano fiscal. Desse montante, US$ 477 milhões corresponde a cibersegurança, US$178 milhões à divisão de internet das coisas e o restante, US$ 63 milhões, vem de outras verticais.

“Embora não tivesse o foco em cibersegurança, a vocação da BlackBerry sempre foi a proteção. Então ela continua na mesma linha, mas com a diferença de que deixou de ser uma empresa de hardware para se tornar uma marca só de softwares, estendendo um pouco mais seu horizonte de segurança”, diz Marcello Pinsdorf, diretor da BlackBerry no Brasil.

A principal atuação da canadense na cibersegurança está nos endpoints, ou seja, no monitoramento e proteção da conexão entre os dispositivos -como smartphones e computadores- e as redes de internet. Isso é importante porque é o canal que muitos cibercriminosos usam para acessar a rede privada ou corporativa.

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No primeiro trimestre deste ano, a companhia afirma ter interrompido 1,7 milhão de ataques cibernéticos, número equivalente a 62 ações por hora. Entre os mais de 12 mil clientes pelo mundo, a há bancos, entidades públicas e até a estação espacial norte-americana.

Esses resultados, segundo o executivo, estão relacionados ao uso da inteligência artificial, que foi internalizada depois da aquisição da Cylance. O uso de algoritmos aprimora, por exemplo, a abordagem do chamado Zero Trust Networking Acess (acesso à rede de confiança zero, na tradução literal), que se tornou ainda mais necessária durante a pandemia, com a adesão do trabalho remoto.

“O acesso remoto seguro é essencial para as empresas, principalmente porque os funcionários passaram a acessar sistemas de informação a partir de casa. Ou seja, o limite tecnológico não pode ser mais o que só firewall protege, mas deve englobar todos os colaboradores que estão acessando as redes à distância”, destaca Pinsdorf.

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De acordo com um relatório da consultoria McKinsey, o mercado de cibersegurança cresce, em média, 12% ao ano. O motivo deste desempenho é igualmente exponencial, já que o número de ameaças e ações criminosas têm aumentado de forma frequente, e, até 2025, deve provocar danos anuais na casa de US$ 10 trilhões às empresas.

Novos projetos para o Brasil

Com sua dimensão territorial e pela quantidade de possíveis clientes, o Brasil é foco de muitas marcas globais, e não poderia ser diferente com a BlackBerry. Por isso, além dos planos de estender os serviços de cibersegurança no país, também planeja o lançamento de novas ferramentas tecnológicas.

Um dos próximos produtos a serem disponibilizados no país latino é um sistema que entrou em evidência há dois anos, em ocasião da invasão do ataque ao Capitólio norte-americano. Enquanto os invasores acessavam os plenários e gabinetes legislativos, os computadores piscavam informações de alerta, pedindo que os deputados deixassem as casas legislativas.

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“Estamos começando a trabalhar no Brasil um produto chamado AtHoc, que funciona como um alarme para situações de emergência. Quando acontece um desastre natural, por exemplo, o governo precisa comunicar a população e também receber informações dela, até para saber onde devem estar os focos de atenção, e o sistema ajuda nisso”, explica Marcello.

A ferramenta a que alguns governos estaduais mantêm para alertar sobre desastres naturais, mas tendo o diferencial de ser aplicado em outras áreas, além de permitir que quem está na zona de risco possa atualizar informações em tempo real. “Ele tem a capacidade de se comunicar com qualquer canal de comunicação e gerenciar momentos de crise, sejam eles de cibersegurança ou de desastres naturais”, destaca.

Em âmbito global, a empresa também tem direcionado esforços para o setor automotivo, desenvolvendo sistemas para veículos conectados. Conforme o último balanço divulgado, mais de 230 milhões de automóveis já tem alguma solução da BlackBerry embarcada, entre modelos da BMW, Honda, Toyota e outras montadoras.

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“Nós temos que conseguir dar para todas as nossas outras soluções a mesma tração que já temos na proteção de endpoints. Fazendo isso, teremos um crescimento exponencial no Brasil a partir do ano que vem. Conforme se ganha o mercado, os resultados se retroalimentam”, projeta o executivo.