Estácio vê com otimismo captações de alunos após lançar produto próprio de financiamento

O esquema de parcelamento da Estácio foi lançado neste ano como parte dos esforços para garantir tíquete médio mais elevado

Reuters

Sala de aula (Foto: Shutterstock)

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SÃO PAULO – A Estácio Participações, segunda maior empresa de ensino superior privado do país, está otimista quanto à captação de estudantes para o primeiro semestre de 2017 e espera atrair tantos alunos quanto no ano passado, apesar de cortes em despesas com publicidade e custo docente, afirmou à Reuters o presidente-executivo da empresa, Pedro Thompson.

Entre os fatores que contribuem com os esforços para captar novos estudantes, o executivo citou a criação de um novo programa de financiamento privado, no qual os alunos ingressantes pagam pelo menos 30 por cento das mensalidades durante o curso e o saldo devedor é quitado quatro anos após a graduação.

O esquema de parcelamento da Estácio foi lançado neste ano como parte dos esforços para garantir tíquete médio mais elevado, estabilidade da geração de caixa, melhorar o perfil da base de alunos e conter os níveis de evasão. Antes de introduzir o programa, a empresa oferecia descontos de até 50 por cento para impulsionar as matrículas, observou Thompson, que ingressou na Estácio em maio e foi eleito presidente-executivo no fim de setembro do ano passado.

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“Estamos usando nosso próprio balanço para financiar os alunos. Nenhuma das outras opções de financiamento privado disponíveis atendiam aos nossos estudantes”, afirmou o executivo em entrevista para a Reuters. Segundo ele, é preferível prorrogar o prazo para pagamento do curso em vez de conceder descontos agressivos logo no início.

Inicialmente, apenas os novos alunos serão contemplados com a modalidade de parcelamento, mas o benefício poderá ser estendido para estudantes que já estão cursando a graduação.

O atual ciclo de captações termina em março e a expectativa é de que 10 por cento dos novos alunos recorram ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), disse Thompson, ante cerca de 20 por cento em 2015.

A estratégia da Estácio ilustra os esforços de empresas de educação superior para encorajar as matrículas e, ao mesmo tempo, garantir uma base de alunos sustentável em meio a incertezas sobre o futuro do Fies. Três ou quatro anos atrás, lembrou o executivo, cerca de 60 por cento dos estudantes dependiam do programa governamental.

“Não creio que o governo não cumprirá o proposto para 2017, o Fies não me preocupa”, afirmou Thompson ao ser questionado sobre as potenciais mudanças na estrutura do programa. “Meu foco é o aluno e meu objetivo é retenção. Não vou deixar aluno evadir”, completou.

Em relação à estratégia de marketing, ele destacou que a companhia está regionalizando as campanhas publicitárias, que tendem a ser mais eficientes e menos caras que as nacionais. “Estão muito mais enxutas e cirúrgicas”, disse. Idealmente, a Estácio pretende manter os gastos com publicidade em torno de 6,5 a 7 por cento da receita líquida anual, o que Thompson avalia como um “indicador saudável”.

Fusão com a Kroton
A Estácio está no processo de fusão com a Kroton Educacional, depois de aceitar a proposta de aquisição feita pela rival no ano passado, em um acordo avaliado em 5,5 bilhões de reais e que deve criar a maior empresa de educação superior privada do mundo. Anunciada em julho do ano passado, a operação está na mira de concorrentes, grupos de defesa do consumidor e órgãos reguladores, uma vez que criará uma empresa gigante com 10 vezes mais alunos matriculados que a rival mais próxima.

Em novembro, a Reuters reportou que a Kroton avaliava se desfazer de 100 por cento dos negócios de ensino a distância (EAD) da Estácio para garantir a aprovação da aquisição no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas Thompson afirmou que há uma vasta gama de possibilidades, sem entrar em detalhes sobre as principais. A operação foi submetida ao Cade em 31 de agosto e, de acordo com Thompson, o órgão deve divulgar um parecer até o fim de julho. No início de dezembro, a superintendência do órgão antitruste considerou a fusão como complexa e encomendou ao seu departamento de estudos econômicos um estudo quantitativo sobre os impactos concorrenciais do negócio.

Enquanto a aprovação está pendente, a Estácio seguirá focada em medidas para redução de despesas diversas, incluindo custo docente e de publicidade, disse Thompson. Após fechar três campi no Estado do Rio de Janeiro, onde a empresa concentra 40 por cento de suas operações, Thompson espera economizar 18 milhões de reais por ano com aluguéis e manutenção das instalações.

O executivo ainda minimizou o impacto do forte desequilíbrio nas contas públicas do Rio de Janeiro sobre os negócios da Estácio. O Estado atualmente negocia com a União um acordo de recuperação fiscal. “A dificuldade não é tão grande porque o funcionalismo público não é nosso alvo”, explicou.

Para 2017, Thompson avalia que as condições macroeconômicas sugerem um primeiro semestre ainda desafiador, mas acrescentou que uma série de mudanças no quadro de executivos da Estácio e a introdução de práticas contábeis mais rígidas devem permitir ao grupo entregar resultados mais fortes.