Celulose Irani não adquiriu uma ação em sua recompra; blefe ou estratégia?

O programa de recompra de ações da Celulose Irani com duração de um ano terminou nesta quinta sem nenhum ativo embolsado pela companhia; blefe ou retenção de caixa?

Marina Neves

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SÃO PAULO – Quando uma empresa na Bovespa anuncia que fará um programa de recompra de ações, o mercado acaba recebendo bem a notícia, já que é uma sinalização clara de quem em tese mais entende do negócio desta companhia (no caso, o controlador) de que os papéis cotados em Bolsa estão a um preço atrativo. É preciso ter em mente, porém, que esse anúncio não é garantia de que um novo comprador entrou no mercado, sendo que o controlador não é obrigado a comprar os ativos. No jargão popular, esse acionista pode estar apenas “blefando” com o investidor.

Um caso desses foi visto na última quinta-feira, dia em que a Celulose Irani (RANI4), companhia do setor de papel e celulose, informou ao mercado na que o programa de recompra de ações iniciado 12 meses atrás chegou ao fim sem que a empresa tenha recompra sequer um papel. O Conselho de Administração da companhia havia aprovado, em 28 de agosto de 2013, um programa de recompra de até 1.312.694 ações ordinárias e até 116.444 papéis preferenciais do total em “free float” (ações em circulação). 

Teria sido um blefe da empresa? Procurado pelo InfoMoney, o diretor de administração, finanças e relações com investidores da Celulose Irani, Odivan Cargin, dá um motivo para que nenhuma ação tenha sido adquirida. Em outubro passado, a companhia anunciou a integração da São Roberto, e como em um primeiro momento a Irani zelou pela liquidez, eles reteram caixa. Isto é, em um momento no qual a companhia deve conter os gastos, uma recompra não entra nos planos, explica o diretor.

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Recompra: dos prós ao blefe
Quando uma companhia anuncia um programa de recompra de ações, ela está, na prática, querendo demonstrar ao mercado que seus papéis estão em níveis de preços interessantes para compra. A lógica da recompra é: se a própria companhia, que teoricamente é quem mais conhece seus negócios, está comprando seus papéis, é um indicativo de que a confiança nos papéis está muito alta, logo, o investidor também se sente confortável em investir.

Um outro lado positivo da recompra, é que, por meio de um programa como este, a companhia pode maximizar os ganhos de seus acionistas, já que diminui as ações em “free float”, reduzindo também a oferta, explica o analista Luis Gustavo Pereira, analista-chefe da Guide Investimentos. Com uma oferta menor, a demanda acaba puxando naturalmente o preço das ações para cima.

Mas então, por que uma companhia anunciaria uma recompra sem de fato adquirir uma ação sequer neste período? Ora, se o anúncio do programa traz toda essa expectativa positivo para o investidor, muitas empresas acabam usando essa estratégia como uma ótima forma de “blefe”, fazendo com que os investidores se animem em comprar seus papéis pelo simples indicativo de confiança, mesmo que o acionista controlador não coloque a mão na massa – ou a mão no homebroker – para adquirir papéis. Em resumo, as ações subiriam por simples expectativa do mercado.

Ação dobrou de valor; significa?
É leviano dizer que o simples anúncio do programa animou os investidores a comprarem ações da “esquecida” Irani – a ação tem baixíssima liquidez, e normalmente chega a ter menos de 10 negócios por dia envolvendo seus papéis. Contudo, nestes 12 meses de duração da recompra – ou melhor, da “não recompra” -, as ações preferenciais da empresa subiram nada menos que 113,69%, estando atualmente cotadas a R$ 3,20.

É válido mencionar que toda essa alta veio do movimento visto ainda em 2013, já que de janeiro pra cá os ativos RANI4 subiram apenas 1,91%.