Beep: startup que aplica exames e vacinas em casa recebe investimento de R$ 110 milhões

Negócio de saúde domiciliar pretende ampliar faturamento de R$ 55 milhões para R$ 140 milhões neste ano. Aporte aprofundará vertical de exames laboratoriais

Mariana Fonseca

Vander Corteze, da Beep Saúde (Divulgação)

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SÃO PAULO – A pandemia beneficiou negócios que prometem conveniência por meio da entrega a domicílio – inclusive em segmentos nos quais o delivery não é tão comum, como a saúde. A Beep Saúde leva vacinas e exames para residências desde 2016. Mas viu o interesse de clientes e de investidores aumentar desde o último ano.

A startup de saúde, ou healthtech, anuncia nesta quarta-feira (14) a captação de R$ 110 milhões. O aporte foi liderado pelo fundo de capital de risco (venture capital) Valor Capital Group. O InfoMoney conversou com Vander Corteze, fundador da healthtech, sobre os planos do empreendimento. A Beep pretende usar os novos recursos para acelerar seu crescimento, especialmente na vertical de exames, e faturar R$ 140 milhões em 2021.

Beep: exames e vacinas em casa

Apesar de ter se formado em Medicina, Vander Corteze preferiu seguir o caminho do empreendedorismo. A Beep é sua segunda empreitada; ele criou antes criou o Grupo BR MED. A rede de clínicas de medicina do trabalho faz exames admissionais e demissionais e tem centenas de funcionários. Após dez anos no negócio, Corteze deixou de atuar no dia a dia e virou acionista e presidente do conselho de administração do Grupo BR Med.

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A decisão foi tomada porque Corteze estava de olho em outra tendência: a de comprar pelo celular e receber os pedidos em casa o mais rápido possível. “Tínhamos exemplos como Amazon, iFood, Magazine Luiza e Mercado Livre. O problema é que não havia uma solução reconhecida para a saúde nesses moldes, mesmo que o setor represente quase 10% do nosso Produto Interno Bruto”, diz o fundador da startup.

A Beep nasceu em 2016. Por meio de um aplicativo para Android ou para iOS, o usuário pode agendar a aplicação de uma vacina ou realização de um exame laboratorial no próprio domicílio.

Para Corteze, a diferença entre os serviços da startup e os agendamentos de coleta domiciliar em laboratórios tradicionais está na experiência do usuário e no preço final de vacinas e exames.

“O usuário não precisa ligar para centrais na Beep, enquanto os líderes na saúde estão ocupados demais com substituir sistemas legados e integrar aquisições para desenvolver uma solução de atendimento mais conveniente. Também prezamos por disciplina em horários e protocolos, com enfermeiras e motoristas exclusivos e contratados pelo regime CLT”, diz Corteze.

O fundador afirma que o preço dos serviços de saúde realizados pela Beep é similar ao praticado presencialmente nos laboratórios. Não há taxas adicionais por conveniência. A vacina contra gripe quadrivalente custa R$ 150; a vacina contra Hepatite A + B para adultos, R$ 220; e a vacina contra HPV quadrivalente, R$ 570.

“Somos metade cuidados com a saúde, metade logística. Usamos tecnologia para sermos eficientes e chegarmos na casa das pessoas cobrando igual ou mais barato do que as clínicas. Mantemos nossa margem ao trocar custo imobiliário por uma organização precisa do atendimento.”

A pandemia acelerou a procura por procedimentos de saúde em casa. “Uma métrica que mostra esse movimento é nosso custo de aquisição do cliente [CAC], que despencou”, diz Corteze. A Beep começou a oferecer testes para Covid-19 a partir de setembro de 2020. O exame de sorologia custa R$ 280 (para saber se o paciente já contato com o vírus), enquanto o exame RT-PCR sai por R$ 340 (para saber se o paciente tem Covid-19 no momento).

A Beep alcançou a marca de 20 mil atendimentos mensais em março de 2021, atendendo mais de 100 cidades. A Beep tem 500 funcionários e opera em regiões como Distrito Federal, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. A vertical de vacinas atende todos esses locais, enquanto a de exames domiciliares está apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Novo investimento e planos de expansão

A Beep captou duas rodadas de investimentos antes do aporte anunciado nesta quarta-feira (14). A captação semente de R$ 5 milhões e a rodada série A de R$ 17,5 milhões vieram de anjos como David Vélez (da fintech brasileira Nubank) e Vivek Garipalli (da healthtech americana Clover Health), e de fundos como DNA Capital (que tem como investidor a família Bueno, controladora de ativos do laboratório Dasa), Endeavor Catalyst e inovaBra (do Bradesco).

“Nas duas primeiras captações buscamos experiência em saúde e conexões com quem entende do setor. Agora buscamos experiência em crescimento acelerado”, diz Corteze. A rodada série B de R$ 110 milhões foi liderada pela Valor Capital Group. O fundo de capital de risco investiu em negócios como Gympass, Loft e Stone.

“Antes da pandemia, não se tinha tanta certeza em relação à demanda e perspectiva dos serviços prestados por healthtechs. Durante todo o ano passado, as incertezas foram quebradas, mudando hábitos que certamente nunca voltarão completamente às suas origens. Não à toa, 2020 foi marcado por diversos aportes realizados em startups do setor de saúde”, escreveu em comunicado Michael Nicklas, sócio operador da Valor Capital Group.

Segundo dados da plataforma de inovação Distrito, as healthtechs captaram US$ 106 milhões em 2020. O valor representa alta de 70% sobre 2019. O país tem 671 startups que atuam com saúde.

A captação colocou uma avaliação de R$ 670 milhões para a Beep. O negócio faturou R$ 55 milhões em 2020, e projeta faturar R$ 140 milhões em 2021.

O objetivo de longo prazo da Beep é se tornar um balcão único de cuidados com a saúde (one stop shop). O aporte vai consolidar a frente de vacinas, que já atingiu seu ponto de equilíbrio, e acelerar a frente de exames domiciliares. Essa vertical de testes é mais coberta pelos planos de saúde do que a de vacinas, permitindo que a Beep amplie atendimentos e cresça de maneira mais acelerada.

A startup levará exames domiciliares para além do Rio de Janeiro e de São Paulo. Também operará com vacinas e exames nos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais. Outras verticais estudadas pela healthtech são aplicações intramusculares ou venosas para tratamentos crônicos que não precisam de internação.

A meta é chegar a 300 mil atendimentos no acumulado de 2021, atendendo mais de 200 cidades. Para isso, a Beep está com 300 vagas abertas. A startup espera passar dos 1.000 funcionários neste ano, especialmente com a contratação de mais enfermeiras e motoristas. Para a Beep, o potencial da conveniência na saúde ainda precisa ser escalado.

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Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.