Costa nega que e-mail a Dilma seja ligado a esquema e diz que fez repasse a campanha de Campos

Ex-diretor de abastecimento presta depoimento à CPI da Petrobras nesta terça-feira

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras (PETR3;PETR4), começou seu depoimento à CPI da Petrobras se dizendo arrependido pelos atos ilícitos que cometeu na empresa e isentando a estatal de responsabilidade pelo esquema de desvio de dinheiro e pagamento de propina.

“Nada disso teria acontecido se não fossem alguns maus políticos. A origem do que aconteceu na Petrobras foi maus políticos, que fizeram tudo isso acontecer”, disse. Ele afirmou que os deputados têm agora a oportunidade de romper com o que chamou de “sistema podre”.

Segundo o ex-diretor da estatal, dos 35 anos em que trabalhou na Petrobras, apenas nos últimos sete ele teve contatos e envolvimento com políticos, o que fez com que ele fosse nomeado diretor. “Não se chega à diretoria da Petrobras sem apoio político. Tive a infelicidade de aceitar apoio político para chegar lá e me arrependo”, disse.

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Ele ainda afirmou que a propina paga por empresas a diretores, operadores e partidos políticos saía da margem de lucro das contratadas.

Segundo ele, as empresas embutiam um adicional que podia chegar a 3% a mais na sua margem de lucro para o pagamento de propina.

Ele explicou isso ao responder pergunta do relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), que o questionou a respeito de variações em seus depoimentos sobre a origem da propina: se saía da margem de lucro ou se era derivada de sobrepreço nas licitações.

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“Se a empresa achava que, para ela, era confortável ganhar 12%, ela acrescentava 3% de propina dentro da margem de lucro”, disse. Costa atribuiu o sucesso do esquema à formação de cartel pelas empresas contratadas. “Se não tivesse a formação de cartel, [o sobrepreço] não existiria”, disse.

Ele negou que as propinas fossem fruto de “achaque” por parte dos diretores da Petrobras, como afirma a defesa das empresas acusadas.

Doações de empresas
Paulo Roberto disse ainda que a doação de empresas em campanhas é uma farsa e não passam de uma espécie de “empréstimo” – como já tinha dito em depoimentos de delação premiada.

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Não existe doação. Se ele (o empresário) dá R$ 5 milhões, depois ele vai cobrar R$ 20 milhões (em contratos)”, ressaltando que “é preciso acabar com essa hipocrisia de achar que as empresas não vão cobrar”, afirmando ainda que é preciso passar o país a limpo.

“Por que uma empresa de capital privado vai doar R$ 10 milhões, R$ 15 milhões? Por que ela vai doar se não tiver um motivo para cobrar na frente?”, afirmou. 

Propina a diversos partidos
Questionado sobre a acusação de pagamento de propina ao tucano Sérgio Guerra, morto ano passado, Costa afirmou: “estava lá (em encontro) o senador Sérgio Guerra e o deputado Eduardo da Fonte. E foi dito pelo deputado que estava ocorrendo a CPI. E que isso poderia ser minorado, postergado, e que era preciso ter uma compensação financeira”. E, segundo ele, depois da terceira reunião, um valor foi pago. “Esse foi um fato real que aconteceu (…) Eu sei que foi pago, e que a empresa que pagou foi a Queiroz Galvão”. 

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O ex-diretor também afirmou que repassou recursos para a campanha eleitoral do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto no ano passado.

Ele afirmou que o pedido foi feito a ele por “um secretário dele [Campos], que ocupa hoje uma vaga no Senado. [Ele disse] que seria importante ter ajuda financeira para a campanha. Esse contato foi feito e esse recurso foi repassado para ele”, disse.

Ao responder pergunta do deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), relator da CPI, Costa disse que nunca esteve pessoalmente com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. “Eu o vi uma vez em um restaurante, onde eu estava com o (doleiro Alberto) Youssef, e ele me mostrou Vaccari, que estava em outra mesa”, disse.

