IPO da Caixa pode repetir a euforia da BB Seguridade?

Os prós e contras da possível abertura de capital da seguradora da Caixa para os investidores  

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – A possível abertura de capital da Caixa Seguridade, subsidiária de seguros da Caixa Econômica Federal, já se transformou num dos eventos mais aguardados do mercado financeiro nacional. A dúvida é se haverá uma repetição da euforia que marcou um evento similar: a oferta inicial de ações da BB Seguridade (BBSE3), a seguradora do Banco do Brasil, em 2013.

 O IPO da BB Seguridade foi o maior da bolsa brasileira até 2013: a empresa movimentou R$ 11,47 bilhões bilhões de reais com a operação. Além disso, a ação valorizou de forma expressiva: nos dois primeiros anos, a empresa dobrou de tamanho na bolsa, enquanto no acumulado até agora, subiu 61% (o Ibovespa teve uma alta de 65%). 

A favor da Caixa Seguridade, contam dois fatores principais, segundo os analistas. Um deles é a disposição dos novos executivos para melhorar a gestão do banco. Outro é o fato de haver oportunidades de negócio a ser exploradas: a seguradora tem 90 milhões de clientes, muitos dos quais utilizam apenas um produto. A expectativa é que um melhor atendimento com maior foco comercial possa aumentar as vendas de apólices.

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Pé atrás

O problema é governança corporativa da Caixa, vista como nebulosa.  “Diferentemente do BB, a Caixa não tem histórico de negociação no mercado de ações”, diz Carlos Daltozo, Head de Renda Variável da Eleven Financial, que chegou a trabalhar na tentativa de IPO da empresa em 2015. 

“O mercado em si não conhece bem como funciona o banco em seus direcionamentos, e a gente sabe que sempre houve muita ingerência política por lá”, complementa. É possível que a nova gestão resolva esse problema, mas é cedo para saber.

Em 2015, segundo Daltozo, o mercado pretendia pagar na Caixa Seguridade um valor descontado se comparado ao múltiplo P/E (preço da ação em relação ao lucro da empresa) da BB Seguridade. Essa pretensão deve ser mantida agora.

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Graças a isso, e ao fato de ser uma empresa totalmente estatal, investidores, principalmente estrangeiros, tendem a chegar com um pé atrás nesta estreia. “A empresa teria que endereçar alguns pontos, explicar muito bem questões de governança e possíveis trocas de gestão no médio prazo”, diz Daltozo.

Tudo isto após resolver as questões de contrato com a francesa CNP Assurances e com a corretora Wiz. Um acordo de exclusividade com a parceira europeia, vale lembrar, foi o que derreteu o preço estimado para a estreia da empresa em 2015 de R$ 10 bilhões para R$ 3 bilhões. Pedro Guimarães, presidente da Caixa empossado hoje, disse ao Valor que vai analisar a renovação do contrato iniciada em 2018.  

Voto de confiança

Daltozo não nega, porém, que o sentimento geral sobre IPOs é positivo, o que pode ajudar a operação da Caixa. Também existe confiança na experiência de Pedro Guimarães. Como analista no banco Brasil Plural, ele conduziu o IPO da BB Seguridade. No Pactual, estruturou ainda as ofertas de ações de bancos de médio porte (vale lembrar que algumas instituições passaram por problemas depois da estreia na bolsa).

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André Martins, analista de setor financeiro da XP Research, acredita que o mercado acompanha o discurso de Guimarães com otimismo e está atento ao potencial de uma gigante como a Caixa no setor de seguros.

“Estamos em uma janela bem oportuna para a abertura de capital que está engavetada desde 2015”, diz o especialista. “O novo presidente [Pedro Guimarães] assumiu com uma cabeça bem aberta, um discurso bem construtivo com relação ao banco, e acho que ninguém duvida da capilaridade e do tamanho do banco”, aponta.

Se os nomes de peso da empresa seguirem demonstrando “visão sóbria”, podem ser capazes de “tirar o temor do mercado de fatores que vimos no passado, como crescimento desgovernado e níveis altos de inadimplência, complementa o analista. “Naturalmente, tudo depende de variáveis como o preço [do ativo] e o apetite dos investidores no momento [da oferta]. Pelo momento atual, acredito que o mercado daria o benefício da dúvida”.

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O exemplo do IRB

Daltozo, que também trabalhou no IPO do IRB (IRBR3), resseguradora estatal, há dois anos, acredita que a Caixa pode se espelhar neste case para a venda de seus ativos. Assim como a Caixa, o Instituto de Resseguros do Brasil teve uma tentativa frustrada de abrir capital em 2015. A empresa deu um desconto no preço da ação, o IPO saiu em 2017 e, de lá para cá, o valor de mercado dobrou. 

O analista estima que a Caixa Seguridade valha atualmente entre R$ 17 bilhões e R$ 21 bilhões. Para fazer este cálculo, levou em consideração um crescimento de lucro em 2019 de 8,7% e o múltiplo Preço/Lucro atual da BB Seguridade. Comparativamente, a BB Seguridade vale atualmente R$ 56,7 bilhões, e o IRB, R$ 3,5 bilhões.

No IPO, porém, deve ser listada uma fatia entre 25% e 50% do capital da Caixa Seguridade. Com isso, a empresa deve levantar algo entre R$ 4,2 bi e R$ 10,5 bi para seu caixa.  

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney