Estádio inteligente já é realidade no mundo; entenda o conceito e como vai funcionar o primeiro do tipo do Brasil

No Brasil, estádio do Atlético Mineiro quer encabeçar guinada tecnológica das arenas esportivas na América Latina

Wesley Santana

SoFi Stadium, em Los Angeles, nos EUA, é um dos estádios mais modernos do mundo. Foto: Divulgação

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Se algumas inovações como a bola de futebol carregando na tomada -para alimentar o sensor interno de geolocalização- chamou a atenção de quem acompanha a Copa do Mundo do Catar, os estádios inteligentes (ou smart stadium, em inglês) prometem deixar o público boquiaberto. Esses espaços são arenas esportivas que usam da tecnologia para conectar os visitantes -ou quem assiste de casa- ao espaço físico.

Em um mundo cada vez mais digitalizado, os donos de estádios e clubes estão correndo atrás da inovação para entregar um evento ainda mais satisfatório aos frequentadores. O investimento, claro, também tem um incentivo financeiro. O mercado de tecnologia esportiva deve quase dobrar de US$ 21,9 bilhões em 2022 para US$ 41,8 em 2027 segundo um relatório da consultoria MarketsandMarkets.

Esse crescimento, estima o estudo, pode ser atribuído ao foco crescente em encantar e envolver os fãs nos estádios usando a tecnologia tanto para melhorar o desempenho das equipes quanto na adoção de tecnologias diversas.

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Muitos estádios de diversos países já entraram no ‘campeonato’. É o caso do Allianz Arena, do Bayern de Munique, na Alemanha, considerado um dos mais modernos do mundo. O espaço conta com mais de 1,6 mil pontos de rede sem fio de alta velocidade, o que permite que mais da metade do público transmita o jogo ao vivo pelas mídias sociais sem prejuízo de conexão.

Nos Estados Unidos, o destaque é o SoFi Stadium, equipado com a tecnologia Digital Twin (gêmeo digital, em português), que cria uma versão virtual do espaço com dados coletados em tempo real. Com isso, por meio da inteligência artificial, os organizadores conseguem fazer toda a gestão operacional do estádio no mesmo instante em que um jogo ou show está acontecendo.

Um estádio inteligente é planejado para ir além do campo esportivo -seja ele de futebol, basquete ou vôlei-, usando ferramentas de inovação para colocar o torcedor no centro da jornada, em um ecossistema que une o físico e o digital. A infraestrutura que envolve essas arenas modernas começa muito antes da partida, ainda durante a compra de um ingresso, conforme destaca Amir Somoggi, sócio-diretor da consultoria esportiva Sport Value.

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“Desde o momento em que você pensa em ir para o jogo, o estádio inteligente já entra em operação. Estamos falando de cashbacks, promoções, orientações de trânsito, acessos aos espaços e até das compras dentro das arenas. Também tem a questão do pós-evento, que dá ao publico a possibilidade de assistir o replay da atração em câmeras exclusivas, por exemplo. O fã tem centenas de opções para receber qualquer outro conteúdo complementar”, pontua.

Em casa, mas também dentro de um estádio inteligente

A adaptação dos estádios à realidade do século 21 passa também por se reinventar frente a um mundo que avançou digitalmente com velocidade nos últimos anos. A maior parte dos torcedores ainda prefere visitar um local físico, mas há aqueles que já optam por experiências virtuais e, em muitos casos, facilitadas no conforto de casa.

No plano de fundo dessas arenas digitalizadas está a internet 5G, que oferece uma conexão de alta velocidade para transmissão de dados com baixa latência. É ela quem proporciona serviços como de realidade virtual e realidade aumentada, que pode, em um futuro próximo, levar à casa do fã a reprodução do campo esportivo.

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“A estratégia de um estádio inteligente passa por entender como a tecnologia vai afetar a experiência do espectador na arena ou em casa. Com um óculos de realidade virtual, por exemplo, sentado no sofá, vai ser possível também estar dentro do estádio que tem uma capacidade física limitada. Toda inteligência que se tem dentro de um ecossistema de estádio inteligente pode se transformar em consumo”, pontua Amir. 

Por isso, o especialista defende que desenvolver serviços que permitam a interação de um torcedor à distância também é um caminho para aumentar a receita dos clubes. Isso porque, com novos serviços, o caixa não se resumiria à publicidade, licenciamento e faturamento dos dias de jogos, como acontece hoje, mas também incluiria um conjunto de ações que integram milhões de pessoas que podem consumir conteúdo relacionado aos eventos em qualquer lugar do mundo.

MRV Arena quer ser o primeiro estádio inteligente do Brasil.

Casa do Atlético Mineiro, em Belo Horizonte, MRV Arena deve ser inaugurada no primeiro trimestre de 2023. Foto: Divulgação

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MRV Arena marca o primeiro gol

No Brasil, a MRV Arena -casa do Atlético Mineiro– pretende levantar a bandeira de ser o estádio mais inteligente do país e concorre ao primeiro lugar na América Latina. Previsto para ser inaugurado no primeiro trimestre de 2023, o espaço deve trazer ao menos 40 novidades que envolvem tecnologia: de novos modelos de iluminação do campo à dispensa do uso de dinheiro físico dentro das instalações.

Para isso, um aplicativo que deve integrar todos os serviços oferecidos lá dentro está em desenvolvimento. Segundo explica o CIO da Arena, Leandro Evangelista, responsável pela implantação tecnológica, o frequentador vai poder adquirir os ingressos, acessar o local, fazer compras e até gamificar a visita pela tela do celular, no que ele chama de “jornada do fã”.

“Uma das maiores novidades é o super app, algo inovador, que será o centro de gravidade da Arena MRV. O torcedor terá o conforto de, por exemplo, comprar alimentos e bebidas mesmo antes de chegar à arena. A ideia é que não haja circulação de dinheiro em espécie na casa do Galo, mas caso o frequentador opte por não usar o aplicativo, ele poderá carregar cartões para o consumo em caixas físicos na Arena MRV, semelhante ao que já ocorre em grandes parques mundiais, como os da Disney”, detalha.

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O projeto tecnológico começou a ser produzido depois que uma equipe do Atlético visitou estádios norte-americanos que já seguem essa tendência e oferecem uma verdadeira experiência aos visitantes. A ideia é sair da visita simplista que muitos estádios entregam hoje e tornar a presença do torcedor ou fã mais interativa e até imersiva.

Toda essa inovação tem um custo. Para amortecer esses investimentos, o clube de Belo Horizonte fechou parcerias comerciais com fornecedores que vão ter suas marcas dispostas em todo o terreno. Além disso, em 2017, o Atlético vendeu o direito de nomear o espaço por R$ 60 milhões à construtora da família Menin com direito de exploração por 10 anos.

“O mundo hoje é tecnológico, e as arenas não podem fugir desse padrão. Além da tecnologia auxiliar em toda a experiência do torcedor, para que ele seja muito bem tratado do momento em que fica sabendo de um evento, passando pela compra de ingressos, acessos, consumo e até a ida dele para casa, entendemos que a tecnologia é um importante ativo comercial para as arenas. Podemos também citar que ter um estádio inteligente é uma forma de ajudarmos o meio ambiente, com utilização de recursos energéticos e de automação sustentáveis”, finaliza Evangelista.