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Em depoimentos à Justiça, Costa disse que propinas pagas por empresas contratadas pela Petrobras eram repassadas ao PT por intermédio de Vaccari – acusação reforçada nos depoimentos de Youssef.

Responsabilidade sobre esquema
Costa disse que toda a diretoria executiva deveria ser responsabilizada por eventuais erros nas contratações ou assinaturas de aditivos com empresas vencedoras de licitação.

Segundo ele, nenhum diretor tinha autonomia para decidir sobre projetos, contratos e aditivos. “A diretoria executiva aprovava os projetos, a licitação e os contratos. Nenhum diretor especificamente (tinha esse poder)”, disse.

Ele relatou como funciona o processo de contratação e, principalmente, os aditivos celebrados com as empresas contratadas.

“Quem fiscaliza o contrato? O gerente da obra. A fiscalização era da área de engenharia. Nós, das outras diretorias, éramos donos do orçamento, mas a fiscalização não era nossa”, ressaltou. “Qual era a origem do aditivo? Na obra. A necessidade disso era negociada entre a empresa e o gerente da obra. Isso era encaminhado para o diretor de serviços. Ou isso era mandado para a diretoria ou, se o valor era muito alto, era encaminhado a mim. Mas quem aprovou todos os aditivos? Foi a diretoria executiva da Petrobras”, relatou.

Costa voltou a dizer que os aditivos eram feitos devido a inconsistências dos projetos básicos de engenharia. Ele atribuiu as falhas dos projetos à pressa da diretoria da Petrobras. “O Brasil estava importando muita gasolina e diesel, e isso foi o que motivou a pressa nas contratações”, disse, ao se referir à construção de refinarias, gasodutos e navios-plataforma. 

E-mail para Dilma
Ele também admitiu ter enviado, em 2009, um e-mail à Dilma Rousseff, então ministra-chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, alertando para o risco de paralisação de obras da estatal. Ele afirmou, no entanto, que o e-mail não tinha relação com o esquema de desvio de dinheiro.

Na mensagem, Costa alertava a então ministra de que o Tribunal de Contas da União (TCU) pretendia paralisar três obras da Petrobras por ter encontrado irregularidades. O documento foi encontrado pela Polícia Federal em um computador na sede da estatal.

O deputado Bruno Covas (PSDB-SP), um dos sub-relatores da CPI, perguntou se o e-mail tinha relação com o esquema de desvio de dinheiro, e Costa negou. “Como diretor de Abastecimento, não estava preocupado com desvio de dinheiro. Estava preocupado porque, se tivesse paralisação das obras, isso teria consequências. Nossos terminais, como o de Angra dos Reis, foram feitos para importação de petróleo e não de derivados. E as obras eram necessárias. Era de competência da minha diretoria o abastecimento do País”, explicou.

O deputado perguntou, em seguida, se era verdade que ele tinha sido convidado para o casamento da filha da presidente. “Sim, fui convidado e participei”, respondeu.

Afinal, quem são os maus políticos?
Ao responder pergunta do deputado André Moura (PSC-SE), o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que os chefes do esquema de corrupção na Petrobras eram os “maus políticos”. “Não foi o diretor da Petrobras quem inventou o cartel. A origem da corrupção está em Brasília”, disse. “Vocês do Legislativo têm papel fundamental para que isso seja redimido.”

“Mas eu quero saber quem são os maus políticos”, insistiu o deputado. “Isso está na minha delação premiada, posso esquecer algum nome ou outro”, respondeu Costa, em depoimento à CPI da Petrobras.

Diante da insistência do deputado, ele mencionou alguns nomes que, segundo ele, tinham “problema”: “Do PP, o ex-deputado José Janene, o deputado Mário Negromonte, o senador Ciro Nogueira. Do PMDB, o senador Renan Calheiros, o deputado Aníbal Gomes, o senador Romero Jucá. Do PT, o senador Lindbergh (Faria)”, disse. Costa mencionou ainda o ex-ministro Edison Lobão, das Minas e Energia. “Quando eu falo ‘mencionado’ é ‘com problema’”, disse.

(Com Agência Câmara) 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.