Disputa entre Gafisa (GFSA3) e gestora promove disparada nas ações

Esh questiona aumento de capital da companhia e impasse sobre assembleia geral desmontou posições vendidas; AGE ocorre em 9 de janeiro

Rikardy Tooge

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Uma disputa entre a Esh Capital e o grupo controlador da Gafisa (GFSA3) promoveu uma forte alta das ações na B3 desde quarta-feira (28), quando o papel subiu 27,2%. Nesta quinta-feira (29), subiu 22,4%, a R$ 9,90.

O impasse envolve, entre outras coisas, o questionamento do aumento de capital da construtora e o desencontro entre as datas para a realização de uma assembleia geral extraordinária de acionistas (AGE). Segundo última decisão da Justiça, a AGE ocorrerá em 9 de janeiro.

Na quarta-feira, a Esh chegou a obter decisão favorável da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para manter sua convocação da AGE no dia 2 de janeiro, enquanto o conselho de administração da Gafisa marcou o encontro para o dia 9 de janeiro – data que acabou sendo mantida.

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Entre os argumentos da gestora está o fato de que a Gafisa demorou a convocar a AGE após autorizar o chamamento do encontro. Por outro lado, o conselho de administração da companhia diz que ainda tinha a prerrogativa para definir a data e pediu que fosse suspensa a convocação da Esh.

Embora tenha vencido na CVM, a Gafisa já havia conquistado uma liminar na Justiça – anterior ao decidido pela autarquia – que mantinha a data da assembleia para 9 de janeiro. A CVM entendeu que a liminar não teria efeito após a decisão de seu colegiado, mas a construtora informou que que continuará a seguir a decisão judicial em detrimento ao deliberado pela autarquia.

A efetivação do aumento de capital está marcada para o dia 5 de janeiro, ou seja, antes da AGE, o que poderia tornar sem efeito o questionamento da gestora. Porém, o conselho da Gafisa deverá decidir na sexta-feira (30) se manterá a homologação do aumento de capital nesta data ou se irá adiá-la.

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Impasse desmontou ‘vendidos’

A alta nas ações pode ser explicada por um movimento de mercado para cobertura de posições vendidas, o chamado “short squeeze”. Segundo apuração do Broadcast, investidores que pretendem participar da assembleia não estão mais disponibilizando suas ações para aluguel ou tomando os papéis alugados de volta, obrigando quem tinha montado estratégia vendida na ação a ir buscar o papel no mercado à vista – por isso a forte procura.

Uma possível explicação para o movimento, prossegue a reportagem, é que grupos de investidores na Gafisa queiram se juntar para conseguir maior poder de fogo na assembleia. Se a ação for alugada, sai da titularidade do acionista, por isso ele não poderia participar da reunião.

Entenda o caso

A Esh Capital, por meio de seu fundo Esh Theta, é um acionista relevante da Gafisa, possuindo 15,1% de seu capital social. A gestora, comandada pelo investidor Vladimir Timerman, tem investido contra as decisões do empresário Nelson Tanure, acionista de referência da companhia, dentro da empresa.

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O início da última crise ocorreu em 25 de novembro, quando o conselho de administração da Gafisa aprovou um aumento de capital de R$ 150 milhões, o que poderia diluir a participação da Esh na empresa, caso não exerça o direito de preferência. No dia 30 do mesmo mês, a gestora pediu a convocação de uma AGE para questionar os rumos da empresa e cancelar o aumento de capital.

Além disso, há pedidos também para responsabilização judicial contra os administradores e membros do conselho fiscal da companhia pelos prejuízos causados à Gafisa entre 2019 e 2022. Também solicita a destituição dos membros dos conselhos de administração e fiscal, além da eleição de novos administradores.

Em 8 de dezembro, o conselho de administração da Gafisa autorizou a convocação da assembleia geral, mas sem estipular uma data. Após quatro dias sem retorno, a Esh decidiu usar sua prerrogativa para convocar a AGE em 2 de janeiro, o que foi questionado pela construtora.

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Com isso, a Gafisa entrou na CVM para pedir a anulação da data e marcou o encontro para 9 de janeiro. No entanto, no entendimento da autarquia, a Esh tinha o direito de convocar o encontro a partir do momento em que o conselho de administração acolheu um pedido feito há mais de oito dias pela gestora (diferença entre 30 de novembro e 8 de dezembro).

Apesar disso, a construtora obteve liminar no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para realizar a assembleia no dia 9 de janeiro.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br