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SÃO PAULO – Os últimos anos não foram fáceis para a BRF (BRFS3). Desde 2016, a companhia sofreu com problemas de gestão, Operação Carne Fraca da Polícia Federal e a saída tumultuada do Abílio Diniz. Mas, em 2019, as coisas parecem dar os primeiros sinais de melhora.
Às 13h47 (horário de Brasília) desta sexta-feira (9), as ações da BRF subiam 5,5% depois da divulgação do resultado do segundo trimestre deste ano, após chegarem a subir 9% no início da sessão. No ano, os ativos já sobem 75%.
A empresa registrou no período um lucro líquido de R$ 191 milhões nas operações continuadas, revertendo prejuízo de R$ 1,466 bilhão no segundo trimestre do ano passado. O lucro líquido societário total ficou em R$ 325 milhões.
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Outro ponto muito destacado pelos analistas foi o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) da companhia. O dado atingiu R$ 1,22 bilhão excluindo o ganho de R$ 328 milhões referente a ações tributárias.
Boa parte do bom resultado se deve à crise de peste suína africana, que afeta rebanhos de porcos na China. Em relatório, os analistas Christine McCracken, Chenjun Pan e Justin Sherrad, do Rabobank, destacam que a produção chinesa de carne suína deve cair de 25% a 35% por conta da epidemia.
Aos chineses, restará a importação como forma de compensar esse choque na oferta, o que beneficia as empresas brasileiras envolvidas na exportação de carne.
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“Embora a ação já tenha precificado grande parte da tendência positiva à frente, acreditamos que os resultados de hoje podem ajudar a impulsionar o movimento e levar a uma revisão adicional dos lucros”, avalia a analista da XP Investimentos, Betina Roxo.
Betina explica que o Ebitda ajustado das operações da empresa no Brasil ficou em linha com as estimativas da XP, de R$ 462 milhões, devido aos preços 15% mais altos na comparação anual, que compensaram a queda de 4% no volume de vendas.
Todavia, o que realmente surpreendeu foi o desempenho das operações voltadas ao mercado externo. A exportação de carne para países árabes teve um Ebitda de R$ 370 milhões, bastante superior aos R$ 321 milhões projetados pela equipe da XP.
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“Anualmente, os volumes ficaram estáveis e as receitas aumentaram 13% com os preços mais altos”, comenta.
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Betina aponta que isso se deve ao número limitado de fábricas licenciadas para exportar para a Arábia Saudita que restringiram a oferta de produtos, aumento de preços na Turquia, após um cenário desafiador de controle de preços, devido à alta inflação e ganho de participação de mercado na categoria de alimentos processados, cujos preços médios são superiores aos produtos in natura.
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O Ebitda para outros mercados internacionais também surpreendeu, atingindo R$ 323 milhões, contra R$ 196 milhões esperados. Nesse caso sim o maior efeito foi da peste suína africana na China.
No contexto de propagação da doença, o volume vendido da BRF para os chineses praticamente dobrou, com os preços em dólar subindo em 56,1%. O Japão e a Coreia do Sul também aumentaram suas importações.
Para o Itaú BBA, o resultado da BRF foi “muito positivo” e “impressionante à primeira vista”, sendo o melhor em quatro anos.
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“Existem vários fatores não recorrentes, mas nosso primeiro olhar é que mesmo o Ebitda com ajuste ficou 20% acima do consenso”, destaca o analista Antonio Barreto.
Os números fortes da BRF também surpreenderam os analistas Leandro Fontanesi e Tiago Mello, do Bradesco BBI. Em relatório, eles escrevem que a desalavancagem, que levou o múltiplo dívida líquida sobre o Ebitda a 3,7 vezes, das 5,6 vezes no primeiro trimestre de 2019, justifica uma revisão no modelo de avaliação do preço das ações da companhia (valuation).
A equipe do Bradesco elevou o preço-alvo de BRF em 2020 de R$ 44,00 para R$ 50,00, o que significaria uma valorização de 29% sobre a cotação de fechamento das ações no último pregão. Os papéis são os preferidos do banco no setor de alimentos.
Assim, depois de constantes decepções com os balanços, finalmente a companhia animou ao divulgar seu resultado – os investidores agradecem.