Com foco em público desatendido, a carioca Leve Saúde projeta faturar R$ 240 milhões em 2023

Fundada há três anos, empresa soma 30 mil clientes e quer acrescentar 20 mil; startup também negocia aportes financeiros para este semestre

Wesley Santana

Leve Saude foi criada por Ulisses (esquerda) e Claudio (direita) que se conheceram em outros negócios na área da saúde. Foto: Divulgação

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O Brasil registrou uma alta de 39,8% no número de pessoas com mais de 60 anos na última década, enquanto houve queda de 5% na quantidade de menores de 30 anos.  Os dados são do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e demonstram que o país está enquadrado no que seria de envelhecimento moderado da população, indicando que, já nas próximas duas décadas, a maior parte dos brasileiros será idosa.

O envelhecimento da população é um dado muito positivo por um lado, porque mostra uma série de evoluções no campo social, mas também aponta para dificuldades futuras, já que esse público é o mais vulnerável quando se trata de saúde. Conforme o último levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), apenas 7 milhões de idosos têm planos de saúde no Brasil, o que representa cerca de 20% de um universo de mais de 30 milhões de pessoas. E quanto mais anos de idade, menor é a porcentagem de cobertura.

O principal impeditivo para acesso a esse serviço está relacionado ao preço que pode custar (bem) mais que o dobro do contrato feito por alguém na faixa dos 30 anos.  Mirando nesta lacuna do mercado que nasceu a Leve Saúde, um plano médico que traz conceitos de startup por ter todo o processo digital, mas sem abandonar as necessidades mais analógicas do público com mais de 45 anos. Fundada no Rio de Janeiro, a empresa quer ser para os cariocas a mesma referência que a Prevent Senior foi para os idosos paulistas.

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A healthtech recebeu autorização da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) em julho de 2020 e, desde então, já conquistou quase 30 mil beneficiários no estado fluminense, único local onde tem cobertura atualmente. Em comparação, esse é o mesmo volume da carteira de clientes da Alice, que recentemente subiu de 18 mil para 29 mil clientes com a aquisição da QSaúde.

“A empresa conseguiu se posicionar de forma inteligente para atender pessoas físicas a partir de 45 anos e pequenas e médias empresas, também nesta faixa etária. Aumentamos essa régua porque entendemos que é nesta idade que muitos começam a ficar desabastecidos de planos de saúde por perderem o emprego e dificuldade de voltar ao mercado de trabalho”, lembra Ulisses Silva, CEO e sócio-fundador da Leve Saúde.

Verticalização

Para o atendimento dos pacientes, a empresa conta com 5 unidades próprias na região metropolitana do Rio, além de uma rede credenciada que atende várias cidades do interior. A taxa de sinistralidade -ou seja, a relação entre os atendimentos e faturamento- está na casa de 55%, quando o índice geral do mercado passa de 80%, conforme a ANS.

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Na análise da companhia, esse desempenho se vincula ao bom atendimento e ao uso de tecnologias que facilitam o cotidiano dos beneficiários. Para dar mais um passo no sentido de se tornar uma verdadeira healthtech, no mês passado, a Leve anunciou a contratação de Claudio Maffezzolli, ex-chefe de TI da QSaúde, para comandar sua estratégia de inovação.

“Estamos apostando muito em tecnologia, como na interoperabilidade de sistemas [um acompanhamento completo do paciente]. Ao mesmo tempo, fornecemos toda a vertente tradicional, que está no rol de coberturas da ANS, mas também com produtos inovadores, como o atendimento por telemedicina e atenção primária digital”, destaca Claudio Borges, CMO e diretor comercial.

Para este ano, a projeção é de dobrar o faturamento, para R$ 240 milhões, tendo como base um ticket médio de R$ 700 para a faixa etária acima de 59 anos. Esse valor de mensalidade, segundo o executivo, é possível em razão dos termos acordados com alguns hospitais da rede credenciada que oferecem os atendimentos com desconto em tabela.

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“Ter relacionamento e uma rede bem negociada é um dos segredos que tem feito o sucesso do negócio. Quando montamos a operadora, em sua maioria, os hospitais nos credenciaram com os mesmos preços de operadoras que têm 500 mil vidas, e não como nova, que ainda não tinha clientes”, retoma Borges.

Para alavancar o crescimento, a Leve Saúde busca financiamento: com rodada de captação aberta, estaria em negociação com três fundos de investimentos e, segundo os executivos, com contratos em fase avançada e possibilidade de aporte no próximo trimestre.

“O mercado está mais seletivo, os recursos escassos e os investidores mais receosos. A nossa vantagem é que estamos entregando tudo que prometemos”. “O mercado sempre reclamava de que éramos uma healthtech, mas não tínhamos um CTO, e sempre pedíamos calma porque tínhamos a ideia de tornar a empresa cada vez mais digital”.

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“Temos convicção de que mais de 60% dos atendimentos que hoje são feitos em clínicas e consultórios, nossos beneficiários poderão fazer dentro de casa, no seu conforto. À medida que eu tiver mais informações dele, é criado um grau de confiança que dificilmente ele querer sair da Leve, seja pela relação com o médico ou por todo o histórico de saúde registrado”, prevê.