Após “novela” com Portugal Telecom, Oi pode perder oportunidade única em leilão 4G

Com uma alavancagem maior após o calote que a PT sofreu da Rioforte, a companhia brasileira deve ter dificuldades em conseguir alguma aquisição no leilão de licenças 4G este ano

Bloomberg

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Quando a Oi SA (OIBR4) anunciou sua fusão com a Portugal Telecom SGPS SA no ano passado, o CEO Zeinal Bava disse que a nova empresa poderia aproveitar melhor as oportunidades de crescimento no Brasil. Analistas do Citigroup Inc. e do Macquarie Group Ltd. dizem que provavelmente a empresa perca sua chance.

Perdas surgidas da posse de 897 milhões de euros (US$ 1,2 bilhão) em notas promissórias de uma empresa que caloteou pela Portugal Telecom aumentarão a alavancagem da companhia combinada. Isso dificulta à Oi concorrer em um leilão de licenças 4G neste ano que o analista do Credit Suisse Group AG Andrew Campbell chamou de “oportunidade única”. O Brasil também contava com a Oi para ajudar a impulsionar a consolidação entre as operadoras, disse um funcionário do governo que pediu não ser identificado porque as discussões com empresas são privadas.

Em uma teleconferência realizada em outubro antes que a fusão por US$ 14 bilhões fosse anunciada, Bava disse que ele aumentaria o fluxo de caixa, melhoraria a supervisão corporativa e reduziria o endividamento da Oi. Agora, depois do calote da devedora da Portugal Telecom, o acordo está aumentando a alavancagem da empresa com sede no Rio de Janeiro, lhe custou uma nota de crédito com grau de investimento e atraiu críticas do BNDES, que disse que a empresa não possuía uma boa governança corporativa.

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‘Atrativo de venda’
“O atrativo de venda para aquela fusão era uma melhor governança em toda a empresa e essa situação financeira melhorada para a companhia”, disse Cristiano Guerra, diretor de pesquisa sobre a América Latina e os EUA na empresa conselheira de acionistas Institutional Shareholder Services Inc., em Rockville, Maryland. Em vez disso, a empresa “recebeu um downgrade da sua nota, e esse problema em Portugal teve impacto na sua alavancagem”, disse ele.

O governo do Brasil apoiava a ideia de que a Oi liderasse uma fragmentação da Tim Participações SA, a segunda maior operadora de telefonia celular do Brasil, segundo o funcionário do governo. O plano surgiu de uma decisão do regulador antimonopólio do Brasil tomada em dezembro de que a operadora Telefônica SA devia reduzir sua participação na dona da Tim, a Telecom Italia SpA, e vender parte da sua própria unidade, a Vivo – exceto se conseguir persuadir a Telecom Italia a vender a Tim.

Na semana passada, a Rioforte Investments SA, subsidiária da Espírito Santo International, não amortizou a dívida de curto prazo que tinha com a Portugal Telecom, levando a uma renegociação dos termos de fusão com a Oi. A Portugal Telecom teria obtido até 39,6 por cento da nova empresa, conhecida como CorpCo, e agora receberá uma participação de 25,6 por cento, segundo um documento regulatório.

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Nota junk
Após o calote da semana passada e os novos termos da fusão, a Standard Poor’s e a Fitch Ratings rebaixaram a nota da Oi para junk. A S&P antecipa que a alavancagem da empresa combinada tenha uma razão de mais de 4 vezes os lucros, disse Luísa Vilhena, analista primária de créditos para a Oi da S&P em São Paulo, em entrevista por telefone. Analistas do Citigroup e do Credit Suisse também prognosticam uma razão de cerca de 4.

“O não pagamento das notas comerciais pela Rioforte foi o principal fator que levou ao downgrade”, disse Vilhena. “Quando olhamos para a companhia após o default e vemos que quase 3 bilhões de reais não constam mais em caixa no seu balanço — dinheiro que era considerado para reduzir alavancagem –,isso fez com que as métricas da empresa ficassem ainda mais pressionadas”.

Uma consolidação, como por meio de uma fragmentação da Tim, é uma das duas formas com que a Oi pode ter sucesso, disse Campbell do Credit Suisse. A outra é mediante uma reforma da gestão impulsionada por Bava, primeiro CEO da Oi com experiência de longo prazo nas telecomunicações, disse ele.