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SÃO PAULO – “Ele não sabe direito o que é, mas não gosta muito não”. Essa frase foi proferida em setembro de 2017 na TV Cultura pelo então CEO da Riachuelo, Flávio Rocha, ao falar sobre o que o seu pai, Nevaldo, achava sobre a ida da Guararapes (GUAR3), controladora da varejista, para o Novo Mercado. Este é o maior segmento de governança corporativa da Bolsa, contando somente com ações ordinárias, e entrar nesse seleto grupo poderia corresponder a entrada de novos investidores na empresa.
Contudo, tal frase dita por Flávio Rocha apontava para a oposição do patriarca da família e fundador da companhia para que ela deixasse de ser uma empresa predominantemente familiar (por exemplo, ela tem apenas três conselheiros, os filhos de Nevaldo) e passasse a aumentar ainda mais a sua transparência e relação com o mercado.
Essa resistência fez com que a companhia sempre ficasse para trás na comparação com outras companhias do setor varejista – como Lojas Renner (LREN3) -, tanto em termos de valuation quanto em termos de liquidez, apesar dos bons fundamentos. Vale destacar que, atualmente, 89,7% das ações preferenciais e 75,6% das ações ordinárias estão com Nevaldo e seus filhos Flávio, Élvio e Lisiane.
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Porém, Nevaldo sinalizou ao mercado que mudou de ideia na noite de terça-feira, quando a Guararapes soltou um comunicado que surpreendeu a muitos ao informar que o seu Conselho aprovou a conversão das ações preferenciais em ordinárias na proporção de um para um. Apesar de não citar uma possível migração para o Novo Mercado, a expectativa é de que isso acontecerá, até mesmo pelas sinalizações passadas de Flávio Rocha.
Na mesma entrevista para a TV Cultura no ano passado, ele destacou: “nós não estamos ainda no Novo Mercado, apesar de termos todas as condições de estar. Isso impede que fundos importantes tenham acesso à nossa ação”, avaliou, para depois admitir, mesmo que indiretamente, que um dos pontos de resistência era justamente familiar. Ou seja, a entrada no Novo Mercado pode ser apenas uma questão de tempo.
Para isso, a família Rocha teria que se desfazer de uma pequena parte de suas ações, uma vez que a regra da B3 para adesão ao Novo Mercado é de que pelo menos 25% do capital seja detido pelos acionistas não-controladores.
Tal “desapego” de Nevaldo já rendeu bons frutos logo na sessão desta quarta-feira, com os papéis ordinários (GUAR3) chegando a saltar 7,21% na máxima do dia, enquanto os ativos preferenciais (GUAR4) chegaram a subir 16,73%, em meio a avaliações bem positivas sobre o anúncio.
Conforme destaca o Itaú BBA, o anúncio da conversão de ações, mesmo que a empresa ainda não mencione a migração para o Novo Mercado, é um passo importante e já é razão suficiente para aumentar a liquidez das ações. “Como vemos a liquidez como a principal questão que retém os múltiplos das ações, acreditamos em um re-rating”, avalia a equipe de análise.
Já para o Brasil Plural, a medida pode levar a empresa à uma nova fase e mostra que a Guararapes está sim disposta a se aproximar do mercado. Porém, eles ponderam: a companhia ainda enfrenta alguns desafios em relação à fase de desenvolvimento de novas categorias e com o retorno da margem operacional – principalmente em suas operações de varejo – e um aumento mais evidente de crescimento de vendas nas mesmas lojas.
Os analistas do banco possuem recomendação equalweight (desempenho em linha com a média do mercado), com preço-alvo de R$ 110,00 para as ações ordinárias para o ano de 2019, o que representaria uma queda expressiva, de 28%, levando em consideração a alta dos papéis nesta quarta. De qualquer forma, a expectativa já era de uma forte variação positiva dos papéis nesta sessão.
Vale destacar que a conversão de ações ainda depende da aprovação dos acionistas que possuem ações ordinárias e preferenciais em Assembleia, mas somente o anúncio fez com que o mercado vislumbrasse uma nova era para a empresa, principalmente com relação à alocação de capital, que pode ter forte melhora.
Aos 89 anos, seu Nevaldo, o criador da Riachuelo que acabou tornando a companhia uma das maiores varejistas do País, agora pode ser o grande responsável por reinventar a empresa e atrair mais sócios para ela. Os investidores estão agradecendo.
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