Como a Faber-Castell revolucionou o conceito do seu negócio em 3 anos

Companhia encontrou na educação criativa uma nova fonte de receita promissora, ainda que não pretenda parar de vender lápis-de-cor

Giovanna Sutto

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BELO HORIZONTE* – Muito provavelmente você já usou ou viu a caixa de lápis de cor vermelha da Faber-Castell em alguma papelaria. A marca é símbolo da infância dos anos 1990 e 2000 e, em um contexto mais amplo, da educação de muitos brasileiros. Do outro lado, a importância do país para o grupo alemão também é considerável.

A fábrica localizada em São Carlos, no interior de São Paulo, é a maior fábrica de lápis de cor do mundo. A operação do Brasil é a maior do grupo e representa um terço do faturamento global da empresa.

Mas a empresa de 258 anos, que chegou ao Brasil em 1930, está investindo em uma nova área de negócio – muito além do carro-chefe, que é o lápis de cor: a criatividade, segundo o que Fábio Carvalho, gerente de inovação da marca, explicou ao InfoMoney em uma entrevista. 

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O executivo conta que a área de inovação da empresa foi criada há três anos com o objetivo de fazer com que a marca atue em outras frentes de negócio.

“A Faber sempre foi pautada por inovação e esse caminho não é diferente – embora seja novo. Fizemos uma série de estudos com a ajuda de especialistas até achar um campo que fizesse sentido para a marca e que fosse rentável. Assim, a criatividade é nosso motor de novos negócios”, explica. 

Por isso, a empresa investiu em três principais novos braços de negócios: um espaço de criatividade e inovação no Shopping Market Place, em São Paulo, um sistema de parceria com escolas em que um espaço como como o do shopping é implementado de forma fixa e um clube de assinaturas.  

Todas as iniciativas são monetizadas. No shopping, o espaço pode ser visitado pelo público geral, reservado para eventos corporativos ou por escolas que querem levar alunos para conhecerem.As parcerias atuais são com os colégios Dante Alighieri e Mackenzie em São Paulo e até o fim do ano mais 8 escolas devem contar com o espaço.

“No primeiro caso os ingressos variam entre R$ 74 e R$ 100, e no segundo as famílias pagam um valor extra incluso na mensalidade para que os filhos tenham acesso às experiencias dos chamados micromundos – recriamos ambientes como fundo do mar e florestas para trabalhar alguns temas específicos”, explica Carvalho.

A última iniciativa é uma assinatura chamado “Fora da Caixola”, em que as crianças recebem desafios que devem ser solucionados em uma caixa. O custo é de R$ 59,90 mensais.

“Os novos negócios têm como objetivo aumentar o lucro líquido. Mas enfrentamos um desafio de mindset. Preciso sensibilizar as pessoas de que é necessário formarmos jovens criativos e isso envolve um ecossistema de pessoas – como os pais dos alunos das escolas parceiras, que precisam pagar um valor extra para que o filho tenha acesso a ideia”, diz.

Por que a criatividade?

Parece muito subjetivo, mas a companhia se debruçou sobre a educação e viu uma oportunidade de negócio. Segundo dados do Fórum Econômico Mundial de 2016, entre as habilidades mais importantes para o mercado de trabalho até 2020, a criatividade está no top três logo depois do pensando analítico e aprendizado ativo.

“Um estudo da IBM mostra que a criatividade é a habilidade mais buscada para CEOs – o mercado de trabalho está demandando a habilidade. Trabalhos repetitivos serão automatizados, assim o desenvolvimento criativo ganha espaço e valor”, afirma Carvalho.

Mas para ter impacto no mercado de trabalho, o processo precisa começar bem antes, na educação de base. “A escola não muda de formato há mais de 100 anos, aluno enfileirados, professor falando. Como formamos um aluno para o século XXI, com um sistema do século XIX e com professores do século XX? O sistema está descompassado”, diz Carvalho.

Um estudo que a Nasa fez mostra que 98% das crianças são criativas e apenas 2% dos jovens de 25 anos são – fase de entrada do mercado de trabalho.

Histórico

Em 2016, as pesquisas da área de inovação começaram e a implementação desse novo conceito de criatividade, que vem sendo colocado em prática há cerca de um ano. Por isso, Carvalho afirmou que ainda não tem dados sobre o impacto desse novo movimento no faturamento do negócio.  

“A entrada da nova área não estava ligada com alguma dificuldade financeira. Na verdade, estamos passando por uma fase de recordes de lucro líquido ano após ano. Mas se viu uma oportunidade de negócio na educação”, afirma.

O executivo não informou mais resultados da empresa. De acordo com o site oficial, a receita total do grupo em 2015 foi de 577 milhões de euros.

Carvalho explica que a Faber não está sozinha e a educação como negócio é um investimento promissor. “É sobre visão de futuro. Como a Faber pode se posicionar em outros territórios. Entendemos que a marca é maior que nossos produtos, então precisamos atuar em mais espaços”.

Mas essa nova frente de negócio não tem como objetivo se tornar maior do que o lápis de cor. “Nossos produtos continuarão como maior fonte de receita. Mas novas demandas vão surgir e o quem não tiver inserido vai perder mercado. As escolas já estão percebendo isso. Precisam entregar profissionais que sejam utilizados no mercado de trabalho”, afirma o executivo.

Segundo ele, há uma tendência dos grandes grupos de educação que cada vez mais se movimentam no sentido de ampliar sua atuação dentro do setor. “A Kroton e a Pearson [grupo de britânico] estão fazendo uma série de aquisições e investindo na educação como negocio e não só em sala de aula. Então, daqui alguns anos será um grande business e nós queremos uma fatia desse mercado”, diz.

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*A repórter viajou a convite da Hotmart. 

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.