Lázaro Brandão, o bancário que transformou o Bradesco

Filho de uma dona de casa e de um administrador de fazendas, Brandão começou no banco em 1942 se tornou o mais próximo de um dono que a instituição teve

Giuliana Napolitano

(Divulgação/Bradesco)

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SÃO PAULO – “Funcionário de futuro. Apesar de sabermos que essa matriz não estuda aumentos de vencimento nesta época, tomamos a liberdade de solicitar para este funcionário, visto que o mesmo só pode se manter com muita dificuldade.”

O texto foi escrito em 1942 pelo primeiro chefe de Lázaro de Mello Brandão no Bradesco – na verdade, na Casa Bancária Almeida, instituição financeira fundada em Marília que deu origem ao Bradesco no ano seguinte.

Filho de uma dona de casa e de um administrador de fazendas, Brandão começou a trabalhar no banco como escriturário, responsável por ajudar a contabilizar a movimentação financeira da agência. Subiu na carreira aos poucos, mas sem pausas. Em 1981, assumiu a presidência executiva, no lugar de Amador Aguiar, fundador do banco. Em 1990, passou a comandar também o conselho de administração, cargo que manteve por 27 anos.

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Ainda que tivesse uma pequena participação no capital da instituição (o Bradesco tem o capital pulverizado entre executivos, conselheiros e herdeiros de Aguiar, além das ações em Bolsa), tornou-se o mais próximo de um dono que o banco teve nesse período, responsável por dar a palavra final em todas as decisões estratégicas. Brandão morreu nesta quarta-feira, aos 93 anos.

Sob seu comando, o Bradesco teve um crescimento exponencial. Fez cerca de 20 aquisições, de bancos como HSBC e BCN, de gestoras, da bandeira de cartões American Express e da corretora Ágora. Chegou a ser o maior banco privado do país – posto que manteve por quase 60 anos –, mas perdeu a liderança para Itaú em 2008, após a fusão com o Unibanco.

Por anos, o Unibanco foi a instituição que todos os grandes bancos, nacionais e estrangeiros, queriam comprar para crescer no Brasil. O Bradesco chegou a negociar essa aquisição mais de uma vez, mas, segundo pessoas próximas, recuou diante da necessidade de fazer concessões.

Numa entrevista a esta jornalista em 2014, para a revista EXAME, Brandão contou que, após receber a notícia da fusão, dada a ele, por telefone, por Carlos Pestana, na época presidente do conselho do Itaú, disse: “Façam bom proveito”. Para Brandão, “o modelo de gestão que o Itaú e o Unibanco adotaram não funcionaria” no Bradesco, que costuma integrar as instituições compradas ao estilo do banco.

Direcionado por Brandão, o Bradesco manteve um modelo de gestão particular e raro no mercado financeiro. Tempo de casa sempre foi algo bastante valorizado, tanto para promoções em carreiras executivas quanto para o conselho de administração. Poucos diretores foram contratados no mercado e, atualmente, seis dos oito conselheiros são ex-executivos do banco (as exceções são os herdeiros de Aguiar).

Na definição da remuneração variável, o desempenho individual tinha peso limitado. Além disso, ele fazia questão de manter uma rotina rígida, que obrigada os executivos a chegar ao banco às 7h da manhã, com pouca margem de manobra. Olhando de fora, parecia a receita para dar errado, mas, no Bradesco, sempre funcionou – no passado, a cultura do banco já foi elogiada pelo empresário Jorge Paulo Lemann.

Agora, cabe a Luiz Carlos Trabuco Cappi, que sucedeu Brandão primeiro como presidente executivo do Bradesco e, em seguida, no comando do conselho, e também a Octavio de Lazari Junior, atual presidente do banco, manter a cultura da instituição e, quem sabe, adaptá-la aos novos tempos.

Giuliana Napolitano

Editora-chefe do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre finanças e negócios. É co-autora do livro Fora da Curva, que reúne as histórias de alguns dos principais investidores do país.