Em corrida para bater metas de diversidade, Magazine Luiza terá 2º programa de trainee exclusivo para pessoas negras

Empresa de e-commerce busca aumentar seu número de lideranças pretas e pardas para 56,1%, refletindo a composição da sociedade brasileira

Mariana Fonseca

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SÃO PAULO – O Magazine Luiza (MGLU3) abre nesta terça-feira (21) as inscrições para seu programa de trainee de 2022. Assim como na edição anterior, o processo aceitará apenas candidatos negros. A empresa de e-commerce acumula 150 trainees, 30 deles auto identificados como pretos ou pardos.

A primeira turma exclusiva para pessoas negras divulgou os 19 candidatos selecionados em dezembro de 2020. Esses trainees terminam seu processo em janeiro de 2022, quando começará a segunda turma.

“A decisão do ano passado veio de uma anomalia, de um problema nosso de falta de lideranças negras. (…) E decidimos que um ano pontual não iria resolver, que a diferença ainda era grande”, afirmou Frederico Trajano, CEO do Magazine Luiza, em coletiva de imprensa realizada nesta terça-feira.

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Metas de diversidade no Magazine Luiza

O programa de trainee de 2022 dá continuidade ao projeto de diversidade racial no Magazine Luiza. Patricia Pugas, diretora-executiva de gestão de pessoas da empresa, afirmou que o objetivo é reproduzir a composição brasileira de raças no quadro geral e de líderes do Magazine Luiza.

De acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE), 56,1% da população do país é negra. Um censo feito pelo Magazine Luiza neste ano, com 77% dos 40 mil funcionários da empresa, apurou que 51,8% deles se consideram pretos ou pardos.

Apenas entre as lideranças, a porcentagem de pessoas negras é de 41,5%. Em uma pesquisa mais qualitativa feita pelo Magazine Luiza em 2019, a participação era de apenas 16%. “O programa de trainee funciona como o principal caminho de crescimento para essas baixas porcentagens na liderança”, disse Trajano.

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Depois desse período como trainee, os selecionados costumam virar analistas seniores em alguma área da empresa. O cargo está logo abaixo de uma posição de liderança.

Além do programa de trainee para pessoas negras, o Magazine Luiza citou na coletiva de imprensa outras ações para aumentar a diversidade entre suas lideranças. A empresa tem uma consultoria interna que sugere e critica iniciativas, posicionamentos e políticos de inclusão. O grupo é chamado de Quilombo Magalu.

O Magazine Luiza também tem cotas em programas de capacitação. O Luiza Code, programa de formação de mulheres para a área de tecnologia, teve 50% das vagas nas primeiras turmas reservadas para mulheres negras. Em seis meses, foram 100 pretas e pardas certificadas em programação.

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Nas empresas brasileiras como um todo, a participação de jovens negros e negras nos programas de estágio, trainee e jovens executivos mais que dobrou entre 2019 e 2020. O número de contratações desses jovens aumentou 118% no período, segundo estudo do grupo Cia de Talentos, empresa de processos de atração, seleção e desenvolvimento de jovens e média gestão. Em empresas como Basf, Bayer, Bunge, Itaú (ITUB4), Nestlé, Pepsico (PEPB34), PwC, Suzano (SUZB3), Telefônica Vivo (VIVT4) e Unilever (ULEV34), os percentuais de contratação dos jovens negros e negras superaram 42% do total de contratados.

Haverá uma nova onda de críticas?

Patricia espera alguma reação ao anúncio da segunda turma de trainees exclusivamente negros do Magazine Luiza. Durante a primeira edição, críticas nas redes sociais sobre a preferência para pessoas negras viraram até denúncias de “racismo reverso”. Tais alegações foram depois rejeitadas pelo Ministério Público do Trabalho. Para o MPT, não houve violação trabalhista, e sim uma ação afirmativa de reparação histórica.

“Com o racismo estrutural que vivemos, esperamos uma reação. Mas, como brasileira, espero que ela não seja nem 10% do que vimos no ano passado”, disse Patricia na coletiva. “Toda essa polêmica teve apenas uma vantagem: uma maior divulgação do programa de seleção”. Em 2020, foram mais de 22 mil inscritos.

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Como será o processo seletivo?

Esta segunda edição de programa de trainee exclusivamente para pessoas negras terá requisitos similares aos da primeira edição. A empresa aceitará candidatos formados entre dezembro de 2018 e dezembro de 2021, em qualquer curso superior.

Não é preciso ter fluência em inglês, nem experiência profissional anterior. O Magazine Luiza afirma não avaliar idade ou instituição de ensino dos candidatos. O selecionado que morar fora da cidade de São Paulo receberá auxílio moradia. O programa é aberto inclusive para funcionários atuais do Magazine Luiza.

O processo é composto por seis etapas: teste online; vídeo de apresentação profissional; entrevistas com profissionais de gestão de pessoas; entrevistas por diretores de áreas; entrevistas com a diretoria executiva; e entrevistas apenas dos finalistas com Frederico Trajano.

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Todos os trainees terão um salário de R$ 6.600 e benefícios como PLR; vale-alimentação ou vale-refeição; vale-transporte; planos médico e odontológico; Gympass; Univers; descontos em produtos; home office híbrido; frutas no escritório; liberdade de dress code; previdência privada; bolsa para estudar inglês; e uma grade de desenvolvimento exclusiva para aceleração de carreira, com rotação de cargos e sessões de mentorias. A ideia é novamente selecionar entre 10 e 30 candidatos na segunda edição do programa de trainee exclusivo para pessoas negras.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.