Mineirão é exemplo do novo (e lucrativo) modelo de negócios do futebol

Arena do Corinthians, Allianz Parque, Arena do Grêmio também são exemplos de arenas multiuso  

Giovanna Sutto

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BELO HORIZONTE* – São cerca de 300 eventos ao ano, espaço para mais de 60 mil pessoas, áreas vips, 68 bares e restaurantes. Parece a descrição de um espaço de evento? Não, se trata do estádio Mineirão, casa do Cruzeiro, em Belo Horizonte, um dos exemplos de arena multiuso que começam a se espalhar pelo Brasil.

Samuel Lloyd, diretor do Mineirão, transformou o estádio em uma casa de eventos bem-conceituada – e isso é tendência ao redor do mundo.

“O dia que o time foi campeão e a pessoa estava no estádio é inesquecível. Até meia que estava usando, não esquece.  A experiência é a alma do negócio. As pessoas vão ao Mineirão para um encontro – seja no jogo, seja em shows”, afirma em evento organizado pela Hotmart em Belo Horizonte.

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Depois da reforma para a Copa do Mundo em 2014, o estádio se tornou o primeiro no Brasil a receber o Selo Platinum do U. S. Green Building Council (USGBC), categoria máxima na certificação em liderança em energia e design ambiental.

Além disso, usa energia solar para consumo durante todos os jogos do ano, reaproveita água e esgoto para manutenção dentro do estádio. Tudo para oferecer uma experiência inesquecível e sustentável para o cliente – dois diferenciais de negócio. Continua sendo sobre futebol, mas não só isso.

Novo modelo de negócio

Cesar Grafietti, economista e especialista em análises financeiras do universo esportivo, afirma que esse novo modelo de negócio é um conceito dos estádios americanos e europeus mais novos. “É a possibilidade de fazer receita além dos jogos”, em entrevista ao InfoMoney.

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“Então costumam ter serviços adicionais, que vão desde restaurantes, passando por eventos corporativos como convenções de vendas, e alguns até espaço para casamento tem. Claro que são acessórios ao futebol, mas é possível aproveitar todos os dias um espaço enorme que ficava ocioso uma grande parte do tempo”, afirma.

Allianz Parque, Arena Corinthians, Arena do Grêmio, Beira Rio, do Internacional, Arena da Baixada, do Atlhetico Paranaense, Arena das Dunas, em Natal do Governo do Estado e Arena Pernambuco, em Recife também do Governo do Estado, são outros exemplos de arenas multiuso.

O Tottenham, da Inglaterra, gastou 1,2 bilhão de euros para fazer um estádio novo ano passado, o Milan e a Inter de Milão, da Itália, vão construir um novo estádio em conjunto para substituir o atual San Siro, que não consegue oferecer possibilidades de receitas adicionais.

“Percebeu-se que era ‘desperdício’ deixar um espaço tão grande desocupado, sendo que poderia estar gerando mais dinheiro”, afirma o especialista.

Histórico

Segundo Thiago De Rose, sócio do ReVenue, consultoria especializada em projetos de estádios e arenas, no mundo o fluxo de novos estádios sempre foi maior do que no Brasil, que enfrentou uma longa pausa nas construções.

“Desde aquela leva de estádios que foi construída no meio do século passado, como Morumbi, Pacaembu, e depois a reforma da Arena da Baixada nos anos 90, nada mais foi feito. Até o Brasil ser definido como a sede da Copa de 2014, em 2007. Depois disso, teve que construir 12 estádios novos para poder receber o campeonato no padrão Fifa”, explica em entrevista ao InfoMoney..

No fim das contas, foram 14 novas arenas. E a grande questão é que o “custo de construção de um estádio que podemos chamar de ‘moderno’ é bem maior. Tem uma área construída maior, espaço para eventos, camarote, manutenção mais completa, elevador, escada rolante, funcionários, seguro, etc”, diz.

Ou seja, o custo fixo mensal é mais alto, por isso é necessário um modelo que gere muito mais receita do que os estádios antigos. “Precisa fontes de renda mais diversificadas”, afirma.

E uma das formas que se encontrou para gerar mais dinheiro foi focar na experiência, atrair eventos e se tornar um ambiente misto. Lloyd conta que o Mineirão chegou a fazer um show do Paul McCartney, outro do cantor John Mayer e uma partida do clássico Atlético Mineiro vs. Cruzeiro na mesma semana – no passado isso jamais seria possível.

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“Em termos de negócio, um estádio desse nível começa a ter também infinitas possibilidades de mídia, tem telão, por conta de faixa de led, faixas internas, tudo com chance de contrato de publicidade, as áreas premium, eventos corporativos, entre outros.”, diz De Rose.

E complementa: “é possível também formar pacotes de patrocínio maior, com melhor entrega para o patrocinador e maior nível de engajamento do torcedor – tudo sempre alinhado com o time da casa, que é a base do negócio”.

Segundo ele, o ideal é diminuir a dependência da bilheteria na receita total do estádio, porque os jogos têm um limite, cerca de 35 ao ano em casa, se o time vai muito bem em todos os campeonatos.

Preço do ingresso

Com os novos modelos de estádio, os valores dos ingressos aumentaram – e há uma série de discussões sobre democratização e acesso aos jogos. Mas De Rose acredita que isso não exclua a população, pelo contrário abre o leque para que existam várias faixas de ingressos.

“Mais conforto, mais opções de comida, melhores banheiros, mais segurança, melhores assentos, lounges, camarotes. Mas ao mesmo tempo, você consegue ampliar as opções de valores. Desde R$ 30 ou R$ 40 para a torcida organizada ou torcedor baixa renda e vai subindo a escada até preços exorbitantes nos camarotes”, afirma. 

Um passo atrás

Todos os estádios construídos pós Copa foram pensados para serem multiuso. No entanto, De Rose explica que lá fora, principalmente nos EUA, a novidade e próxima tendência são os chamados “complexos de uso misto” – “que nada mais é do que construir uma espécie de bairro com várias construções que são ancoradas pelo estádio (que é o equipamento esportivo), só que se oferece outros tipos de ativos imobiliários anexados como o prédio comercial, hotel, espaço indoor para evento, parque, shoppings, etc”, afirma.  

Assim, o principal atrativo é o esporte, mas o cliente tem uma série de outras opções de lazer e consumo para o dia a dia. “É garantia de retorno para o investidor porque tem uma serie de fontes de receita no mesmo lugar”, finaliza. 

*A repórter viajou a convite da Hotmart.

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.