Gestor questiona rumo de generosa pagadora de dividendos e pede mudanças na empresa

Em carta enviada à Eternit, a gestora SET Investimentos mandou uma carta ao conselho de administração, sugerindo que demitisse diretoria e diminuísse os custos drasticamente; no atual rumo que a companhia está, aponta, pequenos investidores podem se "surpreender"

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A administração da Eternit (ETER3) é mais uma que está sendo questionada por acionistas descontentes com rumo da companhia. A gestora de recursos Set Investimentos mandou uma carta ao conselho de administração da companhia, sugerindo que a empresa demitisse a diretoria e diminuísse os custos drasticamente, de modo a reduzir o seu endividamento. 

Em entrevista ao InfoMoney, um dos sócios da Set Investimentos, Tiago dos Reis – que assinou a carta pedindo mudanças na companhia -, destacou que um dos principais problemas são as altas despesas que a Eternit incorre, principalmente na classificação gerais e administrativas. Apesar da tese de investimento não ser a mesma que a Duratex (DTEX3), o case é comparável, aponta, a Eternit gasta quase o mesmo que a empresa, mas produz quatro vezes menos. 

Reis também critica os investimentos que a companhia passou a fazer nos últimos anos e que aumentaram o seu endividamento, como o investimento de R$ 97 milhões para a criação de uma fábrica de louças no Ceará, além da fabricante de telhados de concreto Tégula, que possui menor rentabilidade.

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Contudo, Reis ressalta que não quer que a companhia desfaça dos seus investimentos, destacando que neste momento seria muito pior revertê-los. A diretoria deve mudar os rumos dos próximos gastos, mas “seguir tocando” o que já está sendo feito, aponta Reis. “A própria diretoria da Eternit assumiu, na última reunião da Apimec [Associação Nacional dos Analistas e Profissionais de Investimento de Mercado de Capitais], que os investimentos foram fracos”, avaliou o sócio do Set, destacando que as mudanças devem vir, num primeiro momento, pelo corte de despesas e avalia: “não sou contra a diversificação, mas sou contra a diversificação mal feita”. 

Dentre as medidas a serem tomadas, Reis apontou para o corte da remuneração dos diretores da companhia, mudança de sede, entre outros. Na carta, a Set ressalta que que a remuneração da diretoria mais do que dobrou, passando de R$ 6,4 milhões para R$ 15,4 milhões entre 2008 e 2013. Por outro lado, os retornos da empresa pioraram. “Com a contenção de despesas, o lucro da companhia poderia ser 40% maior”, afirmou. Os números de endividamento se refletem sobre os múltiplos da companhia: atualmente a R$ 8,40, as ações da Eternit negociam a cerca de sete vezes o lucro estimado para o ano de 2014, o que é considerado baixo pela Set. Ao mesmo tempo, o retorno sobre o patrimônio líquido caiu de 36% em 2008 para 21% no ano passado. 

Vale ressaltar ainda que, no quarto trimestre de 2013, a Eternit informou ter encerrado o período com uma dívida líquida consolidada de R$ 33,7 milhões, perante um caixa de R$ 15,6 milhões de um ano antes. 

Política de dividendos
Apesar dos números preocupantes, uma boa parte dos acionistas não olha atentamente para a evolução dos números do balanço da Eternit, o que é um grande fator de preocupação para Reis. Ele destaca que, ao longo dos anos, um grande número de pequenos acionistas voltou seus investimentos em papéis da empresa devido ao pagamento de dividendos. A companhia paga com regularidade os R$ 0,80 por ano e os R$ 0,20 trimestrais aos seus investidores. 

Durante muito tempo, isso foi o suficiente, já que a companhia tinha caixa para isso. Mas, com os altos investimentos, a fonte começou a secar e, para manter a sua política, ela passou a se endividar, o que não é sustentável. Estes pequenos investidores, juntos, correspondem a boa parte do capital da companhia: 55% do capital dela está em posse de acionistas com uma participação menor do que 1%.

E, por isso, caso a “torneira seque” de vez para a Eternit e ela tenha que cortar seus dividendos para se sustentar, este grupo deve ser o mais afetado, que não está tão atento aos números da companhia. “Quando estes pequenos investidores se atentarem a isso, pode ser tarde demais”, apontou. 

Enquanto pequenos acionistas detêm aproximadamente 55% do capital da empresa, três dos maiores investidores em Bolsa, Luiz Barsi Filho, Lírio Parisotto e Victor Adler possuem 40% do capital. Reis não fala quem está aderindo ao seu apelo para mudar a administração da companhia, mas afirma que há muitos investidores interessados em mudar os rumos da Eternit. Procurado pelo InfoMoney, a Eternit comunicou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentará o assunto. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.