Custo de captação da Eletrobras sobe e rompe ligação com títulos do governo

Rebaixamentos das notas de crédito da Eletrobras distanciam rendimentos de títulos da empresa com relação a outras empresas estatais

Paula Barra

Usina Hidrelétrica de Tucuruí *** Local Caption *** Comportas abertas da usina de Tucuruí

Publicidade

SÃO PAULO – O rebaixamento da nota de crédito da Eletrobras (ELET3; ELET6) para equivalente a “junk”, ou alto risco, está afetando a correlação entre a geradora estatal de energia e os títulos do governo brasileiro. 

Os efeitos da Medida Provisória 579 sobre a empresa, a qual teve sua tarifa de geração de energia reduzida em quase 80%, já foram sentidos. O rendimento dos títulos da Eletrobras com vencimento em 2021 subiu 0,5 ponto percentual, para 4,81% depois que a Fitch Ratings cortou o rating da companhia para dois níveis abaixo do grau de investimento, de BBB para BB, no início de dezembro. 

A decisão da agência de classificação de risco empurrou os custos de captação para o recorde de 2,8 pontos percentuais acima dos títulos do governo brasileiro com vencimento similar na semana passada, um ponto percentual a mais do que a média dos últimos três anos. Uma diferença maior do que a da Petrobras (PETR3; PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3), que têm tradicionalmente usufruído de custos de captação mais baixos que companhias privadas. 

Continua depois da publicidade

Por sua vez, o governo está colocando em xeque a saúde financeira da Eletrobras diante da decisão de reduzir as tarifas de eletricidade. A Fitch cortou sua nota de crédito após a companhia se tornar a única entre as grandes concessionárias a concordar com os termos da proposta do governo de reduzir tarifas em troca de renovação antecipada de contratos de concessão. Na véspera, a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou o rating da empresa em três categorias: de Baa2 para Baa3, nota perto de “junk”. 

Um novo corte não foi descartado pela Moody’s, e levaria o rating para a categoria de investimento especulativo. “Um movimento natural diante das incertezas e que acaba deslocando os rendimentos de seus títulos. Os investidores buscam um retorno a mais, já que o risco do setor elétrico aumentou com a intervenção do governo”, disse o analita João Pedro Brugger, da Leme Investimentos. 

Mesmo cenário turbulento é apontado pela XP Investimentos: “apesar dos esforços da empresa em acelerar programas de demissões e de implementar programas de reduções de custos e despesas, vemos com ceticismo a capacidade da empresa em executá-lo, e assim ter retorno suficiente nesse novo cenário”.