De pólvora e nylon ao seu ‘maior avanço em 50 anos’: a fibra da DuPont que deixa colete de bala 30% mais leve

Uma das principais indústrias químicas do mundo, DuPont aposta no Kevlar Exo para ampliar presença já considerável na indústria militar

Wesley Santana

DuPont Kevlar Exo promete melhorar performance dos usuários, especialmente agentes de segurança. Foto: Divulgação/DuPont

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Uma das principais indústrias químicas do mundo, a norte-americana DuPont (DDNB34) está lançando um novo material que tem potencial de tornar os coletes à prova de balas até 30% mais leves. O Kevlar Exo é uma evolução da fibra sintética que já é sinônimo de categoria, mas que agora traz um salto de tecnologia promovendo maior mobilidade aos usuários.

Em entrevista exclusiva ao InfoMoney, Ramón Mariscal Leal, presidente da DuPont na América Latina, detalha que a nova versão do Kevlar, uma fibra de aramida cinco vezes mais resistente que o aço, foi o avanço mais importante da empresa nos últimos 50 anos. De acordo com o executivo, a fibra une leveza, flexibilidade e proteção, com potencial para revolucionar a defesa e performance dos agentes de segurança que estão na linha de frente de um conflito.

“Baseado na busca do mercado, estamos oferecendo redução de peso, mas também dando mais ergonomia e durabilidade. Não importa se a pessoa vai trabalhar exposta a altíssimas temperaturas ou a frio intenso, nem se vai precisar atravessar a água ou rastejar, esse material foi testado por muitos anos em condições de laboratório para simular o desgaste excessivo e se manter resistente”, pontua. 

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Embora a composição seja mantida a sete chaves, testes da empresa mostraram que a fibra é à prova de fusão e ignição até 500 °C, ou seja, tem alta proteção contra o calor, o que aumenta o tempo de vida útil do dispositivo em que está aplicada. A fibra também pode ser associada a outras existentes no mercado para conferir ao produto final características ainda mais potentes. 

Segundo Marcelo Fonseca, líder da divisão de defesa da DuPont para a América Latina, inicialmente, a empresa aposta na novidade para a indústria policial, especialmente para o setor militar e grupos especiais das forças de polícia. No entanto, a expectativa é que futuramente o Exo seja também usado em outras indústrias. 

“O Kevlar não parou de evoluir e, no caso da aplicação balística, já estamos em sua quarta geração. O que a DuPont fez nos últimos anos, em quase meio século de trabalho com este material, foi melhorar quase 30% a performance. Agora, em uma única vez, de forma abrupta, melhoramos mais 30%. Esse é um momento histórico”, destaca Fonseca. 

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A novidade foi divulgada globalmente na última semana, durante uma feira militar que aconteceu nos Estados Unidos. A expectativa é que ela esteja disponível comercialmente na América Latina até o fim deste semestre, conforme previsão da marca estadunidense.

Além da indústria balística, Dupont tem soluções em outros segmentos
Além da indústria balística, Dupont tem soluções em outros segmentos. Foto: Divulgação/DuPont

Centenária, mas inovadora 

Embora mantenha atuação em outros setores, a DuPont tem na indústria militar um de seus principais focos, pois os governos cada vez mais procuram ferramentas que aumentem o rendimento de seus agentes. Um relatório da Mordor Intelligence mostra que o setor de defesa figura entre os maiores gastos públicos dos países e, em muitos casos, disputa espaço com a seguridade social.

Só nos Estados Unidos, por exemplo, a expectativa é que os recursos destinados ao exército alcancem a marca de US$ 629 bilhões ainda nesta década. A consultoria também projeta que, em face dos conflitos geopolíticos em várias partes do mundo, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, esse mercado cresça de forma mais acelerada nos próximos anos. 

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E é neste cenário que a DuPont continua se guiando, mesmo tendo sido fundada em meados de 1800, e os investidores apostando. Para se ter ideia, as ações da companhia – negociadas na Bolsa de Nova York e disponíveis na B3 na forma de BDR – avançaram 650% desde o IPO, em 1983.

Conforme relata Fábio Correa Leite, presidente da marca no Brasil, depois de passar o primeiro século criando novidades para a indústria bélica, como pólvora e explosivos, a estratégia foi galgar novos setores. O resultado é o amplo portfólio que a empresa tem hoje, que inclui tecnologias para o segmento têxtil, de segurança balística, de proteção individual (EPI) e até de embalagens.

Entre as patentes registradas, a DuPont tem cinco marcas em destaque no Brasil: Artistri (tinta para tecido); Cyrel (chapas flexográficas); Kevlar (fibra sintética mais resistente que o aço); Nomex (fibra resistente ao calor); e Tyvek (tecido respirável). Todos esses itens são vendidos no modelo B2B, em que a empresa atua como fornecedora de outra.

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Atualmente, a marca mantém três laboratórios fixos, sendo um no Brasil, outro na Suíça e um terceiro nos Estados Unidos. São desses espaços que saem as inovações para o mercado, depois de serem testadas por anos.

“A DuPont é uma empresa química considerada um dos fornecedores mais longevos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Nós temos áreas de pesquisas muito parecidas com centros universitários, que abrigam milhares de cientistas”, afirma. “No primeiro século, estávamos relacionados à produção de explosivos, mas, agora, mais ligados à invenção de moléculas, com produtos bastante conhecidos – como o nylon – que revolucionou a fabricação de coletes balísticos”, comenta.