Apenas 10% das médias empresas no Brasil têm planejamento de longo prazo, revela pesquisa

Ausência de um modelo de gestão eficiente e controle de resultados dificultam o desenvolvimento desses negócios

Pablo Santana

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SÃO PAULO – Uma pesquisa realizada pela consultoria Falconi revelou a fragilidade na gestão das médias empresas no Brasil, que são aquelas que faturam anual entre R$ 4,8 milhões e R$ 300 milhões.

Segundo o levantamento, entre as 100 empresas entrevistadas, apenas 10% declararam ter uma estratégia bem definida para os próximos três a cinco anos, com visão, missão, objetivos e metas definidas para o desenvolvimento do negócio.

Cerca de 47,6% das lideranças ouvidas pontuaram que não possuem ações de médio e longo prazo definidas, mas veem a necessidade de ter um planejamento estratégico – o que indica que falta maturidade na gestão das médias empresas.

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Com a retomada gradual da atividade econômica, a ausência de uma gestão bem definida aumenta ainda mais as dificuldades dessas empresas, que já se encontram em posição de vulnerabilidade maior por conta da crise causada pela pandemia de coronavírus.

Ao analisar seu momento atual, 44,1% das empresas afirmaram que apresentam crescimentos tímidos e 20,9% delas disseram que estão estagnadas ou em declínio.

“Muitas empresas sofreram queda de receita e no faturamento de maneira muito relevante e isso impactou os seus desempenhos. A gestão entra para aprimorar e melhorar os processos, seja para tentar preservar a receita e os seus patamares, ou para adequar outras alavancas de geração de valor e resultado, que ajudarão nessa retomada”, explica Flávia Maia, diretora da Mid, plataforma de serviços de gestão da Falconi, voltada para empresas de médio porte.

Para Flávia, a ausência de um modelo de gestão efetivo, do nível estratégico ao operacional, na maioria dessas empresas não é uma surpresa. Uma das características mais comuns entre os negócios desse porte, segundo a executiva, é que ao focar as suas ações para tornar a empresa lucrativa, os empreendedores acabam negligenciando ou deixando em segundo plano alguns elementos da gestão.

A prova disso é que 62,7% das empresas ouvidas no estudo disseram que têm um modelo de gestão, mas não o consideram eficiente, e quase 20% delas não possuem nenhum modelo de gestão definido.

Um modelo de gestão estruturado é fundamental para que a empresa consiga fazer com que os seus colaboradores direcionem esforços, de maneira conjunta e coesa, para atingir os objetivos definidos, melhorar os processos de trabalho e gerar conhecimento para continuar a expansão do negócio.

Apesar da importância, apenas 5% das médias empresas revelaram ter um modelo de gestão estruturado. “Percebemos que, apesar do público diverso e dos diferentes níveis de maturidade existentes, alguns elementos mais básicos de gestão ainda não estão presentes em algumas médias empresas”, diz Flávia.

Essa falta de profissionalização na gerência dos negócios se torna uma barreira para o crescimento.

“Enquanto o gestor não profissionaliza seu time e alinha a performance de todos, ele cria uma limitação da própria liderança para que essas empresas continuem crescendo. São empresas que ‘performam’ numa linha de crescimento interessante, mas que começam a encontrar nessa falta de profissionalização um gargalo para seguir nesse caminho de ascensão”, complementa Flávia.

Falta de propósito

A pesquisa revelou também que, embora 73,8% das médias empresas tenham definido prioridades para este ano, essas metas não estão fundamentadas no longo prazo. “Há o risco de a companhia estar priorizando iniciativas em diferentes direções, ou até mesmo em contradição com os movimentos de mercado”, alerta a diretora da Mid.

Além de definir os caminhos da companhia e dos seus gestores, é importante que todo o time faça parte do processo. A pesquisa mostra que 76% das médias empresas não têm metas desdobradas para todas as suas áreas ou não possuem metas. Nas grandes companhias, a Falconi diz que o número de empresas sem metas desdobradas para todas as suas áreas de trabalho é de 45%.

Dentre as empresas que têm metas definidas: 31,7% não adotam nenhum indicador, como benchmarks (para checar o desempenho médio concorrência) ou lacunas (diferença entre o melhor resultado e a média do período) para elaborar as metas; 51,2% definem algumas dessas metas com base em análises; e só 14,6% baseiam todas as metas em indicadores.

Em relação ao plano de ações para atingir os resultados, 61,9% das empresas relataram que só algumas áreas da empresa possuem esse tipo de estratégia. Cerca de 33,3% não trabalham com a elaboração de nenhum plano de ação e prazos para alcance das metas; e 4,7% aplicam esses conceitos em todas as áreas.

“A maturidade da gestão é bem menor nas médias do que nas grandes companhias. A maioria das empresas ainda é muito carente de elementos básicos de uma boa gestão porque a prioridade delas até aqui era crescer e esse crescimento ocorre de uma maneira desordenada”, diz Flávia.

Além da existência de metas para definir os rumos e o cuidado com os indicadores na qual elas são baseadas, a especialista recomenda que as empresas pensem também no controle e na governança desses resultados.

Cerca de 47% das médias empresas já têm reuniões da alta liderança para controle de resultados, mas a pesquisa revelou que elas não acontecem em todos os níveis hierárquicos da empresa, o que dificulta que cada colaborador tenha autonomia e controle sobre suas metas.

Só 9,5% das médias empresas ouvidas afirmaram que possuem ações voltadas à governança do nível operacional até o estratégico.

“É preciso desafogar a alta liderança de questões operacionais para o foco em assuntos estratégicos. Infelizmente, essa ainda não é a realidade das médias empresas. Apenas uma em cada dez empresas possui esse tipo de governança em todos os níveis. Sem essa governança que garanta a execução dos planos, o alcance das metas ou a correção de rumos para criar medidas ágeis, as empresas não conseguem se desenvolver e ir para o próximo passo que é se tornar uma grande empresa”, pontua Flávia Maia.

Pablo Santana

Repórter do InfoMoney. Cobre tecnologia, finanças pessoais, carreiras e negócios