Após tempos difíceis, RD chega a “ponto de inflexão” e ação salta 9%: até onde ela pode ir?

Mais uma vez, analistas se dividem entre quem vê que ação está cara após superar os R$ 94 e aqueles que acreditam em um impulso ainda maior para os papéis

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Depois da tempestade, a euforia. Em um dia de forte volatilidade na bolsa, quem mais comemora (e durante toda a sessão) são os investidores das ações da RD (RADL3), que saltaram até 8,72%, a R$ 94,04, nesta quarta-feira (7). 

Esse movimento ocorreu após o resultado do segundo trimestre, considerado um ponto de inflexão por muitos analistas ao apresentar crescimento de vendas nas mesmas lojas (SSS) acima da inflação, ganho de participação de mercado e melhora das margens. 

Os investidores já esperavam por uma forte recuperação da líder farmacêutica no Brasil, com os papéis subindo mais de 50% ante a alta de 16% do Ibovespa até a sessão da véspera.

Continua depois da publicidade

No último dia 6, os papéis eram cotados a R$ 86,50, em um movimento de forte recuperação após chegar aos R$ 56 nos primeiros pregões do ano.

A queda ocorria desde o final de 2017, quando a ação chegou aos R$ 91, com as casas de análise revisando cada vez mais as suas recomendações para baixo. 

A maior preocupação era o aumento da concorrência, que havia registrado  uma dimensão ainda maior, levando a uma mudança estratégica para a líder do mercado. Em um primeiro momento, o grande fator para se atentar era a expansão das grandes empresas do setor farmacêutico, como o Grupo DPSP (controlador da Pacheco e Drogaria São Paulo), Extrafarma e Pague Menos.

Porém, ao longo de 2018, o que se revelou foi uma ameaça onde muitos não esperariam: das farmácias menores, de bairro, e que passaram de possíveis vítimas em meio ao processo de consolidação para uma fonte de risco. Elas passaram a se unir, tendo maior poder de barganha e desafiando a estratégia da RD. 

Desta forma, a gigante do setor de farmácias mudou. Ela apresentou um novo formato de lojas – maiores, de 120 a 140 metros quadrados – com maior penetração de genéricos com preço de mercado e marcas próprias. Além disso, acabou com o formato da Farmasil, criada em 2013 com foco na renda mais baixa, transformando-a em farmácias com a marca Raia ou Drogasil.

Ao que tudo indica, a nova estratégia deu certo: a RD voltou a registrar vendas mais aceleradas no segundo trimestre após períodos de desaceleração, com alta de 8% na base anual. 

Contudo, Stephen Duvignau, gestor da Fama Investimentos, asset que possui uma posição de longa data em RADL3, avalia ser difícil destacar qual foi o ponto determinante para a forte recuperação da companhia. 

Afinal, além da recuperação do espaço que as pequenas estavam conseguindo conquistar, as concorrentes maiores como a Extrafarma e a Drogaria São Paulo mostraram estratégia menos agressiva e revisão na abertura de lojas, o que ajudou na recuperação de mercado recorde de 1,6 ponto percentual de um ano para o outro.

Sobre o assunto, a própria varejista destacou que já consegue prever canibalização de suas lojas e que o movimento observado em 2017, com abertura de lojas por rivais, está em um processo de “reversão completa”, com as concorrentes fechando pontos. Isso porque elas se alavancaram para crescer, mas não atingiram os resultados esperados. 

“Mas o que o mercado mais gostou é que a companhia identificou problemas, desenhou uma estratégia para resolvê-los e colocou em prática, o que é a comprovação da capacidade de gestão da RD”, afirma Duvignau. 

Assim, como reforça o Brasil Plural, após uma série de perdas de margens e de crescimento lento de vendas nas mesmas lojas, a varejista de medicamentos conseguiu manter seu perfil de rentabilidade, ao mesmo tempo em que começou a mostrar seus primeiros sinais de crescimento mais consistentemente acima da inflação. 

Seja sócio das melhores empresas da Bolsa: abra uma conta na Clear com taxa ZERO para corretagem de ações

“Embora o forte ritmo de expansão continue deteriorando uma pequena parte das margens, vemos isso como natural”, apontam os analistas. 

Para frente, conforme as novas lojas abertas nas regiões Norte e Nordeste comecem a entrar no portfolio de lojas maduras da RD, a expectativa da equipe de análise do Brasil Plural é de um aumento significativo no SSS de lojas maduras, permitindo que a empresa acelere sua geração de alavancagem operacional. 

E o valuation?

Uma questão que sempre permeou os investidores é em relação ao valuation da RADL3, que mesmo em seus momentos de baixa era vista como uma ação cara. 

A polêmica, por sinal, continua, com analistas e gestores se dividindo sobre se a alta já atingiu o limite ou se ainda há espaço para mais ganhos. 

De um lado, o Bradesco BBI mantém sua visão conservadora para a empresa devido as preocupações na habilidade da farmacêutica de manter níveis de rentabilidade compatíveis com seus níveis atuais de valuation. 

O Credit Suisse também esboça preocupação, apontando que o nível atual incomoda por acreditar que já precifica a execução bem acima da média da RD. 

Por outro lado, o Brasil Plural reforça, apesar do alto múltiplo de 45 vezes o preço sobre lucro esperado para 2020, a recomendação segue overweight (exposição acima da média do mercado) por acreditar que representa a oportunidade de comprar uma empresa de qualidade com uma execução forte e um upside atrativo de 16% (frente o fechamento de terça). Mas, vale destacar, que o preço-alvo é de R$ 100. Ou seja, o papel já está bem próximo a esse valor histórico. 

O Itaú BBA também segue com recomendação outperform tendo em vista um cenário um pouco mais construtivo refletindo o forte dinamismo operacional. 

Duvignau, por sua vez, não projeta um preço-alvo, mas aponta que a ação da companhia pode alcançar patamares ainda maiores, em um ambiente em que ela se apresenta como uma das melhores teses da bolsa brasileira. 

Afinal, além da melhora em suas operações, a tese de maiores ganhos tanto por um ambiente econômico mais favorável quanto pelo envelhecimento populacional segue contando pontos positivos para quem quer investir em ações da RD. 

Soma-se a isso o fato da gestão da companhia ter mostrado, como apontou ela mesma em teleconferência, que aprendeu com os erros do passado. 

Conforme apontou Eugenio De Zagottis, diretor de planejamento da companhia, a companhia seguirá competitiva em preços: “no passado, mesmo mantendo boa execução [nas lojas], éramos mais caros que os concorrentes, mas isso ficou para trás”.

Quem confiou na gestão da companhia mesmo nos momentos mais difíceis, de forte competição, embolsou fortes ganhos. Agora, com o cenário mais positivo, a questão volta a ser: até onde as ações podem ir? A ação ainda é vista como cara, mas há quem veja que ela possa atingir novos recordes. 

 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.