A gestora que passou a ter 15% da Embraer — e aposta no Brasil

Maior acionista minoritária da Embraer segue os princípios do guru Benjamin Graham e acredita que ações da companhia vão valorizar

Letícia Toledo

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SÃO PAULO – A gestora americana Brandes Investment Partners anunciou na última sexta-feira que aumentou seu investimento na Embraer, de 14,4% para 15% dos papéis da companhia — isolando-se como a maior acionista minoritária da fabricante de aviões brasileira.

Seria um movimento sem surpresas, já que a mudança não foi tão expressiva, não fosse o dramático momento da Embraer na Bolsa.

No primeiro trimestre deste ano, as ações da Embraer caíram 11% — a maior baixa do Ibovespa no período. Até o dia 15 de abril, a perda acumulada no ano era de 15,41%, ou R$ 2,47 bilhão em valor de mercado.

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Para a Brandes Investment, que tem mais de 10 fundos globais e US$ 24,1 bilhões sob gestão, a desvalorização da companhia na Bolsa só serviu para aumentar seu apetite pela empresa. A Embraer é hoje a segunda maior posição no fundo de mercados emergentes e no de small caps da instituição.

Seguidora dos princípios do investidor americano Benjamin Graham, guru de Warren Buffett, a Brandes Investment leva ao extremo a estratégia de comprar ações de boas companhias na baixa e tentar vender na alta (mesmo que essa alta demore anos). A bola da vez no Brasil é Embraer. Mas, afinal, por que a Embraer?

Apesar do tão esperado acordo com a Boeing ter finalmente saído, investidores penalizam a fabricante de aviões brasileira na Bolsa por conta de seus resultados decepcionantes no segmento de jatos executivos e o futuro incerto de seu cargueiro militar KC-390.

“A venda dos jatos executivos não está vindo como o esperado, esse mercado ainda não conseguiu se recuperar da crise de 2008. Além disso, na área militar, ainda é difícil saber quais serão os ganhos com o KC-390”, afirma Ricardo de Campos, sócio fundador da gestora brasileira Reach Capital e que acompanha a Embraer há anos.

Por questões de compliance, a Brandes não se pronuncia sobre um investimento específico. Mas, quando questionada sobre o setor de jatos executivos, diz que está confiante com a empresa que tem em seu portfólio.

“A venda de jatos no mercado global não está tão forte quanto o esperado, mas, mesmo nesse cenário, a companhia na qual temos participação conseguiu aumentar seu market share. O que temos que fazer agora é esperar o ciclo do mercado retomar”, afirmou Gerardo Zamorano, diretor de investimentos da Brandes Investment em entrevista ao InfoMoney.

Ao ser questionado sobre aviões militares, Zamorano diz que a joint venture firmada entre “a companhia em que investem” e a Boeing para ampliar as vendas do cargueiro militar KC-390 vai abrir mercados até então inacessíveis ao redor de todo o mundo. “Os investidores não estão considerando o potencial real desse acordo”, afirma.

Compre barato e venda caro. No Brasil

A volatilidade e a descrença do mercado brasileiro não são um problema para a Brandes Investment. No auge da crise, entre 2015 e 2017, a gestora aumentou sua posição no país, comprando ações dos quatro maiores bancos e de estatais como Petrobras e Eletrobras.

Enquanto a mídia noticiava a prisão de empresários e políticos envolvidos na Lava-Jato, a Brandes chegou a ter 22% de sua carteira de mercados emergentes alocada nas ações brasileiras. Quando a economia melhorou, a gestora começou a vender ações.

“Iniciamos a venda no começo de 2018. Após as eleições, aproveitamos o entusiasmo do mercado para nos desfazer dos papéis de empresas ligadas a setores altamente regulamentados”, afirma Gerardo Zamorano.

Atualmente, cerca de 14% do portfólio da Brandes em mercados emergentes está no Brasil. Além da Embraer, a gestora tem participação minoritária em empresas como a companhia de energia paranaense Copel, a Telefônica Brasil, o frigorífico Marfrig, a engenheira Mills, o grupo de ensino Kroton, a Petrobras e a gestora de planos de saúde Hapvida.

A Brandes acompanha os negócios das empresas de seu portfólio de maneira discreta, sem se envolver na gestão ou nas estratégias de negócio.

Apesar da volatilidade recente no mercado acionário brasileiro, a Brandes Investment continua de olho no país. “Vamos continuar buscando boas empresas no Brasil. Acompanhamos o cenário político todos os dias e acreditamos que a reforma da Previdência vai sair”, afirma Zamorano.

O encontro com Benjamin Graham

A história do início da Brandes Investment é um daqueles golpes de sorte difíceis de acreditar. No início da década de 1970, seu fundador Charles Brandes trabalhava em uma corretora. Durante o turbulento período da crise do petróleo, um dia um senhor de mais de 70 anos chegou até Brandes para abrir uma conta e comprar ações.

Brandes levou apenas alguns segundos para reconhecer que o senhor à sua frente era Benjamin Graham. Após abrir a conta, ele perguntou se Graham aceitaria se reunir para conversar sobre investimentos. Os encontros se tornaram frequentes até Brandes adquirir conhecimento suficiente para montar sua gestora, em 1974.

Os anos mais recentes não têm sido dos mais fáceis para seus fundos (muitos investidores estrangeiros resolveram alocar seu dinheiro em fundos passivos). O Brandes Emerging Markets teve uma queda de 9,36% nos últimos 12 meses, mas acumula alta de 7,79% em 2019.

No Brandes International Small Cap, a queda em 12 meses é de 15%, mas a alta de 2019 é de 3,62%. Com ações como a da Embraer, a Brandes Investment espera mudar esse cenário nos próximos anos.

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Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.