Captação por debêntures desacelera em 2023 e confirma cenário adverso, diz estudo

Ártica Investimentos aponta maior seletividade dos credores na queda de 41% nos recursos obtidos pelo título

Rikardy Tooge

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As captações por debêntures recuaram tanto em volume quanto nos valores arrecadados nos quatro primeiros meses do ano, conforme dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

De janeiro a abril houve queda de 23,1% para 90 emissões, que arrecadaram R$ 43 bilhões, um recuo de 41,4%. Os números colaboraram para que as emissões no mercado de capitais estejam no pior nível desde maio de 2020, período marcado pelas incertezas da pandemia.

Com o mercado fechado para ofertas iniciais de ações (IPO, em inglês) ou subsequentes (follow-on), a emissão de debêntures é uma saída para que empresas melhorem sua estrutura de capital em um momento em que bancos estão trabalhando com prêmios de risco alto para operações de crédito.

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No entanto, os números vistos até agora sugerem que os credores institucionais do mercado financeiro estão com a mesma seletividade, segundo estudo do Ártica Investimentos.

“O declínio pode ser atribuído as condições adversas de mercado e econômicas que geraram volatilidade e maior seletividade de risco de credores após casos como de Americanas (AMER3), Light (LIGT3), entre outros”, escreveu Thiago Lobato, head de capital solutions do Ártica.

“Neste contexto, não somente os investidores, mas também as companhias têm mostrado uma maior cautela na emissão, buscando minimizar os riscos e preservar a estabilidade financeira”, acrescentou.

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Perfil das emissões

A remuneração dos títulos indexada em DI mais spread segue no maior patamar desde 2017. Nos quatro primeiros meses do ano, 85,3% das emissões estão atreladas a este indicador – há seis anos, por exemplo era 35,5%. A outra parte relevante está atrelada ao IPCA (12,6%), enquanto outros índices representam 1,9% e um percentual do DI apenas 0,2%.

O prazo médio das emissões é de 5,8 anos, muito próximo ao observado em igual período de 2022 (5,9 anos). A maior parte dos recursos segue para reforçar o capital de giro, com 32,1%, seguido pelo refinanciamento do passivo (31,6%). Os investimentos em infraestrutura completam o top 3, com 23,6% das emissões.

O estudo do Ártica aponta ainda maior interesse dos fundos de investimento pela compra de debêntures no mercado secundário. Enquanto a renda variável recuou 22% na carteira dos institucionais, para R$ 548 bilhões, as debêntures cresceram na mesma proporção, chegando a R$ 376 bilhões. A preferência segue pelos títulos públicos federais, considerados mais seguros, com R$ 2,7 trilhões.

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Ainda na renda fixa, o levantamento apontou bom desempenho dos instrumentos híbridos, como o Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagro) e os Fundos Imobiliários (FII), que representaram aproximadamente 10% do total de emissões no mercado primário de janeiro a abril de 2023, com crescimento de 19% em relação ao mesmo período de 2022. 

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br