CEO da Moura Dubeux diz que Selic alta gera necessidade de proteção de caixa e espera boa performance de vendas

Ao InfoMoney, Diego Villar e o CFO Marcello Dubeux disseram que a empresa está preparada para enfrentar o período mais desafiador, sem dívida corporativa

Anderson Figo

A manutenção da Selic em 13,75% ao ano encarece os financiamentos e acende um alerta para o mercado imobiliário, por isso o momento para as incorporadoras de imóveis é de proteção de caixa. A percepção é de Diego Villar, CEO da Moura Dubeux (MDNE3), que viu seu lucro líquido cair 28,7% no quarto trimestre de 2022 frente ao mesmo período do ano anterior. Ao InfoMoney, no entanto, ele disse estar otimista com o crescimento da marca, que atua no Nordeste.

“Nossa expectativa era que [o Banco Central] já começasse a sinalizar no primeiro trimestre deste ano uma trajetória de redução da taxa básica de juros no Brasil. E o que a gente vê é que o governo não começou bem, a transição não foi boa e o governo não começou com uma boa pauta. Tem sido mais discurso do que ações práticas e o cenário econômico vem se degradando ao longo dos meses. O que o incorporador tem que fazer é observar esse cenário com muita cautela e tomar todos os cuidados para proteger o caixa da companhia, proteger os estoques, ou seja, ter baixo índice de estoques, não ter muitos produtos ofertados e ir regulando [a oferta] em função do VSO [velocidade de vendas]”, disse o executivo.

Ele participou do Por Dentro dos Resultados, projeto no qual o InfoMoney entrevista CEOs e diretores de importantes companhias de capital aberto, no Brasil ou no exterior. Os executivos falam sobre o balanço do quarto trimestre e ano fechado de 2022 e sobre perspectivas. Para acompanhar todas as entrevistas da série, se inscreva no canal do InfoMoney no YouTube.

“A gente tem otimismo em relação à marca e o nosso mercado. A nossa expectativa para o primeiro trimestre de 2023 é de uma boa performance de vendas, alinhada ao que a gente viu ao longo dos trimestres do ano passado. Porém, quando a gente olha para frente, eu particularmente tenho uma preocupação muito grande com essa taxa do financiamento à pessoa física para a compra do imóvel e o não crescimento da renda ou um possível cenário de inflação corroendo ainda mais sua capacidade de se endividar”, completou o CEO.

Marcello Dubeux, CFO da companhia, ressaltou que a empresa está preparada para enfrentar o momento mais desafiador. “Tanto que a empresa tem zero dívida corporativa (…), todas as nossas obras estão financiadas, isso traz tranquilidade em relação ao crédito, olhando para o que já está contratado, o que já está na rua, que a gente tem que entregar, que são 44, 45 canteiros de obras que estão em andamento. Olhando para frente, o crédito pode apertar no sistema financeiro? Pode. Mas sabemos que o mercado imobiliário tem uma visão especial dentro dos bancos. Os bancos estão seletivos mas a gente também vai ser muito seletivo com relação ao que a gente está lançando”, afirmou.

O executivo explicou que o desempenho do quarto trimestre da companhia em 2022 refletiu a ausência do resultado de incorporação, que deve aparecer agora nos três primeiros meses deste ano. Dubeux também comentou que a maioria dos empreendimentos da empresa deve ser entregue em 2024 e 2025, e é nesse momento que o cliente pessoa física de incorporação tem que tomar o financiamento junto ao banco. “A gente espera que até lá esse ciclo de baixa de juros já tenha acontecido”, disse.

O CFO afirmou que a inadimplência e o nível de distratos na companhia não estão altos e que neste ano a companhia não enxerga necessidade de fazer uma captação de recursos adicional para sua operação. Dubeux também mencionou que o landbank da companhia é composto por uma boa parte de permuta, o que reduz o custo para a incorporadora.

Segundo Villar, a Moura Dubeux quer continuar focada no mercado imobiliário nordestino, citando bom VSO em Salvador. Ele comentou sobre a chegada da empresa em Sergipe. “As capitais em que a gente já atua, somadas às duas que já estavam mapeadas desde 2020 para a gente entrar, que são João Pessoa e Aracajú, elas mais do que tem mercado, demanda, nível de concorrência, enfim, todas as variáveis de uma equação que integra nosso plano de negócios”, afirmou.

O CEO falou ainda sobre o modelo de condomínio em que a Moura Dubeux também atua, no qual os clientes se tornam sócios do empreendimento e vão pagando por ele ao longo da obra, e não apenas no final, bem como sobre o foco da companhia em clientes das classes média e alta. Já Dubeux destacou que a empresa pode pagar dividendos em 2025. Veja a entrevista completa no player acima, ou clique aqui.

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.