Dafiti lança débito apostando em crescimento; especialistas veem potencial limitado

Empresa tem negócio sólido, novo protocolo vai ajudar, mas ainda assim pode ficar atrás de concorrentes como Netshoes

Giovanna Sutto

(Reprodução/ Dafiti Facebook)

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SÃO PAULO – A Dafiti começou a operar com um novo protocolo de segurança, que visa proteger melhor os consumidores contra fraudes enquanto simplifica o processo de compras online via cartão de débito. O processo elimina redirecionamentos para outras páginas e incluindo modos mais intuitivos de autenticação, como SMS e token.

Chamada 3DS2.0, a novidade é resultado da parceria com a plataforma de pagamentos Adyen e faz parte da estratégia da Dafiti de destravar o mercado de débito online, que ainda é pouco explorado pelo varejo brasileiro – e para tentar abocanhar mais um pedaço do concorrido setor de moda online.

De acordo com o Banco Central, os cartões de débito ativos no Brasil ultrapassam em 13% o número de cartões de crédito. No entanto, dados da Adyen apontam que menos de 15% das compras online são feitas via débito.

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“Hoje a participação de débito no mercado físico é 20 vezes maior do que no mundo online. Cerca de 1% das compras feitas no varejo de moda online são pagas com débito. É uma grande oportunidade de crescimento explorar essa modalidade. Não quero que o público que tem o cartão de crédito migre para o débito, mas sim trazer os 40% de brasileiros que pagam no boleto ou não estão comprando”, afirma Rafael Carneiro, head de pagamentos e fraude da Dafiti, com exclusividade ao InfoMoney.

Por enquanto, a novidade é oferecida apenas pela Dafiti em conjunto com o Banco do Brasil e Visa, emissores de cerca de 30% dos cartões de débito do país. A Dafiti já informou que o próximo banco a oferecer a solução em sua plataforma será o Santander.

Do ponto de vista de negócio, o porta-voz da Dafiti afirmou que espera alavancagem de vendas, ganho na conversão e aumento no NPS (Net Promoter Score) – métrica de satisfação do consumidor.

Carneiro afirma que a conversão (compra efetiva) de quem compra no débito é 30% maior do que quem compra via boleto. “Como o boleto dá alguns dias para pagar, as pessoas podem repensar e eventualmente desistir, no débito a chance de desistência na hora da compra é muito menor”.

A Dafiti conta com 5,6 milhões de clientes ativos, mais de 6 mil marcas e 400 mil produtos – e está bem consolidada no segmento. A lógica proposta pelo executivo faz sentido, mas não será diferencial de longo prazo no mercado, segundo Alexandre van Beeck, consultor de varejo e sócio-diretor da consultoria Gouveia e Souza.

“É uma solução que vai trazer os clientes que não têm cartão de crédito, mas no curto e médio prazo é um diferencial frágil em relação aos grandes players que estão no segmento. Tecnologia vira commoditie rapidamente, a proposta de valor não pode conter apenas isso, tem que estar combinada com outras iniciativas para ganhar relevância com o cliente”, afirma.

Isso porque, segundo o especialista, a tendência é que a solução de débito se torne comum entre outros players. “A grande diferença será a nível de serviço, entrega, experiência de cliente, aceso ao produto, etc”, diz.

Vinicius Nunes, gerente de produtos da Adyen para a América Latina, diz que a Adyen já está trabalhando com novos parceiros para estender a tecnologia a mais negócios – sem revelar as varejistas e outros bancos que farão parte da iniciativa.

Corrida por infraestrutura

O setor de moda está cada vez mais consolidado no varejo digital. Antes era muito mais comum as pessoas consumirem produtos eletrônicos e de informática em ambiente online.

“Mas o mercado está amadurecendo e novas categorias que até então o consumidor reprovava comprar na internet porque tinha que tocar e experimentar, como roupas, começam a ganhar a espaço e o cliente se sente mais seguro em adquirir esses produtos digitalmente”, explica van Beek.

Concorrentes como Netshoes, que agora é do Magazine Luiza, e Centauro, que fechou uma parceria com a B2W, estão mais alinhados na trajetória de sucesso no varejo de moda online, de acordo com o consultor.

“O grande desafio da Dafiti será trazer soluções efetivas no longo prazo. Como a empresa só atua no digital, está ficando para trás na corrida no que diz respeito a infraestrutura”, explica.

“A concorrência vai poder fazer uso das lojas e centros de distribuição para agilizar as entregas. A pessoa compra um tênis na Nethoes e pode retirar no Magazine Luiza perto de sua casa. Ganha agilidade e com menos custos. Esse passo ainda falta ser traçado pela Dafiti”, acredita o consultor de varejo.

Ainda assim, a Dafiti tem um negócio bastante sólido. A empresa faz parte do GFG (Global Fashion Group), que engloba outras três marcas com atuação em outras regiões: The Iconic e Zalora, na Ásia-Pacífico, e lamoda, que atua na CEI (Comunidade dos Estados Independentes) região que cobre a antiga União Soviética.

O grupo realizou IPO (abertura de capital) em julho deste ano, quando deixou de divulgar dados de faturamento de cada empresa separadamente. A Dafiti tem operações na Colômbia, Chile e Argentina e, dos seus 2.500 funcionários, 2.100 trabalham na operação brasileira.

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Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.