Itaú explica doação de R$ 1 bilhão para a Fundação Itaú contra coronavírus

Dinheiro não será doado ao governo porque um grupo de médicos do setor privado decidirá seu destino

Giovanna Sutto

Aplicativo do Itaú

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SÃO PAULO – O Itaú Unibanco anunciou nesta segunda-feira (13) uma doação de R$ 1 bilhão em prol do combate ao coronavírus. Em uma iniciativa chamada de “Todos pela Saúde”, o banco reuniu sete médicos em uma espécie de comitê de crise para auxiliar o governo a impedir o avanço da pandemia no país.

Entre os médicos participantes da iniciativa estão Paulo Chapchap, que lidera o grupo e é diretor-geral do Hospital Sírio Libanês, Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, Drauzio Varella, médico, cientista e escritor, Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Anvisa, Maurício Ceschin, ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), Eugênio Vilaça Mendes, consultor do Conselho dos Secretários de Saúde (CONASS) e Pedro Barbosa, presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP).

No entanto, chamou atenção que o dinheiro doado vá para a Fundação Itaú, do próprio banco. Nas redes sociais, a doação foi motivo de discussão e ficou entre os temas mais comentados pela manhã.

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Durante teleconferência, Cândido Bracher, presidente do Itaú, defendeu a iniciativa e explicou o motivo do dinheiro ir para a fundação.

“O dinheiro não vai para o governo porque será utilizado pelo Doutor Paulo Chapchap e sua equipe. Eles decidirão onde alocar a quantia e como fazer isso. Entendemos que doar o dinheiro através da fundação faz mais sentido, já que a instituição já tem perfil filantrópico. Mas o banco não vai interferir na maneira como a Todos pela Saúde fará uso do valor”, afirma.

Ainda, Bracher garantiu que a doação não acarreta em benefícios fiscais para o grupo. “A quantia doada possui tratamento igual a qualquer outra despesa do banco e não goza de qualquer benefício tributário. O dinheiro vem do balanço do banco”, diz.

Outra crítica vista nas redes sociais, inclusive em um tuíte muito compartilhado da deputada Sâmia Bomfim, é que o montante representa 3,5% do lucro líquido do banco em 2019.

Bracher argumentou que sempre haverá críticas. “Não estamos dando apenas o recurso, unimos um grupo de especialistas em prol do combate do coronavírus e esperamos encorajar mais instituições a fazer doações para a causa. Mesmo assim, foi a maior doação privada já feita no país para uma causa específica”, disse.

Paulo Chapchap, que é o porta-voz da iniciativa, afirmou que a mesma não será isolada das ações do governo. “Sempre vamos compartilhar as decisões com o poder público. Nossa ideia é promover mais agilidade, capacidade e abrangência de ações que possibilitem o combate ao vírus e em conjunto com ministério da saúde e esferas federal, estadual e municipal”, disse.

Bracher também garantiu que o desembolso dos recursos acontecerá “conforme for requisitado por Chapchap e os membros do grupo”.

Aos acionistas, que podem se ver prejudicados por um pagamento de dividendos mais fraco neste ano, o executivo ressaltou que “nenhuma instituição pode ser melhor que o país em que se encontra”. “Uma instituição não pode ir bem em um país que vai mal. Precisamos cuidar da nossa casa e tenho certeza que os acionistas entenderão isso e assumirão a responsabilidade conosco”, disse.

Primeira ação da iniciativa

Segundo Chapchap, a primeira ação será uma campanha publicitária que recomendará o uso de máscaras. “Temos também várias equipes indo para os estados mais afetados para compor os comitês de crise locais e auxiliar com a expertise no assunto”, diz.

E complementa: “milhões de unidades de mascaras serão produzidas, iremos trabalhar junto com o SUS e estamos nos aproximando dos representantes dos estados para equipar hospitais, buscar fabricantes, ajudar na produção de equipamento e na testagem dos possíveis infectados. A ideia é diagnosticar em que localidades estão faltando aparelhos. Neste momento, identificamos Manaus, Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro como prioridades, mas estamos acompanhando”.

Segundo ele, a pandemia vai crescer de forma assíncrona no país e, por isso, é importante tratar cada estado conforme seu nível de urgência.

Governo federal e governadores

Sobre posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro e comportamento dos governadores do país no sentido oposto ao poder executivo, Sidney Klajner, presidente do Hospital Albert Einstein, afirma que a crise é uma só. “Estamos aqui de modo sinérgico diante de uma crise só, que por sua vez, tem repercussão na saúde física e mental, na economia, saúde mental, e entre países. Mas nossa contribuição visa ações de saúde e nossas instituições seguem o que o Ministério da Saúde recomenda. Nosso apoio é sobre o que está sendo oficialmente recomendado na área da saúde, queremos ajudar o a implementar ações de maneira mais rápida e eficaz”.

Maurício Ceschin, ex-diretor-presidente da Agência Nacional de Saúde (ANS), afirma que o papel da iniciativa não é competir com estados, nem com o governo, mas sim oferecer “agilidade e expertise para os processos que vão impactar diferentes localidades no país”. “Não gosto de guerra [contra o coronavírus], estamos passando por um momento de proteção e cuidado com a vida”, diz.

Isolamento e cloroquina

Todos os sete médicos que participam da iniciativa defenderam o isolamento total.

Para a cloroquina, as opiniões também são unânimes: não há conhecimento científico que comprove a eficácia do remédio contra o coronavírus, por isso, nenhum deles recomenda o uso.

Pedro Barbosa, presidente do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) e membro da Fundação Oswaldo Cruz, afirma esse vírus tem uma forte transmissão e a “lógica científica e abordagens mostram a importância do isolamento total e distanciamento social para transmitir menos. Temos que organizar o sistema para evitar o colapso, como estão fazendo os outros países em escala mundial. Com tanta informação não tem porquê fazermos diferentes”.

Segundo ele, mais tempo é necessário. “A doença é recente, cada dia que passa tem uma novidade. Precisamos manter o isolamento”, diz.

Dráuzio Varela afirma que o colapso do sistema de saúde está “sendo muito falado”, mas que é preciso deixar claro: “a doença provoca insuficiência respiratória, um dos sintomas mais aflitivos que o ser humano pode sentir. Na prática, como aconteceu na Itália, quem não encontrar leito na UTI vai morrer no quarto. Como lidar com isso? Assistir ao sofrimento dos outros sem ter acesso aos recursos mais modernos. É grave”, diz.

Barbosa explica que “os dirigentes do país e que tem afeto pela saúde entendem o isolamento”, mas de fato é um desafio para parte da população que precisa sobreviver à crise. “As ações precisam ser apoiadas pelos estados e governo. Eles precisam prover a renda mínima, cesta básica porque essa fatia mais carente da população vai se expor se tiver que escolher entre a fome e o risco da doença. Os governos precisam tomar medidas efetivas para que a população que mais precisa de ajuda, realmente possa ficar em casa – e isso significa renda, cuidado e auxílio”, diz.

Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Anvisa, ressalta que nunca passamos por algo assim: um pandemia em meio à tanta urbanização, tecnologia, etc. “Por isso, esse momento exige duas coisas: humildade em primeiro lugar. Quem vem acompanhando a pandemia desde o começo já viu tudo mudar em questão de horas. Precisamos ter a humildade de acatar novidades e lidar com a mudança. E nesse momento precisamos agregar um novo ingrediente, a solidariedade”, diz.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.