A favor da diversidade: CEO da Bayer luta contra a discriminação no ambiente corporativo

Theo van der Loo prepara gigante alemã para novo protagonismo no agronegócio

Equipe InfoMoney

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Há oito anos como presidente da Bayer no Brasil, Theo van der Loo, 62 anos, está acostumado com as agruras na gestão de uma grande empresa e com os desafios do setor de agroquímicos e produtos farmacêuticos. Mas a grande luta do empresário este ano tem acontecido em outro terreno: contra a discriminação no ambiente corporativo. Seu empenho nessa área é antigo, mas ganhou outra dimensão em março, quando publicou um post na rede LinkedIn indignado com o tratamento que um amigo negro recebeu ao procurar trabalho. Em menos de duas semanas, o desabafo teve 500 mil views e 1,5 mil comentários, com grande repercussão. Daí em diante, o executivo resolveu comprar a briga. “Se nós empresários, que temos o poder dos empregos, não fizermos nada para fomentar a inclusão, isso vai avançar muito devagar. Tem que ser pró-ativo”, disse à revista LIDE. E ele tem tomado a iniciativa. Trata do tema em palestras e com colegas – diz que estes já começam a discutir o assunto –, além de agir na própria empresa. Mas reconhece: “como CEO eu me sinto muito sozinho nessa história”.

Iniciativas antidiscriminação não são novidade na cultura global da Bayer, mas a ênfase contra a discriminação racial é brasileira. Filho de imigrantes holandeses, Theo disse que aprendeu a lutar contra a injustiça dentro de casa. Seu pai foi um dos prisioneiros de guerra na famosa Ferrovia da Morte (Ferrovia da Birmânia), na Segunda Guerra Mundial, quando soldados eram torturados. “O meu desafio pessoal dentro da Bayer é aumentar a presença de negros. Temos hoje 20%, e 10% são LGBT. Mas a maioria dos negros está nas fábricas. A meta é aumentar nos escritórios”, afirma. ”Precisamos ter orgulho de termos os negros e de fazer algo a favor deles. É uma dívida histórica. A gente nota na empresa. As pessoas ficam motivadas com esse movimento que nós estamos causando.” Na Bayer desde a seleção para os estagiários existe a preocupação de valorizar a diversidade e há comitês dedicados a apoiar e incentivar diferentes grupos. Theo, que tem dois filhos, defende que a iniciativa também é boa para o negócio. “Você tem diversidade de pensamento. Algumas empresas podem até adequar seus produtos à inclusão. Olhando mais para frente, os investidores vão ver também o que elas estão fazendo do ponto de vista social. Mas não pode ser a razão principal. Na minha opinião, o motivo tem que ser o coração. A empresa faz porque acha que é correto.”

Esse novo papel que o executivo está exercendo se desenrola em um momento decisivo para a empresa. A Bayer anunciou em setembro de 2016 a compra por US$ 66 bilhões da norte-americana Monsanto, líder mundial dos herbicidas e engenharia genética de sementes, na maior aquisição já feita por uma empresa alemã. Juntas, Bayer e Monsanto se tornarão um gigante mundial com quase 140 mil funcionários e volume anual de negócios de 23 bilhões de euros (US$ 25,8 bilhões). A dimensão do negócio fez, em agosto, o órgão antitruste da Comissão Europeia abrir uma investigação sobre a operação, que deve criar o maior grupo mundial de agroquímicos e sementes. A Bayer alemã respondeu que esse escrutínio já era esperado. Uma decisão deve ser tomada pelas autoridades em janeiro. No Brasil, essa operação também está sob avaliação. A superintendência-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recomendou em outubro que a compra seja rejeitada pelo tribunal da autarquia, por supostos efeitos anticompetitivos. Na ocasião, a Bayer disse que o parecer do Cade não significava reprovação da operação e que é um passo normal dentro do processo de revisão de casos internacionais mais complexos. O prazo legal para a decisão no Brasil vai até o primeiro trimestre de 2018. Reforçando o movimento em direção à fusão, a Bayer anunciou, também em outubro, a venda para a BASF por 5,9 bilhões de euros de sua divisão Crop Science, que inclui todos os negócios de sementes da empresa. A operação foi feita para diminuir os questionamentos regulatórios.

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“O que vai acontecer é que vai atrasar um pouco”, diz Theo. “Acho que é um processo normal.” O movimento de expansão da Bayer se segue a outras fusões de gigantes do setor agroquímico, como o da Dow Chemical com a DuPont. Na Europa, a Bayer é forte na área farmacêutica, que representa cerca de 75% de sua operação – o agronegócio é responsável pelos outros 25%. O mercado especulava que a Bayer poderia comprar outra empresa farmacêutica. Mas, com a Monsanto, optou por se voltar estrategicamente para o agronegócio, que se tornará o principal negócio da Bayer/Monsanto, seguido do setor farmacêutico. “A Monsanto tem muita tecnologia na área da biologia, das sementes, e a Bayer quer oferecer soluções para o agricultor”, diz Loo. Ele se refere ao reposicionamento da empresa. Historicamente uma gigante química e farmacêutica, a Bayer está se transformando em uma empresa de pesquisa biológica ou ciências da vida. Tem atualmente quatro grandes negócios: farmacêuticos, sementes, saúde humana e saúde animal. No Brasil, o peso das áreas se inverte em relação à matriz: 25% para a área de saúde, 75% para o agronegócio. E é aí que a Bayer pretende avançar nas Américas. Oferecendo soluções para os produtores.

“Não é só vender produtos”, diz Theo van der Loo. “A semente é vista como um investimento para o agricultor. O carinho que ele tem por uma boa semente é enorme. A parte do agroquímico é uma despesa que ele vai ter dependendo do clima, das pragas. Quanto menos ele usar, melhor. Em vez de gastar com o agroquímico, vai gastar mais com tecnologia. A Bayer quer ser um parceiro do agricultor para aumentar a eficiência e o resultado do trabalho dele, e não só vender produtos.“

No Brasil – onde está há 120 anos –, a empresa tem 4 mil funcionários e vem mantendo o investimento anual entre R$ 160 milhões e R$ 200 milhões, principalmente na modernização das instalações e laboratórios. A receita em 2016 foi de R$ 7,9 bilhões, contra R$ 9,6 bilhões em 2015. O executivo disse que, por causa da crise, a empresa sentiu queda na venda de produtos farmacológicos sem necessidade de receita. Este ano também tem sido desafiador. “O uso do agroquímico reduziu. Está tendo um problema de estoque alto no mercado. A gente está sentindo um pouco de dificuldade nesse momento, mas é pontual.” Para 2018, já há sinais bem positivos de retomada de vendas, segundo ele. A principal fábrica da empresa fica em Belford Roxo (RJ), com 2 milhões de m2, e o setor de pesquisa, chamado de Centro de Expertise em Agricultura Tropical (Ceat), está localizado em Paulínea (SP) . “Com a chegada da Monsanto a meta é aumentar o investimento em pesquisa. Imagino que uma parte desse investimento virá para o Brasil”, afirma o executivo. O país é o quinto em importância para a Bayer. Se for levado em conta apenas o agronegócio, fica atrás apenas dos Estados Unidos. E com potencial promissor de crescimento, já que aqui é possível haver duas safras anuais, contra apenas uma na América do Norte. “Com a chegada da Monsanto, se tudo der certo, o Brasil vai se tornar ainda mais importante para a Bayer no cenário global”, diz.

*Esta reportagem foi originalmente publicada na edição de número 65 da revista LIDE, em 01/11/2017.