Estratégia de preços da Petrobras não sobrevive à pressão política, avalia S&P

"Atualmente, a incerteza é o nome do jogo para a política de precificação de longo prazo da Petrobras", aponta o relatório

Fredy Alexandrakis

Publicidade

SÃO PAULO – Se, depois das intervenções do governo resultantes da greve dos caminhoneiros, alguém ainda acreditava que a política de preços da Petrobras seria longeva, um relatório da agência de classificação de risco Standard & Poor’s indica que isso é pouco provável: “incerteza é o nome do jogo”, afirmam.

A equipe de analistas da S&P avalia que a atual política de preços da estatal, que busca a paridade aos preços internacionais através de reajustes diários, é benéfica à sua saúde financeira. A reputação da Petrobras é fortalecida pela transparência da política, que tem impulsionado maior geração de fluxo de caixa, visibilidade e rentabilidade – fatores importantes à captação de recursos da empresa.

No entanto, continua o relatório, enquanto a petrolífera não atingir maior independência do governo, sua política de precificação continuará sujeita à mudanças no longo prazo. A dinâmica de preços dos combustíveis exerce grande influência sobre a inflação nacional, e tendo que a Petrobras é um quase-monopólio controlado pelo governo, suas estratégias sempre serão ponto de contenda e pressão social.

Continua depois da publicidade

“A longevidade de uma estratégia de preços que vise exclusivamente maximizar os retornos para a empresa dependerá do fato de a população do Brasil se acostumar com a volatilidade nos preços locais, incluindo aquela relacionada às oscilações nos preços globais de energia e na taxa de câmbio. Nesse ínterim, provavelmente continuaremos vendo mudanças nas políticas da Petrobras”, diz a S&P. Como bem demonstrou a recente greve dos caminhoneiros, parece que essa resignação está longe de vista. 

A Petrobras segue agora com as consequências das intervenções governamentais sobre os preços do diesel. Embora uma alteração de dezembro de 2017 no Estatuto Social da empresa determine que o Estado tem a obrigação de restituí-la em casos como este, os subsídios não fizeram bem à percepção do mercado sobre a autonomia da estatal.

Ainda assim, esse tipo de movimentação já está prevista no rating da S&P, assim como o apoio que o governo muito provavelmente daria à Petrobras em uma situação de grande estresse financeiro.

Continua depois da publicidade

Na análise da agência, a empresa ainda pode registrar bom desempenho com uma metodologia que atenue os impactos da flutuação dos preços do petróleo em épocas de alta volatilidade, sem se distanciar demais das curvas internacionais. “Atualmente, porém, a incerteza é o nome do jogo para a política de precificação de longo prazo da Petrobras”, conclui o relatório.