Itaú Unibanco pode elevar provisões para empréstimos por Lava Jato, diz diretor de RI

As declarações vêm num momento de crescentes temores do mercado quanto aos desdobramentos das investigações da operação

Reuters

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SÃO PAULO – O Itaú Unibanco (ITUB4), maior banco privado do país, pode aumentar as provisões para perdas com inadimplência de empresas em 2015, como resultado dos efeitos do escândalo de corrupção envolvendo as maiores empreiteiras do país e a Petrobras, disse um executivo do banco.

As declarações vêm num momento de crescentes temores do mercado quanto aos desdobramentos das investigações da operação Lava Jato da Polícia Federal, que apura denúncias de formação de cartel, sobrepreço e pagamento de propina em contratos da Petrobras com grandes construtoras do país.

“Pode haver reforço de provisão, se precisar”, disse o diretor de Controladoria e de Relações com Investidores do Itaú Unibanco, Marcelo Kopel, em entrevista à Reuters. “Estamos acompanhando os possíveis reflexos disso na cadeia de fornecedores.”

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Em relatório na quinta-feira, a agência de classificação de risco Fitch afirmou que os processos envolvendo Petrobras e empreiteiras devem pressionar a qualidade dos ativos dos bancos, especialmente os públicos.

Segundo Kopel, porém, a maior parte dos empréstimos do Itaú a empreiteiras são ligados a projetos, e os desembolsos acontecem de forma gradual à medida que eles avançam.

“Não temos bilhões de reais emprestados às holdings”, explicou.

No total, as despesas do Itaú com provisões para perdas com calotes devem evoluir em linha com o crescimento da carteira de crédito em 2015, disse Kopel. Isso porque no caso de operações com pessoas físicas, o dispêndio com provisões deve cair, pois os empréstimos têm se concentrado bastante em carteiras de menor risco, como consignado e imobiliário.

No terceiro trimestre de 2014, o Itaú teve lucro líquido acima do previsto pelo mercado, em parte devido à queda do índice de inadimplência e menores despesas com provisões.

De acordo com Kopel, o banco deve manter o conservadorismo na concessão de empréstimos em 2015, dado o cenário de baixo crescimento econômico doméstico. 

“Não seria surpresa se nossa carteira crescesse um dígito nesse ano”, disse Kopel, explicando que essa é a projeção para a média dos bancos privados, que devem seguir crescendo abaixo da média dos rivais estatais. A previsão do Banco Central é que o estoque de crédito do sistema avance ao redor de 12 por cento. 

O diretor do Itaú avalia que a tendência é que os estatais Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) desacelerem o ritmo de concessões, já que por questões fiscais o governo federal sinalizou menor disposição de injetar recursos nessas instituições.

“Pode haver recuperação de market share no crédito pelos bancos privados, mas não antes de dois anos”, afirmou Kopel.

Enquanto isso, o Itaú deve ampliar o foco no ganho de eficiência e nas operações que batizou de “não risco”, como as de cartões e de seguros, que exigem menor comprometimento de capital, como forma de garantir certos níveis de rentabilidade.

A rentabilidade do Itaú sobre o patrimônio (ROE, na sigla em inglês), que mede como os bancos remuneram o capital dos acionistas, ficou em 24,7 por cento no fim de setembro, de longe o maior entre os grandes bancos no Brasil.

A meta do grupo é manter um ROE de 35 por cento acima do chamado custo de capital do banco, que ele calcula atualmente em cerca de 16 a 17 por cento.

As previsões mais detalhadas de desempenho esperado para 2015 serão apresentadas quando o Itaú divulgar seus resultados do quarto trimestre, em 3 de fevereiro.

MACROECONOMIA
De forma geral, as previsões do Itaú para seus negócios têm como base o cenário de fraca atividade econômica do país neste ano, enquanto o governo federal implementa medidas para corrigir distorções, como a fragilidade das contas públicas e externas.

Para Kopel, as medidas já anunciadas pelo governo da presidente Dilma Rousseff estão em linha com um horizonte de recuperação da confiança e devem ser o bastante para fazer com o que o Brasil mantenha o grau de investimento pelas agências de rating.

“Os anúncios até aqui são coerentes com o cenário de recuperação gradual da confiança de empresários e investidores, que deve ganhar fôlego ao longo do ano”, disse o executivo do Itaú.

As medidas já anunciadas pelo governo federal para reforçar as contas públicas incluem redução de subsídios do Tesouro Nacional a empréstimos concedidos pelo BNDES, mudanças em benefícios trabalhistas e limitação de despesas não obrigatórias do projeto de lei orçamentária.