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SÃO PAULO – Não é novidade que a volta à rotina de trabalho pós-quarentena será muito diferente do que se tinha antes da chegada da pandemia. O home office está sendo aplicado em boa parte das empresas e, em muitos casos, tem funcionado bem.
Prova disso é que 40,2% das empresas não trabalhavam com a modalidade antes da crise e vão adotá-la de forma definitiva quando esse período passar, de acordo com um estudo enviado da Cushman&Wakefield em primeira mão ao InfoMoney nesta sexta-feira (8).
O estudo contou com a participação de 122 empresas de vários setores, localizadas em São Paulo e Rio de Janeiro, e entrevistou em sua maioria, presidentes, vice-presidentes e diretores que tomam a decisão sobre a implementação do home office.
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A Cushman também mostra que 45% dos entrevistados vão reduzir o espaço físico pós-crise, sendo que 30% fará isso devido à experiência de sucesso com o home office implementado temporariamente durante a crise e outros 15% farão isso por causa dos efeitos econômicos gerados pela pandemia.
Entre as empresas que reduzirão seu espaço, 25,3% afirmam que o corte será de 10% a 30% do espaço e outras 16,2% dizem que podem cortar até 50%.
Para Jadson Mendes, Head de Pesquisas e Inteligência de Mercado da empresa de serviços imobiliários comerciais da Cushman & Wakefield, o processo que vai acontecer pós-pandemia é o oposto do que o que vinha acontecendo até então.
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“Nos últimos anos, um outro processo, de maior adensamento do espaço de escritório estava se desenvolvendo. O que chamamos de ‘open space’, quando acabaram as salas dos chefes, e mais pessoas ocupam o mesmo ambiente. Agora o mundo parou e todos estão perguntando como será o escritório do futuro, já que é certo que mudará”, afirma.
Escritório do futuro
Como resultado desse processo de mudança surge o “Six Feet”, um modelo do que seria esse novo ambiente de trabalho.
Mendes conta que a Cushman & Wakefield está acompanhando cerca de 10 mil empresas na China em processo de eabertura dos negócios depois do pico da pandemia. “Estamos analisando vários modelos de retomada dos negócios e isso gerou um manual de boas práticas que vai ajudar as empresas do Brasil também. Foi nesse contexto, que o modelo de ‘Six Feet’ , que na verdade é uma medida [equivalente a 1,8 metro], se destacou”, explica.
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Na prática, o nome remete à distância entre as mesas dos funcionários que respeitando as recomendações das autoridades de saúde. “Esse modelo exige mais espaço físico. Isso significa que no caso de empresas que não vão aderir ao home office seria necessário um aumento do escritório para acomodar a mesma quantidade de pessoas sob uma nova divisão de espaço”, diz.
Veja uma simulação do novo espaço.
Segundo Mendes, no ambiente de trabalho hoje, o recomendado é que cada profissional tenha para si entre sete e oito metros quadrados de espaço. “Em coworkings essa medida cai para cerca de cinco metros quadrados, e em call centers, por exemplo, pode chegar a três metros quadrados e meio. O que comprova que muitas empresas terão que se adaptar com esse novo modelo que exige cerca de 11 metros quadrados por pessoa”, explica.
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Esse modelo que Mendes apresenta deve ser implementado por meio de um processo de seis etapas: “Adaptar o edifício, instruir os colaboradores, controlar o acesso de maneira diferente (reconhecimento facial ou até liberar entrada), criar plano de distanciamento social dentro da empresa, reduzir os pontos de toque e intensificar a limpeza da empresa e comunicar-se com confiança”, explica.
Ele pondera que essa é uma alternativa em estudo, e não a única solução possível. O ideal, segundo ele, seria a mescla de escritórios, ou seja, as empresas adotam dois a três dias por semana o home office e implementam o six feet no restante. “Assim, as pessoas podem utilizar um mesmo espaço que foi reduzido e há uma otimização”, diz.
Ainda, as empresas podem adotar home office permanente para parte dos times e manter outros times presencialmente, o que também poderia balancear a equação.
