“Dentro do nosso planejamento está um IPO. E o nosso setor não precisa esperar janela”, diz CEO da Cimed

Cimed registra receita líquida de 1,9 bilhão em 2023 e João Adibe Marques fala, em entrevista ao InfoMoney, sobre planos para o futuro da empresa

Mariana Amaro

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A Cimed não é (ainda) uma empresa listada na Bolsa de Valores do Brasil, mas está caminhando para isso. Um dos passos nessa jornada foi tornar-se uma Sociedade Anônima, em 2021, e, desde então, divulgar seus resultados anualmente.

Em 2022, a farmacêutica atingiu R$ 1,9 bilhão de receita líquida, um aumento de 22,5% na comparação com o ano anterior. O resultado está 7% acima do guidance da empresa e representa o dobro do crescimento do mercado em faturamento, segundo João Adibe Marques, CEO da Cimed, em entrevista ao InfoMoney. E o Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) cresceu 18,9% na comparação com o ano anterior, atingindo R$ 479 milhões

“Nos últimos 10 anos, a Cimed sempre teve o objetivo de crescer o dobro do mercado. Se o mercado projeta 10%, nossa meta é crescer 20%”, afirma Adibe. “O nosso grande desafio”, completa, “é crescer de forma orgânica, e não por meio de fusões e aquisições. Isso porque quando você avalia quem cresceu acima do mercado, a maioria dessas empresas cresceu porque comprou para ganhar espaço”, afirma.

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Para 2023, o plano é o mesmo: “Já temos nossa nova fábrica [em Pouso Alegre, MG, inaugurada em meados de 2022] funcionando. Nossa capacidade produtiva dobrou com ela, fora toda a máquina de lançamentos que temos de 150 novos produtos em processo de registro. Desses, ao menos 50 devem ser lançados ainda este ano”, afirma o executivo. Desses, metade será medicamentos e a outra metade, produtos de consumo, como ácido hialurônico, utilizado em procedimentos estéticos para fins de preenchimento da pele.

Foram investidos R$ 300 milhões na nova unidade fabril e, desde a inauguração e a transferência das últimas linhas de produção no final do ano passado, a companhia começou janeiro com uma capacidade produtiva relativamente maior. “A capacidade produtiva vai acelerando, então devemos chegar ao ponto máximo até o meio do ano. Quando isso acontecer, vamos ter dobrado a capacidade produtiva que tivemos em 2022”, diz.

Uma das receitas da empresa para impulsionar o crescimento orgânico está no marketing. A empresa patrocina as seleções brasileiras masculina e feminina de futebol, as equipes do Palmeiras e Cruzeiro e passou a ter inserções, com seus produtos, em um dos programas de televisão de maior audiência do país, o Domingão com Huck. “A grande diferença que tivemos de posicionamento de marca este ano foi a entrada na TV Globo, porque, assim, o consumidor consegue entender o que é a Cimed”, diz Adibe Marques.

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Isso não significa, contudo, que aquisições estão fora dos planos: “existem planos [de M&A]. Com o tamanho que temos hoje, estamos preparados para compras de estratégias ou de marcas. Agora, a Cimed passa a ser compradora. Isso está dentro do nosso plano de expansão, além do crescimento orgânico”.

Parte do caixa abastecido da farmacêutica veio da emissão de três debêntures nos últimos dois anos, somando R$ 450 milhões em captação. Captados como reforço de capital de giro, permitindo acelerar investimentos no futuro e alongar dívidas de longo prazo, os recursos são suficientes para o curto prazo. “Nossas dívidas são longas e não temos previsão [de emissão de novas debêntures] no curto prazo”, diz José Roberto Lettiere, CFO da Cimed, em entrevista ao InfoMoney.

Segundo Lettiere, todo o modelo de negócio da Cimed precisa ser muito eficiente. “Boa parte da nossa matéria-prima é importada então temos que ter uma gestão de câmbio. Também precisamos abastecer nosso centro de distribuição, então precisamos buscar a redução da ociosidade da nossa fábrica o mais rápido possível. E, por outro lado, precisamos de capital de giro e o nosso setor de contas a receber  precisa ser eficiente, porque vendemos em 80 mil farmácias, muitas delas independentes, então temos que ser muito bons como agentes de crédito. Com isso, temos um capital empregado bem otimizado que nos leva a uma taxa de ROCE (retorno sobre capital empregado) acima de 40% que, pelas nossas análises, é o maior do mercado”, diz Lettiere.

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E o IPO?

A companhia prepara a casa para uma abertura de capital. “Nossa governança vem evoluindo há alguns anos. Hoje, somos uma S/A ainda de capital fechado e estamos a um nível anterior a uma empresa listada. Estamos criando uma estrutura de governança mais robusta. Primeiro criamos o conselho ainda com pessoas ligadas à companhia. O segundo passo foi trazer um conselheiro independente, que assumiu a presidência do conselho, e agora, chegou mais um conselheiro independente”, afirma Lettiere, CFO da Cimed.

Em setembro de 2022, Nicola Calicchio, executivo com passagens por McKinsey, Softbank e Morgan Stanley, assumiu a presidência do conselho de administração da companhia. Em fevereiro, pouco mais de um mês atrás, a Cimed anunciou a chegada de outro membro independente para seu conselho: Denis Caldeira de Almeida, com passagens por empresas de tecnologia Google, Facebook, Telefonica. “Montamos a governança para ter independência e, ao mesmo tempo, isso nos posiciona frente ao mercado e ajuda na emissão de eventuais debêntures, por exemplo. Tudo isso tem um papel financeiro, mas tem um papel muito estratégico para a empresa”, completa Lettiere.

“Dentro do nosso planejamento, a gente tem como visão uma abertura de capital. E o nosso setor não precisa esperar uma janela. O mercado quer investir em empresas que tenham margem e os investidores têm apetite gigante para a nossa indústria [farmacêutica]”, afirma Adibe, que afirma ainda que a entrada da empresa na bolsa traria mais segurança aos investidores. “Os analistas de mercado, hoje, sofrem com informações de indústria farmacêutica. Só há duas empresas [de capital aberto do setor] e a classe de produtos é muito diferente. A Cimed entrando no jogo, ajudará a divulgar o setor”, completa.

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Planos para 2023

No ano passado, a farmacêutica fez ‘barulho’ ao lançar um produto em parceria com a cantora Anitta, o Puzzy, uma colônia íntima. Com mais de 340 mil unidades vendidas nos seis primeiros meses após o lançamento, o produto rendeu o equivalente a aproximadamente R$ 27 milhões ao preço consumido e foi o primeiro lançamento internacional da companhia, que passou a exportar o produto para os Estados Unidos em novembro e pretende aumentar a distribuição em 2023.

Nos últimos 4 anos a empresa adicionou mais de R$ 1 bilhão na sua receita líquida. “Sabemos que 2023 será um ano ainda com obstáculos na cadeia de suprimentos, câmbio, pressões inflacionárias e normalização da demanda de mercado”, diz Adibe Marques.

Do Zero ao Topo

A história da Cimed já foi tema do podcast Do Zero ao Topo, do InfoMoney. O episódio 151 entrevista Karla Marques Felmanas, irmã de João Adibe, e está disponível gratuitamente no Youtube e nos melhores agregadores de podcast.

Mariana Amaro

Editora de Negócios do InfoMoney e apresentadora do podcast Do Zero ao Topo. Cobre negócios e inovação.