Entenda por que investidores estão assustados com a Embraer; ação desabou até 15%

Entre balanço, guidance para este ano e queda do dólar, fabricante de aeronaves vive um dos seus piores dias na Bovespa enquanto boa parte das ações disparam nesta sessão

Paula Barra

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SÃO PAULO – O ano de 2016 mal começou e já faz sua 3ª vítima na Bolsa. Se o mercado temia sobre os números do 4° trimestre das empresas, um outro fator tem levado ações a fortes queda nesta temporada de balanços. Não que os resultados de 2015 tenham vindo bons, mas uma apreensão muito maior do mercado tem surgido após empresas lançarem suas projeções para este ano. A Embraer (EMBR3) – que divulgou seu balanço hoje cedo – já é a terceira “vítima” na Bolsa de um guidance “assustador” para 2016. Uma breve perspectiva mostra que, no mês passado, os papéis do Itaú Unibanco (ITUB4) e BRF (BRFS3) desabaram também por projeções ruins para este ano. Suas ações desabaram 8,7% e 7,7%, cada, após divulgação dos balanços, que vieram juntamente com seus guidances. 

A história se repetiu hoje com Embraer, que viu sua ação afundar até 15,12%, a R$ 24,70 na mínima do dia, indo para o menor patamar desde outubro de 2015. O movimento negativo deste pregão veio na sequência de mais dois dias de quedas. Nesses três pregões, os papéis da fabricante de aeronaves desabaram 17%. Antes do derrocada, as ações operavam próximas da máxima histórica (alcançada em 30 de novembro, quando fechou cotada a R$ 30,36). 

Mas o que assusta tanto o mercado?
Basicamente, o guidance pior do que o esperado, que aliado a um balanço abaixo das projeções do mercado para o 4° trimestre e a queda nesta sessão do dólar frente ao real, traz tanta apreensão aos investidores e levava os papéis para um de seus piores pregões da história, em dia de euforia na Bolsa brasileira. Junto com a Embraer, somente mais 10 das 61 ações do Ibovespa caíram hoje. Prejudicadas pela desvalorização do dólar, as ações das empresas de papel e celulose Fibria (FIBR3, R$ 35,69, -10,66%), Suzano (SUZB5, R$ 13,39, -9,78%) e Klabin (KLBN11, R$ 20,50, -3,94%) preencheram o quadro das 4 maiores quedas do Ibovespa, lideradas pela Embraer. 

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Nas projeções para 2016, a fabricante de aeronaves espera que suas receitas totais devem ficar na faixa entre US$ 6 bilhões e US$ 6,4 bilhões, enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) em 2016 deverá ficar entre US$ 800 milhões e US$ 870 milhões, com margem entre 13,3% e 13,7%. Quanto ao resultado operacional (Ebit), a expectativa da Embraer é que atinja entre US$ 480 milhões e US$ 545 milhões neste ano, com margem entre 8% e 8,5%.

Em relatório divulgado nesta manhã, o BTG Pactual ressaltou que o problema principal ficou com as margens, que foram “bem conservadoras” na visão do banco. As estimativas para margem Ebit do BTG era de 10% este ano, contra faixa entre 8% e 8,5% estimado pela empresa. 

Na mesma linha, o Bradesco BBI falou que o guidance foi “pior do que suas projeções mais pessimistas”. O banco reiterou recomendação “underperform” (desempenho abaixo da média) para os ADRs (American Depositary Receitps) da Embraer, com preço-alvo sendo cortado de US$ 28,00 para US$ 25,00. “Com um nada atrativo valuation de 20,2 vezes o P/L (Preço Por Ação/Lucro) de 2016, nós continuamos vendo alguns riscos potenciais para o case”, comentou a equipe de análise do Bradesco BBI, chefiada por Victor Mizusaki, em relatório desta quinta-feira.

No 4° trimestre, a Embraer teve lucro líquido atribuído aos acionistas de R$ 425,8 milhões , avanço de 76% em relação ao mesmo período do ano anterior, e Ebitda em R$ 628,9 milhões, queda de 14% na mesma base de comparação. Já a receita avançou em 52,2% de outubro a dezembro, para R$ 8 bilhões.