Locaweb (LWSA3) lança marca voltada para empresas de médio porte

Nova vertical reunirá seis empresas que foram adquiridas na última década e mira varejistas com mais de R$ 15 milhões de GMV anual

Rikardy Tooge

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A Locaweb (LWSA3) lança nesta quarta-feira (26) a Wake, uma marca que pretende destravar valor para a companhia no segmento de empresas medium-large, que nasce com faturamento anual de R$ 100 milhões.

A vertical irá fundir as empresas Tray Corp, All In, Ideris, Samurai, Síntese e Squid, que foram adquiridas pela Locaweb na última década, em um movimento de M&A próximo a R$ 250 milhões – isso desconsiderando Tray e All In, que não tiveram valores divulgados na época.

Alessandro Gil, vice-presidente responsável pela Wake, explica ao InfoMoney que a companhia observou que, para além da possibilidade de expandir receita em um novo mercado, havia sinergias que passarão a ser capturadas na nova marca.

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“O projeto nasceu há um ano, quando passamos a revisitar alguns processos e vimos um driver importante a se explorar. Não fazia sentido ter mais de uma equipe comercial, de engenheira, por exemplo, para atender o mesmo público”, afirma Alessandro Gil.

Gil aponta que o público-alvo da Wake são varejistas que tenham de R$ 15 milhões a R$ 35 milhões de volume bruto de mercadorias (GMV, em inglês) por ano. “A Locaweb era muito ‘tímida’ para soluções voltadas a este público, que enxergamos ser uma das nossas principais avenidas de crescimento”, prossegue o VP da Wake.

“A companhia quer um cliente maior em relação ao perfil atual do cliente Locaweb”, lembra Bernardo Guttmann, analista da XP. Consolidada entre empresas com faturamentos menores por meio de ofertas de hosting e produtos plug and play, Guttmann reforça que a Wake terá o desafio de lidar com um cliente mais qualificado.

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“Teoricamente, é um mercado endereçável novo para eles, mas o potencial é incerto e a plataforma ainda precisa se provar para esse nicho. A Wake terá um cliente mais sofisticado”, afirma o analista.

Alessandro Gil, VP da Wake (Divulgação)
Alessandro Gil, VP da Wake: nova marca pretende destravar valor para a Locaweb no middle market (Divulgação)

Thiago Kapulskis, analista do Itaú BBA, pondera que as informações iniciais da Wake são interessantes, mas que é necessário observar como será a operacionalização do novo negócio.

“Precisamos entender qual tipo de cliente eles vão atrair. Se for alguém muito qualificado, pode se tornar um novo business dentro da Locaweb, mas ainda não é possível afirmar”, avalia.

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Kapulskis reforça que a busca pelo middle market faz sentido para a Locaweb, uma vez que exige menos escala do que trabalhar com clientes menores. “A mortalidade desse segmento [pequenas empresas] é maior, então é uma boa oportunidade para a Wake capturar margem, a depender do tamanho do cliente que virá”, acrescenta.

O JP Morgan estima que a receita bruta do novo negócio tem potencial de crescimento médio de 23% ao ano e que, na melhor das hipóteses, as receitas poderiam dobrar nos próximos anos.

Segundo Alessandro Gil, a Wake nasce robusta, com cerca de 750 funcionários, 800 lojas conectadas e dois mil comerciantes operando alguma ferramenta do ecossistema. “O mercado sempre se perguntou qual seria o futuro da Locaweb após nossas aquisições e esta é uma das respostas”, acrescenta.

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Para analistas do Credit Suisse, a vertical tende a ser “uma operação com um bom produto e escala”. O banco vê demanda consistente neste mercado, mas alerta para eventuais concorrentes, como um interesse da Totvs (TOTS3) em avançar neste segmento.

“Poderíamos ver uma potencial parceria como muito positiva para ambas as empresas, especialmente para a Locaweb. Pelo contrário, poderíamos ver qualquer iniciativa orgânica da Totvs ou uma parceria com um dos concorrentes da Wake como negativa”, apontaram.

Margens controladas

Para analistas que cobrem a Locaweb, a preocupação inicial com a Wake envolvia uma possível pressão sobre as margens da companhia. No entanto, após a divulgação dos resultados do quatro trimestre de 2022, a percepção é de que a piora já está no balanço.

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“O mercado – inclusive nós – imaginava que a margem Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, em inglês] cairia a partir do 1T23. Mas como os resultados do 4T22 foram fracos, com margem Ebitda chegando a 16%, não esperamos mais que ela caia no comparativo trimestral”, avaliou o BTG, em relatório.

Para o Bank of America, a estratégia de criação da Wake é positiva caso as margens da Locaweb não sigam pressionadas no decorrer do ano.  A avaliação é de que os gastos principais na vertical já foram feitos. “Apesar de alguns investimentos ainda a serem feitos, a maioria das contratações já foi feita no 2S22 e a divisão já conta com uma estrutura robusta”.

Sem M&As no radar

Após comprar 16 empresas nos últimos três anos, Alessandro Gil desconversa sobre novas incursões da Locaweb no mercado. A despeito de um poder de barganha na ponta compradora, o custo de capital elevado tem limitado qualquer iniciativa. No entanto, Gil afirma que a empresa sempre irá avaliar negócios “oportunísticos”.

Para o CS, o portfólio da Locaweb já é “muito abrangente” e aquisições adicionais deverão ser improváveis no curto prazo.

“Tendo em vista que a Locaweb ainda possui uma posição de caixa de R$ 1,5 bilhão e uma posição de caixa líquida de R$ 500 milhões (após dedução das contas a pagar de M&A), não se descarta a possibilidade de distribuição de dividendos ou recompra de ações – embora o management não tenha anunciado nada”, completam os analistas do Credit Suisse.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br