“Nunca subestime o poder da sua voz”, diz Malala Yousafzai

Na Expert, Malala e seu pai falaram da força das ações individuais e da importância dos homens no combate à desigualdade de gênero

Giovanna Sutto Priscila Yazbek

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SÃO PAULO – Malala Yousafzai, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2014 e cofundadora da Fundação Malala, fechou a programação da Expert XP 2020 neste sábado (18) dizendo que as grandes lições da sua jornada em busca do direito universal à educação e pela emancipação feminina foram a importância das ações individuais e acreditar no poder da sua voz.

“Nunca subestime o poder da sua voz e essa é a mensagem que eu quero espalhar pelo mundo, para pessoas que não acreditam em si mesmas, por causa de sua idade. A idade nunca me limitou. Não importa se você tem 14 anos, 17, 30 ou 40. Você pode ser a mudança que você quer ver”, disse a jovem paquistanesa de 22 anos.

Ela também falou sobre a força das pequenas atitudes. “Às vezes nós pensamos: eu sou apenas uma voz, minha voz é pequena, eu tenho apenas 11 anos, como eu posso ser a mudança? Tem tanto a ser feito, discriminação de gênero, pobreza, como eu posso ser a pessoa que vai contribuir para mudar o mundo? Mas eu percebi que podemos fazer nossa parte com pequenos passos”, afirmou.

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Aos 15 anos, Malala foi baleada por membros do grupo terrorista Talibã. Ela foi acusada pelo crime de se manifestar contra a proibição dos estudos para as mulheres em seu país, o Paquistão. Depois de passar por uma cirurgia, foi transferida para o Reino Unido, onde recebeu tratamento e se recuperou.

Em 2014, Malala se tornou a pessoa mais jovem do mundo a receber um Nobel da Paz, com apenas 17 anos. Seu reconhecimento global é baseado principalmente na defesa pelos direitos humanos das mulheres e no acesso à educação na sua região natal, Khyber Pakhtunkhwa.

Malala falou que após ser baleada sentia medo “todo o dia e toda a noite”. “É difícil descrever o que o medo significa, o que a guerra significa, o que o conflito significa, esses são os tipos de situações que você só vê pelas telas, se sente sensibilizado, mas é muito difícil viver isso.”

Ao ser questionada se pensou desistir, ela disse que, mesmo nos momentos em que ninguém a escutava, ela refletia: “Eu não acredito que a mudança acontece sem ação, então nós precisamos de alguém que tome a dianteira e que seja a voz da mudança, é assim que a mudança acontece e nós vimos isso na história com pessoas como Nelson Mandela, Martin Luther King e muitos outros líderes.”

Falta de investimento

Durante o painel, mediado por Marta Pinheiro, diretora-executiva de ESG (sustentabilidade, social e governança) da XP, Malala disse que existem muitas razões, em diferentes contextos ao redor do mundo, que fazem com que as mulheres sejam privadas do acesso à educação. Mas ela ressaltou que a falta de investimento é uma das mais graves.

“A falta de financiamento é um dos principais fatores. Quando você compara o nível de investimento dos governos com o de organizações privadas, a diferença é muito grande. No geral, os países não gastam parte relevante de seus PIBs [Produto Interno Bruto] e orçamentos com educação”, afirma.

Ela afirmou que esse suporte financeiro deve ser dedicado especialmente às educações primária e secundária e deve levar em consideração a desigualdade de gênero.

“Os governos precisam ter uma sensibilidade maior em relação às questões de gênero. Por vezes, há investimentos na educação primária, mas quando se trata de meninas, muitas saem da escola na fase da adolescência, seja por pressões sociais, seja por uma gravidez precoce, por exemplo. É preciso ter um olhar mais focado também nos ensinos fundamental e médio”, diz.

Ela destacou um segundo ponto, que explica por que 130 milhões de meninas ainda estão fora da escola ao redor do mundo: as normas e os padrões sociais.

“Essas regras sociais que excluem as meninas das escolas, que afirmam que mulheres não podem dirigir, não têm os mesmos direitos e nasceram apenas para serem esposas e mães. Essas normas limitam o espaço das mulheres no mundo. Precisamos desafiar esses conceitos e divulgar a mensagem de que a mulher pode ser quem quiser e ela tem o poder de escolha sobre isso”, complementou.

Apoio do pai

A conversa também contou com a participação do pai de Malala, Ziauddin Yousafzai, cofundador da Fundação Malala. Ao falar sobre a decisão de criar uma escola de meninas no Vale do Swat, Paquistão, ele ressaltou o papel transformacional da educação na vida de qualquer pessoa.

“Eu cresci em uma família em que minhas cinco irmãs nunca foram à escola, em que meus pais tinham grandes sonhos para mim, mas para elas o objetivo era apenas achar um marido o mais rápido possível. A educação tem um efeito poderoso na vida de qualquer um e eu acreditei que poderia ajudar. Comecei a escola para educar minha filha, mas também para educar e empoderar minha comunidade”, afirma.

Ele conta que sempre foi criticado por apoiar e incentivar o espaço da filha como voz ativa na defesa da educação e direito da mulher. “Mas nunca me importei com o que ninguém disse. Eu fui firme e a defendi sempre. Como pai, dei o meu melhor para me opor aos padrões e derrubar esses tabus que poderiam impedir o crescimento dela”, disse.

Para Yousafzai, se os pais não derem o exemplo de igualdade de gênero dentro de casa, os filhos não terão em quem se espelhar. “E vira um ciclo em que as meninas morrem como se nunca tivessem nascido de verdade, sem espaço, sem voz. Não me pergunte o que eu fiz, me pergunto o que eu não faço. Não cortem as asas das suas filhas, deixem elas voarem na direção que quiserem”.

Malala complementou o pai, afirmando que na luta pela igualdade de gênero, o homem tem um papel a desempenhar.

Segundo ela, muitas amigas na infância também tinham voz ativa e se posicionavam perante os problemas de desigualdade. “Mas no momento em que atingiram a idade em que a sociedade diz que precisam se casar, seus pais e irmãos não as apoiaram, e elas foram caladas. Eu não era especial, a diferença foi que meu pai não me impediu de falar. Esse apoio do pai, da comunidade pode mudar tudo”, disse.

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.