Maquininhas continuam em alta: Hash recebe R$ 81,7 milhões para ampliar sua “fábrica de fintechs”

A Hash já atende 10 mil estabelecimentos, por meio da conexão com negócios como Gympass e Leo Madeiras

Mariana Fonseca

(Getty Images)

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SÃO PAULO – A pandemia digitalizou os pagamentos. As compras pela internet foram a modalidade mais falada em 2020. Porém, ainda precisam crescer muito para competir com as diversas maquininhas instaladas nos pontos comerciais.

São 11,2 milhões de maquininhas espalhadas pelo país, segundo o Banco Central. Boa parte dessas maquininhas ainda é fornecida por grandes players, mas o mercado vem se descentralizando. O antigo duopólio Cielo e Rede disputa espaço nos últimos anos com players como PagSeguro e Stone atualmente.

A Hash, fintech que fornece maquininhas para negócios que as revendem, vê ainda mais espaço para descentralização. Não teremos 10 fornecedores no país, mas centenas. Cada negócio trará conhecimento no seu setor de atuação, customizando as soluções oferecidas pelas maquininhas da fintech.

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Essa tese conquistou investidores de capital de risco, ou venture capital. A Hash anunciou nesta terça-feira (20) uma nova captação com investidores, de US$ 15 milhões (R$ 81,7 milhões). O aporte série B foi liderado pelo fundo QED Investors (investidor de negócios como Creditas, Guia Bolso, Kavak, Nubank e Pitzi) e completado pelos já investidores Canary (Buser, Gupy, Loft, Sami e Volanty) e Kaszek Ventures (Creditas, Loggi, MadeiraMadeira, Nubank e Quinto Andar).

O InfoMoney conversou com João Miranda, CEO e cofundador da Hash, sobre a tese de serviços financeiros descentralizados e sobre os próximos passos da fintech. A Hash já atende 10 mil estabelecimentos, por meio da conexão com negócios como Gympass e Leo Madeiras.

Ideia de negócio: serviços financeiros descentralizadas

Cartões pré-pagos, de crédito ou de débito foram responsáveis pela transação de R$ 2 trilhões no país ao longo de 2020, sem contar o valor referente ao auxílio emergencial. O crescimento foi de 8,2% sobre 2019.

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As compras não presenciais cresceram mais de 30% durante o último ano e movimentaram R$ 435,6 bilhões em cartões pré-pagos, de crédito ou de débito. O R$ 1,564 bilhão restante passou por estabelecimentos presenciais – e especialmente pelas maquininhas de cartão, ou POS. Os dados são da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

João Miranda e Thiago Arnese eram funcionários da Pagar.me, fintech vendida para a Stone. Os empreendedores enxergaram um nicho para fugir da guerra de preços e marketing vista no mercado de maquininhas. Criada em 2017, Hash fornece maquininhas para mediar vendas entre negócios (B2B2B), e não para venda ao consumidor final (B2B2C).

João Miranda, fundador e CEO da Hash (Paulo Vitale/Divulgação)
João Miranda, fundador e CEO da Hash (Paulo Vitale/Divulgação)

A Hash é responsável por desenvolvimento de hardware e software das maquininhas próprias; logística desses equipamentos; e atendimento e suporte quanto às maquininhas. A Hash oferece equipamentos para negócios como Gympass, Leo Madeiras, Loja do Mecânico e Zax.

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Esses negócios funcionam como uma plataforma de repasse das maquininhas para empreendimentos menores – respectivamente academias, marceneiros, mecânicos e atacadistas de roupas.

A Leo Madeiras, por exemplo, oferece a maquininha para 10 mil marceneiros pelo Brasil. Apesar de ser desenvolvido pela Hash, o equipamento tem a marca dos empreendimentos atendidos estampada (produto white label).

Leozinha, maquininha da Leo Madeiras desenvolvida pela Hash (Divulgação)
Leozinha, maquininha da Leo Madeiras desenvolvida pela Hash (Divulgação)

“Temos a tese de que o mercado de serviços financeiros será descentralizado, com empresas de diversas indústrias oferecendo pagamentos”, diz Miranda. A Hash permite que tais negócios tenham uma nova linha de receita nas maquininhas, e entendem o fluxo financeiro dos seus clientes empresariais para fornecer serviços financeiros personalizados (como antecipação de recebíveis).

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Os primeiros anos foram focados em desenvolvimento da solução. “Tínhamos um produto pronto para escalar no final de 2019”, diz Miranda. A Hash processou R$ 30 milhões em pagamentos com sua solução completa naquele ano.

A fintech cresceu apesar da pandemia do novo coronavírus, também desenvolvendo um link de cobrança para as empresas permitirem virtualmente o pagamento por boleto ou cartão de crédito. No último ano, a Hash processou R$ 300 milhões em pagamentos.

“A digitalização dos serviços financeiros ficou ainda mais forte na pandemia e as empresas anteciparam planos, seja de inclusão das maquininhas no varejo físico ou de pagamento pela internet”, diz Miranda. Hoje, a Hash fornece maquininhas para 10 mil estabelecimentos.

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Investimento e próximos passos

A Hash já havia recebido aportes anteriormente da Kaszek e do também fundo de investimentos Canary, além dos investidores anjos Henrique Dugubras e Pedro Franceschi (fundadores da Pagar.me e da fintech Brex, avaliada em US$ 2,6 bilhões).

“Cada vez mais empresas continuarão a buscar mais controle sobre pagamentos e fluxos de transações para proporcionar melhores experiências para seus clientes. Acreditamos que a Hash atenderá a esta necessidade”, escreveu Mike Packer, sócio da QED Investors, em comunicado sobre o novo aporte de US$ 15 milhões. Ao todo, a fintech captou US$ 18,7 milhões.

Para 2021, a Hash espera processar R$ 1,5 bilhão em pagamentos, atender 30 mil estabelecimentos e entrar em novas verticais financeiras. “Maquininhas continuam sendo um grande mercado. Mas já conhecemos o financeiro das empresas que atendemos e podemos levar mais serviços financeiros para elas”, diz Miranda.

A Hash já tem uma licença aprovada para emitir cartões pré-pagos, usando como saldo os recebíveis dos clientes atendidos. Também está estudando desenvolver uma API [interface de programação de aplicativos] para que negócios insiram transações online em seus sites.

A Hash vai dobrar sua equipe neste ano, indo de 100 para 200 pessoas. Em 2022, a projeção da Hash é processar R$ 8 bilhões e atender 100 mil estabelecimentos.

“Nosso objetivo de longo prazo é ser a principal marca de infraestrutura financeira da América Latina, e passar da marca de 1% de participação no mercado de pagamentos”, conclui Miranda.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.