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“Mas há o risco de empresas aderirem ao home office e liberar espaço, mas outras empresas preferirem adotar modelos presenciais e precisarem de mais espaço e ocuparem esses escritórios vazios. E aí um modelo anula o outro em termos imobiliários”, pondera o especialista.
No entanto, se essa equação acima não funcionar de maneira equilibrada, as empresas que não implementarem o home office devem aumentar seus espaços físicos seguindo as recomendações de saúde. E é aí que uma série de dificuldades entram em jogo.
Mais desafios
Essa mudança no perfil dos escritórios inclui mais fatores na conta que as empresas devem fazer durante a crise: além das questões trabalhistas, precisarão rever a parte financeira e desenvolver estratégias sobre como se adaptar aos novos espaços.
“Se a empresa aderir ao home office de forma permanente, a redução de custos com aluguel do espaço pode ser uma vantagem. Mas, geralmente, esses contratos imobiliários corporativos são de longo prazo e, se a empresa quebrá-lo, paga multa. Então, a empresa não pode fazer essa mudança de uma hora para outra sem custo algum”, explica Mendes.
Além disso, esse modelo de escritório do futuro pode sair caro. “As adaptações podem custar. Os prédios novos podem contar com tecnologia, mas muitos terão que implementá-las. Principalmente, nesse começo de reabertura os custos serão altos: tem a limpeza, talvez novos espaços… tudo vai investimento”, diz.
Outro desafio é encontrar prédios com espaço. Hoje existem 76 prédios considerados classe A no centro de negócios da cidade de São Paulo, que inclui as regiões da Av. Paulista, Faria Lima, Itaim Bibi, Av. Juscelino Kubitschek e Vila Olímpia. Os dados são de um outro estudo da Cushman.
Com a vacância dos escritórios corporativos em São Paulo girando em torno de 16% atualmente, a restrição de oferta é grande. “Não tem espaço. E em áreas como o Itaim Bibi, a vacância é de 1%”, explica.
“Agora, o exercício: quais desses prédios conseguem receber inquilinos de dois mil metros quadrados de áreas contíguas, seja em um de dois mil ou duas de mil no mesmo prédio? Apenas quatro. Ou seja, essas empresas vão encontrar dificuldade em se posicionar em outro prédio por baixa vacância. Vai precisar negociar ou terá que mudar para localidades que não são as consideradas prime, que acaba sendo status para a empresa”, explica.
Justamente por isso, o mercado imobiliário corporativo não apresenta uma tendência de queda nos preços, nem maior vacância devido à crise. “Pelo contrário, o setor, que tem retomada em ciclos e mais lenta, ainda se levanta da crise de 2014 e 2015. Então, regiões ‘prime’ de SP, por exemplo, que já são caras, vão ficar ainda mais, porque o preço caiu muito logo depois de 2014 e 15 e está voltando agora cumprindo o ciclo”, diz.
Segundo dados da Cushman, o preço do aluguel na Av. Brigadeiro Faria Lima subiu 19,5% em abril de 2020 na comparação com abril 2019. Na Av. Paulista subiu 15,6% no mesmo mês deste ano comparado com abril de 2019.
“Mesmo na recessão, não podemos afirmar que os preços vão cair e as empresas que precisarem de espaço vão ter que investir. Tem pouco estoque entrando e os valores ficando mais altos. Por exemplo, neste ano a expectativa é de que 142 mil metros quadrados em novos prédios surjam em SP. Já foram construídos 12 mil metros quadrados desse total. Mas em 2019, por exemplo, o estoque foi de apenas 33 mil metros quadrados. Quando olhamos para 2013, chegou a 400 mil metros quadrados. São ciclos e o cenário diminui a vacância”, afirma o executivo.
Apesar das dificuldades, Mendes acredita que as mudanças que estão acontecendo são positivas. “Não temos como frear e todo mundo vai ter que se adaptar. Com certeza será desafiador, algumas empresas têm negócios que precisam da presença física, cada companhia vai lidar com os próprios fatores e cenários internos – para além da pandemia”, finaliza.
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